Sul-sudaneses encontram atendimento médico de emergência na Etiópia

Sem assistência médica, continuar no leste do Sudão do Sul é um desafio. Para milhares, a única alternativa é fugir para o outro lado da fronteira

Sul-sudaneses encontram atendimento médico de emergência na Etiópia

Desde o começo, em dezembro de 2013, o conflito no Sudão do Sul forçou mais de 2 milhões de pessoas a saírem de suas casas. Para aqueles que vivem no leste do país, os campos de refugiados na região de Gambella, na Etiópia, são um santuário.

"Eu cheguei com minha família depois de oito dias de caminhada. Nós não temos comida ou animais, então fomos obrigados a vender nossas roupas para comprar leite para sobreviver. Decidimos vir para a Etiópia, onde poderíamos atender nossas necessidades básicas e educar nossos filhos", explica Sarah, de 20 anos, cujo terceiro filho recebeu tratamento médico na clínica de Médicos Sem Fronteiras (MSF) no campo de refugiados de Kule. "Nós podemos ter uma vida aqui, mas planejamos voltar para o Sudão do Sul assim que a situação melhorar."

Para a maioria, retornar para casa é apenas uma ilusão após o começo do conflito no ano passado. Somente em 2017, 100 mil pessoas cruzaram a fronteira a procura de uma trégua. A Etiópia agora abriga mais de 435 mil sul-sudaneses, a maior população de refugiados do país.

"Toda semana, centenas chegam a pé e com uma grande necessidade de cuidados de saúde emergenciais. Muitas vezes, eles estão severamente enfraquecidos, com pouca roupa e com histórias horripilantes de violência e destruição", explica Bart Bardok, coordenador de MSF nos campos de Kule e Tierkidi. "A desnutrição e a desidratação são comuns. Quando chegam, os refugiados são submetidos a uma avaliação de saúde por MSF ou por autoridades de saúde e podem ser encaminhados a uma de nossas clínicas."

Em 2017, MSF prestou assistência médica em três campos de refugiados em Gambella. Em Kule, cuja população é de 53 mil pessoas, MSF mantém um centro de saúde e três postos de saúde, enquanto no campo de Tierkidi, a organização mantém mais três postos de saúde, incluindo um serviço de maternidade 24 horas que atende uma comunidade de 71 mil pessoas. No campo de Pugnido, onde 66 mil pessoas se instalaram, MSF manteve um posto de saúde e um local de extensão junto a um centro de saúde na cidade de Pugnido, em conjunto com as autoridades governamentais.

O campo de Pugnido não recebeu novas chegadas em 2017 e MSF decidiu fechar seus postos de saúde no início de 2018 e transferir as atividades para o novo campo de Nguenyyiel, instalando um novo posto de saúde. Até agora, 82 mil refugiados vivem no campo de Nguenyyiel, mas esse número deve aumentar nos próximos meses.

Nos três campos, MSF tratou 340 mil pessoas em 2017. Delas, 30% eram crianças menores de 5 anos de idade. A malária foi um dos problemas mais significativos. Mais de 72 mil casos da doença foram tratados nos três locais, além de infecções respiratórias e diarreia.

"As equipes de MSF respondem às necessidades médicas dos refugiados do Sudão do Sul e da comunidade local, que em Gambella contabiliza mais de 300 mil", explica Oliver Schulz, representante de MSF na Etiópia. "MSF também está atendendo em clínicas móveis localizadas nos pontos de entrada ao longo da fronteira da Etiópia para fornecer cuidados médicos imediatos."

Além do apoio nos campos, em 2017, MSF iniciou uma parceria com o hospital geral de Gambella, na capital regional. Esse é o único centro de saúde da região que realiza operações cirúrgicas. Há mais de 800 mil pessoas nas redondezas do hospital, incluindo refugiados e comunidades locais. As admissões gerais aumentaram significativamente à medida que as pessoas souberam sobre os serviços que foram aprimorados.

"O hospital tem visto um aumento nas admissões para os departamentos que MSF apoia. Por exemplo, o número de admissões na maternidade quase dobrou em apenas alguns meses, já que a capacidade do hospital realmente melhorou", afirma o dr. César Pérez Herrero, médico do projeto de MSF no hospital.

"Desde junho de 2017, o hospital ajudou a dar à luz mais de 1.900 bebês. Ter um serviço de cirurgia garantiu a realização de procedimentos emergenciais de forma rápida e segura", acrescenta Pérez Herrero.

A ênfase do trabalho cirúrgico de MSF foi em intervenções de emergência e a principal categoria foi a de ferimentos violentos e não violentos. Mais de 1.500 cirurgias foram realizadas no ano passado.

Mesmo com o envolvimento de MSF, o departamento cirúrgico está constantemente sobrecarregado e precisa de apoio adicional. Com a piora da situação no Sudão do Sul, um novo fluxo de refugiados e feridos de guerra pode ser esperado a qualquer momento.

A presença de MSF em Gambella continuará sendo necessária enquanto a guerra cruzar a fronteira. MSF continua empenhada em melhorar a qualidade dos cuidados aos pacientes que sofreram com tantos desafios.
 

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