Tuberculose: Uma batalha perdida?

No Dia Mundial de Combate à Tuberculose, Médicos Sem Fronteiras pede que mais investimentos sejam feitos para tratar a doença

A organização médica internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF) divulgou nesta sexta-feira estatísticas mostrando que, mesmo sob condições otimistas, o tratamento será eficaz em apenas quase que metade dos pacientes com tuberculose multirresistente a medicamentos (MDR-TB, na sigla em inglês).

A pesquisa e desenvolvimento insuficiente de novos medicamentos e diagnósticos deixou os agentes de saúde sem as ferramentas apropriadas para tratar a doença, abrindo caminho para que alguns pacientes desenvolvam TB extensivamente resistente a medicamentos (XRD-TB, na sigla em inglês), independentemente da qualidade de tratamento que recebam. A situação é particularmente alarmante quando se trata de cuidar das pessoas co-infectadas com TB e HIV.

"Quando a resistência a maioria das drogas contra TB aparece, somos forçados a voltar atrás e a usar as mais antigas e menos eficazes", contou a Drª Jessica Adam, que trabalha no programa de MSF no Uzbequistão. "Isso significa um tratamento muito mais longo e caro, que pode custar até US$ 15 mil, feito a base especialmente de medicamentos que são muito tóxicos: os efeitos colaterais são simplesmente horríveis".

Desde 1999, MSF tem investido em recursos consideráveis, oferecendo um grande apoio, para tratar 570 pacientes com MDR-TB na Armênia, Abkhazia, Geórgia, Camboja, Quênia, Tailândia, Uganda e Uzbequistão. Apesar desses esforços, apenas 55% desses pacientes completam o tratamento que dura entre 18 e 24 meses. Os 45% restantes morreram, não apresentaram melhoras ou não apareceram por causa dos efeitos colaterais, isolamento e outras dificuldades de tolerância ao tratamento.

Diagnosticar o MDR-TB também é extremamente difícil. A maior parte dos locais menos favorecidos não tem acesso aos equipamentos sofisticados necessários. Mas mesmo no melhor dos cenários, leva-se até oito semanas para chegar a algum resultado. Para os pacientes co-infectados pelo HIV que já estão doentes, tais atrasos podem significar a diferença entre a vida e a morte.

"Em lugares onde vemos muitos pacientes com HIV/Aids, o risco da MDR-TB se espalhar como um incêndio é assustador, mas bastante provável", afirmou o Dr. Liesbet Ohler do projeto de MSF em Mathare, uma favela perto de Nairóbi. "Tratar MDR-TB e HIV simultaneamente é extremamente frustrante devido às muitas combinações dos medicamentos e os efeitos colaterais em potencial, sem contar com o grande número de comprimidos que os pacientes têm que tomar todos os dias. Com as ferramentas que temos hoje, estamos combatendo uma batalha perdida".

A epidemia de XDR ocorrida na África do Sul no ano passado fez com que a comunidade internacional se preocupasse com a extensão da crise e com a urgência de soluções. Ações concretas precisam ser tomadas. A Organização Mundial de Saúde (OMS) precisa assumir a liderança para desenvolver novas estratégias contra a doença.

Apesar da situação urgente, os esforços de pesquisa atuais não estão acompanhando a necessidade de melhores testes, medicamentos e vacinas. Uma análise realizada por MSF sobre o programa de pesquisa e desenvolvimento de tuberculose indicou que nenhum dos compostos em desenvolvimento atualmente vai conseguir diminuir drasticamente o tratamento, medida necessária para conter a doença.

Da mesma maneira, os diagnósticos em desenvolvimento não serão simples de usar em locais de poucos recursos e não serão eficazes para a detecção da doença. Há uma grande lacuna no financiamento de pesquisa e desenvolvimento para tuberculose, calcula-se a necessidade de verbas de US$ 900 milhões anualmente, mas apenas US$ 206 milhões estão sendo investidos.

"MDR-TB e agora XDR-TB são a ponta de um iceberg de estratégias falhas para controlar a tuberculose. Nós precisamos desesperadamente de novas ferramentas e precisamos delas agora – não podemos apenas sentar e esperar", afirma o Dr. Tido von Schoen-Angerer, diretor da Campanha de Acesso a Medicamentos Essenciais de Médicos Sem Fronteiras. "Não há uma solução pronta e fácil, mas isso não é uma desculpa para não agir".

"Um passo importante é testar todos os medicamentos de tuberculose em desenvolvimento em pacientes com MDR. Essa seria uma maneira mais fácil de verificar se os novos compostos são eficazes para o tratamento de pacientes com TB regular e dar aos que sofrem de MDR a chance de um melhor tratamento. No momento, apenas um laboratório afirmou ter a intenção de desenvolver uma pesquisa sobre tuberculose MDR, enquanto os outros continuam em cima do muro. A OMS precisa garantir que esses estudos vão acontecer".

MSF trata atualmente de mais de 20 mil pessoas com tuberculose em mais de 40 países.

Compartilhar
Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin
Share on whatsapp
Share on print