‘Trabalho com paixão e dedicação em tudo que faço, mas aqui é especialmente gratificante’

Em Histórias de MSF, Zar Zar Lin Aung, médica da organização em Mianmar, fala sobre seu trabalho no atendimento a pessoas afetadas pelo terremoto

A médica Zar Zar Lin Aung atende Kaung Pyae Khant, de 4 meses de vida, em Bhone Oh. Mianmar, abril de 2025. © Lena Pflueger/MSF

Meu nome é Zar Zar Lin Aung. Sou médica e me inspirei no meu tio: ele é médico e tem uma abordagem holística da saúde, acreditando que a saúde física e a mental estão relacionadas. Ele sempre disse que, quando as pessoas estão doentes, elas estão também cansadas – não apenas fisicamente, mas mentalmente. Então sempre fez o possível para ajudá-las nesses dois aspectos. Isso me inspira desde criança. Naquela época, eu já ensinava para as pessoas sobre saúde. Depois me tornei médica. Gosto de pensar que estou seguindo os passos do meu tio, abordando a saúde não só pelo lado físico.

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Sou médica há nove anos (desde 2016). Nasci na cidade de Taung Gyi, no estado de Shan, Mianmar. Antes de vir a Mandalay para ajudar na resposta ao terremoto, eu atendia na minha cidade natal, em uma clínica particular. Quando houve o terremoto de magnitude 7,7, também sentimos os tremores em Taung Gyi. Algo assim nunca havia acontecido antes, e ficamos bastante chocados. Não muito tempo depois que aconteceu, comecei a ver notícias dizendo que Mandalay, Sagaing e Inle Lake foram regiões muito afetadas. Eu sentia muito pelas pessoas e queria ajudar, mas não sabia como me juntar à equipe de resposta ao terremoto.

A médica Zar Zar Lin Aung se juntou a MSF após o terremoto em Mianmar. ©MSF

Foi então que um amigo entrou em contato comigo dizendo que Médicos Sem Fronteiras (MSF) estava procurando médicos. Imediatamente, decidi largar meu emprego em Taung Gy e, sem hesitar, fui ajudar. Me inscrevi em MSF e recebi uma ligação do departamento de Recursos Humanos no dia seguinte. Em dois dias, cheguei em Mandalay. Tenho conhecimento médico e, como são habilidades muito necessárias nas áreas afetadas, fico feliz por poder colocá-las em prática onde é mais necessário. Minha principal motivação é que quero ajudar meus conterrâneos em Mianmar quando estiverem com problemas.

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Tratamos principalmente infecções de pele e doenças não transmissíveis, como diabetes e hipertensão. Até agora, nas áreas afetadas pelo terremoto, não houve nenhum surto de doenças transmitidas pela água ou por vetores, como diarreia aquosa aguda ou malária e dengue. Essas, porém, são apenas algumas das nossas preocupações, já que a estação das monções se aproxima.

Também atendemos pessoas que ficaram feridas durante o terremoto. Normalmente, elas recebem o primeiro tratamento nos hospitais locais e, depois, vêm até nós para um acompanhamento. Foi assim com um garotinho da cidade de Bhone Oh que atendi. Durante o terremoto, uma panela de água fervente caiu sobre ele, que sofreu queimaduras graves. Inicialmente, ele foi tratado no Hospital Geral de Mandalay, depois seus pais o trouxeram para um check-up conosco. Ele estava com muita dor e gritou quando trocamos seus curativos. Foi de partir o coração.

Gosto muito de trabalhar com MSF, gosto de como abordamos sistematicamente as necessidades e colaboramos com organizações da sociedade civil.”

Pessoas com sinais de estresse pós-traumático, que foram afetadas emocionalmente pelo terremoto, também chegam até nós. Nossa equipe de saúde mental atualmente oferece sessões de aconselhamento para elas.

Ainda penso com frequência em um paciente, também de Bhone Oh: a mãe o trouxe, ele havia sofrido um ferimento na cabeça e escapou por pouco da morte. O menino parecia estar sonhando acordado, ou melhor, ainda estava tentando entender o que havia acontecido. Ele não brincava nem falava mais. A mãe também se sentia deprimida por ver o filho ferido e por ter perdido o marido. Naquele momento, ainda não tínhamos uma equipe de saúde mental conosco, então tudo que pudemos fazer foi criar um espaço seguro onde eles pudessem compartilhar suas experiências e sentimentos, e onde o sofrimento fosse reconhecido. Também pegamos o contato deles e, no dia seguinte, nossa equipe de saúde mental fez o acompanhamento.

Em nosso trabalho, dependemos fortemente das organizações comunitárias que existem em quase todos os municípios e acampamentos [de pessoas deslocadas] aqui. Gosto muito de trabalhar com MSF, gosto de como abordamos sistematicamente as necessidades e colaboramos com organizações da sociedade civil, o que é uma novidade para mim. Tenho a chance de aprender muito. Tenho muito orgulho de ser da equipe de MSF, porque posso dar o apoio necessário nas áreas que realmente precisam. Trabalho com paixão e dedicação em tudo que faço, mas aqui é especialmente gratificante.

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