Sul do Sudão enfrenta meningite e cólera

Surto da doença teve início em janeiro e foi se espalhando progressivamente por oito dos dez estados que compõem o país

O sul do Sudão pagou o preço mais caro entre todos os países afetados pela meningite este ano. Várias equipes de Médicos Sem Fronteiras (MSF) estão dando assistência aos afetados pela devastadora epidemia e vacinando a população em risco de contrair a doença em vários estado na região. Mas para tornar as coisas ainda piores, a cólera está avançando rapidamente em vários locais.

De todos esses países que formam o chamado 'cinturão da meningite', o sul do Sudão, junto com Burkina Faso, são os mais atingidos desde o início da epidemia atual. Foram registrados cerca de sete mil casos de meningite e 430 mortes, segundo a Organização Mundial de Saúde.

O surto teve início no começo de janeiro e foi se espalhando progressivamente por oito dos dez estados que formam o sul do Sudão. Nessa região, na qual o número de moradores é superestimado, o planejamento de uma campanha de vacinação é extremamente complexo.

O grupo de Cooperação Internacional (ICG, na sigla em inglês, uma organização que cuida da resposta a epidemias, da qual MSF é integrante) autorizou a entrega de 1,1 milhão de doses da vacina. A imunização da população-alvo (todos com entre dois e 30 anos de idade) está sendo realizada em vários estados. Até agora, cerca de 400 mil pessoas foram vacinadas por MSF e outras 380 mil serão imunizadas nas próximas semanas.

As equipes de MSF vão para os locais onde há mais casos registrados e seguem a epidemia através de avaliações realizadas pela organização para determinar quais as áreas devem ser consideradas prioridades.

Para vacinar dez mil pessoas, é necessário o seguinte: um refrigerador, cinco grandes containeres isotermais, 250 pacotes de gelo e cinco quilos de algodão.

Em um país como o sul do Sudão, a logística de uma campanha de vacinação – transporte de equipes e equipamentos para os locais onde será realizada a imunização, a manutenção da cadeia fria – é um desafio, especialmente nas áreas rurais.

"Estamos em um país que acabou de sair de 20 anos de guerra e os meios de responder a um grande surto são difíceis", explica o Dr Mego Terzian, chefe de missão da equipe de emergência no Bahr al Ghazal Norte. "Algumas áreas são inacessíveis porque ainda não retiraram as minas delas. Algumas das estradas foram recém construídas, o resto não tem como ser usados".

"Além disso, a presença de muitas armas na região é um fator de risco. Incidentes nas áreas de vacinação podem rapidamente se complicar. Tudo isso é difícil, mas lidamos com esses problemas. O principal obstáculo que encontramos é a falta de dados confiáveis sobre a população e a falta de pessoas treinadas nos centros de saúde".

Além das vacinações, outras prioridades em casos de epidemia são: registrar novos casos, treinar a equipe para identificar e tratar a meningite, fornecer os materiais necessários e cuidar dos casos mais graves.

"Os pacientes devem ser tratados no estado mais inicial possível da doença, então trabalhamos em colaboração com a unidade de saúde primária", contou Sarah Hustache, médica da equipe de emergência de MSF em Bahr al Ghazal. "Nós estamos oferecendo a eles tratamento feito com kits compostos por cloramfenicol e outros materiais adicionais necessários para a injeção de meningite e para tratar os sintomas (febre, convulsão) e outras doenças.

"Os pacientes mais graves são transferidos e internados em um hospital de MSF. A diminuição do número de mortes por meningite, como resultado da disponibilização rápida do tratamento aos pacientes, mostra que nossa estratégia é eficiente".

Nas áreas do sul do Sudão nas quais MSF contribui com a administração de pacientes com meningite, mais de 1.642 casos e 111 mortes foram registrados. Leva-se menos de dez dias após o início da campanha de vacinação para se observar uma queda do número de novos casos.

Além da epidemia de meningite, o número de casos de cólera também aumentou, apesar de a estação das secas ainda não ter acabado.

Em Juba, capital regional do sul do Sudão, um Centro de Tratamento de Cólera foi aberto no dia 2 de março, no qual 1.242 pacientes já foram internados. No estado de Jonglai, a unidade de tratamento montada em Pibor há duas semanas já tratou 79 pacientes.

"Nós temos 80 casos por dia e tememos um aumento significativo no número de casos com a chegada da estação das chuvas", afirmou Carmen de la Piscina, coordenadora de emergência de MSF em Juba.

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