Terremoto em Mianmar: relato de um sobrevivente

“Não sou o único que perdeu alguém”, lamenta U Mar, de 85 anos

U Ma, 85 anos de idade, sobrevivente do terremoto em Mianmar. © Lena Pflueger/MSF

Em 28 de março, um terremoto de magnitude 7,7 devastou a região central de Mianmar, destruindo infraestrutura básica, como sistemas de água, saneamento e hospitais. Mais de 3.600 pessoas morreram e 5 mil ficaram feridas. Comunidades inteiras foram deixadas em ruínas.

U Mar, 85 anos, está entre os sobreviventes do desastre. Ele compartilha um relato sobre a destruição, as perdas e o esforço para reconstruir a vida.

“Quando o terremoto aconteceu, eu estava na mesquita. O tremor foi suave e lento no
início, mas depois piorou. Eu estava em pé ao lado da parede. Duas pessoas à minha esquerda e à minha direita foram atingidas pela parede quando ela desmoronou.

Minha filha veio em meu socorro. Quando ela me viu, minha mão estava presa na janela. Ela queria me ajudar, mas eu disse: ‘Eu faço isso sozinho, posso andar, vou andar devagar’.

Meus filhos também estavam na mesquita, mas minha filha não conseguia encontrá-los, então subiu nos escombros para procurá-los. Ela encontrou um deles, que estava sangrando muito.

Minha filha mais nova também estava procurando os irmãos, quando um menino na rua gritou: ‘Ajude-me, ajude-me!’ Naquele momento, ocorreu o segundo terremoto. O menino e minha filha ficaram presos em um prédio que desabou. Eles não sobreviveram. Entre meus familiares, dois ficaram feridos e um morreu, somos 10 no total.

Os meus familiares feridos foram levados às pressas para um hospital de 300 leitos em Mandalay, para tratamento de emergência. Agora eles estão bem em casa. Eu tenho pressão alta e diabetes, por isso vim para a clínica móvel de Médicos Sem Fronteiras. No segundo terremoto, quando eu estava na estrada, vi que o vilarejo estava completamente vazio. Muitas pessoas que estavam preocupadas com suas famílias e tentaram ajudá-las também morreram. As equipes de resgate chegaram e ajudaram a resgatar as pessoas dos escombros. No passado, nossa aldeia era bastante calma, com todos cumprindo suas tarefas. As crianças estavam sempre felizes, e o campo de futebol era animado. Agora, há muitas casas desmoronadas ou que estão quase tombando. Não há mais escadas para subir. Não sou o único que perdeu alguém – algumas pessoas perderam suas famílias inteiras. Agora, as famílias estão incompletas. E mesmo as famílias cujos membros sobreviveram não têm mais um lar. Fico muito triste toda vez que penso nisso.

Aqui, comida e água ainda são nossas principais preocupações, em vez de reabilitação. Também precisamos de muita assistência do governo. Eu gostaria de consertar os prédios danificados. Isso não significa que tudo ficará bem, mas acho que é justo.

 

 

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