Trabalhando para o melhor, se preparando para o pior

Artigo de Jean-Marc Jacobs, enviado de Médicos Sem Fronteiras ao Paquistão

Na sequência de qualquer desastre que atinge de repente uma população, o impacto imediato em termos de mortos e feridos é frequentemente acompanhado de outros riscos à saúde que podem estar ligados a condições difíceis de vida, falta de higiene e acesso restrito à água limpa e a serviços básicos de saúde. As recentes enchentes no Paquistão não são exceção; atualmente Médicos Sem Fronteiras (MSF) e outros atores estão trabalhando duro para evitar surtos de doenças e para providenciar cuidados médicos para quem necessita.

Desde o início da atual crise, MSF continua providenciando cuidados de saúde nos programas existentes em Khyber, em Pakhtunkhwa e no Baluquistão, além de expandir seu escopo de atividades para novas estruturas médicas e de organizar clínicas móveis em outras províncias afetadas como Sindh e Punjab.

Atualmente, as doenças mais observadas em nossas clínicas estão ligadas às condições difíceis de vida e à falta de acesso à água.

“Nas mais de 10 mil consultas realizadas na semana passada, as doenças que mais temos visto são infecções de pele, respiratórias e diarreia aguda”, disse o Dr. Ahmad Mukhtar; coordenador médico de MSF no Paquistão. “Entre esses pacientes, existem alguns casos suspeitos de cólera, e enquanto esperamos pela confirmação oficial, já vamos realizando o tratamento necessário”.

Nas oitos clínicas móveis que MSF está operando em diferentes áreas no Paquistão, aproximadamente 10% dos 10 mil pacientes vistos foram diagnosticados com diarreia aguda. Apenas em Swat, os médicos realizaram um total de 321 consultas, a partir das quais 24 pessoas foram admitidas no centro de MSF de tratamento de diarreia no hospital de Mingora.

A cólera é endêmica em algumas partes do Paquistão, incluindo as áreas afetadas pelas enchentes em Khyber e Pakhtunkhwa. Então, não seria uma surpresa se os poucos casos possíveis se confirmassem. No distrito de Dir, nessa mesma província, MSF tratou 2,5 mil pacientes quando houve um surto da doença em agosto de 2009.

O cólera é uma doença contraída apenas pela ingestão de água ou comida infectada, e ela pode se espalhar muito rápido em condições de falta de higiene. Uma vez contraída, a cólera impede que o corpo retenha água e causa uma rápida desidratação.  Providenciando sais de reidratação oral, ou injeção intravenosa nos casos mais severos, a doença pode ser revertida facilmente.

“O cólera é uma das formas graves da diarreia aguda. Entretanto, alguns casos suspeitos não significam que estamos no limite de um surto” acrescentou o Dr. Ahmad Mukhtar. “Nós precisamos ficar muito alertas e ter certeza de que continuamos identificando e tratando pessoas com diarreia aguda o mais cedo possível. Nós tratamos pessoas com diarreia aguda da mesma forma como faríamos se elas estivessem com cólera. Nossas equipes em hospitais e clínicas móveis exercem um papel fundamental identificando e acompanhando casos suspeitos na comunidade”.

As enchentes e as constantes chuvas obviamente tornam a situação mais desafiadora, pois as pessoas têm menos acesso à água limpa e as condições de higiene continuam piorando. Por esta razão, as equipes de MSF também estão trabalhando duro para melhorar as condições de vida e o acesso à água.

Todo dia MSF providencia mais de 300 mil litros de água limpa para comunidades afetadas em diferentes partes do país. Em locais como Nowshera ou Carsadda, os tanques de água estão localizados em diversas vizinhanças e são reabastecidos regularmente. Em outros lugares como Swat, MSF trabalha com a comunidade para garantir que a água chegue e seja compartilhada em diferentes locais de agrupamento, como mesquitas e escolas.

Ao redor do Paquistão, MSF distribuiu kits para mais de 50 mil pessoas. No canal de Fadfedar, na província do Baloquistão, distribuiçções de kits de higiene e utensílios de cozinha incluíram também tabletes de cloro (para limpar a água) e mosquiteiros para prevenir malária. Atividades de promoção da saúde são realizadas junto com essas distribuições para orientar as pessoas.

Caso ocorra algum surto, MSF está preparada para responder através da expansão de sua intervenção em termos de tratamento de diarreia aguda. Kits de emergência já estão posicionados  na maioria da unidades médicas onde MSF trabalha. Entretanto, as equipes acreditam que a entrega de água e a distribuição de kits de higiene e utensílios de cozinha em larga escala (cobrindo mais de 7 mil famílias) vão garantir as condições necessárias para evitar o alastramento de qualquer doença como cólera, mas também sarna, disenteria, febre tifóide e malária.

Sem dúvida, muito mais ainda precisa ser feito para garantir ao menos o básico para as pessoas afetadas no Paquistão; mais de duas semanas depois da catástrofe, muitas pessoas ainda receberam muito pouca ajuda.

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