Sudão: Insegurança ainda domina contexto de trabalho de Médicos Sem Fronteiras em Darfur

Apesar do acesso limitado à população e com a intensificação do conflito, MSF trabalha em três províncias sudanesas

A crescente insegurança, combinada com a diminuição da ajuda internacional na conturbada região de Darfur, é um novo elemento nas míseras condições de vida da população. O acesso aos necessitados é o menor já registrado desde o início do conflito, ao mesmo tempo que a doença e a violência permanecem sendo problemas cotidianos para as milhões de pessoas que ficaram desabrigadas desde o início do conflito em 2003. Hoje, a maioria conta com a cada vez mais escassa ajuda humanitária externa e a ameaça de intensificação do conflito é novamente uma realidade. Médicos Sem Fronteiras (MSF) tem realizado projetos em Darfur desde o começo de 2004 e hoje tem 123 funcionários internacionais e 2.233 nacionais trabalhando em três províncias. Com um orçamento total para Darfur para 2006 de aproximadamente 20 milhões de euros, essa é uma das mais importantes operações realizadas por MSF no mundo.

Norte de Darfur e Jebel Mara

Em Kebkabiya, a 200 km ao norte da capital da província, El Fasher, MSF administra três ambulatórios e dá apoio médico e logístico ao hospital de 67 leitos. Em El Fasher, o surto de cólera está sendo acompanhado por equipes de MSF. Um total de 120 casos foram registrados até o dia 8 de setembro, com entre seis e sete internações por dia. MSF está trabalhando para montar um centro de tratamento da doença no hospital.

Um recente aumento da insegurança está atrasando enormemente as operações na área. Devido a uma série de incidentes contra agências humanitárias ocorridos nas estradas, os projetos em Kebkabiya são acessíveis apenas por helicóptero a partir de El Fasher.

Em Sarif Umra, decidiu-se reduzir a equipe do projeto depois de um ataque de homens armados. Em Korma, a operação foi fechada também devido a problemas de segurança.

Projetos de clínicas móveis são particularmente vulneráveis a ataques nas estradas e um projeto desenvolvido para Kaguro, na região Jebel Mara, também foi suspenso.

Jebel Mara – uma área montanhosa no centro de Darfur – foi especialmente afetada pelo aumento da insegurança. Em junho de 2006, MSF começou a trabalhar em clínicas em Killin e, um mês depois, em Gorni.

No entanto, o projeto foi suspenso por motivos de segurança no dia 22 de julho, quando um comboio de MSF foi atacado na Estrada Guildo-Golo-Killin (única via de acesso a Killin). O comboio foi roubado e a equipe agredida.

Niertiti é uma cidade com três mil moradores e um número cerca de dez vezes maior de deslocados internos na base da montanha de Jebel Mara. MSF administra um hospital no local desde março de 2004 e é hoje a única agência médica trabalhando em Niertiti. Houve 1.128 internações hospitalares registradas nos primeiros seis meses de 2006. As clínicas móveis de Niertiti para populações nômades foram interrompidas no verão, mais uma vez devido à insegurança.

Em Jebel Mara, MSF administra centros de saúde em Katrum, área tomada por rebeldes, desde março de 2006. No entanto, esse projeto foi suspenso no dia 14 de setembro.

Oeste de Darfur

Em Zalengei, que hoje conta com uma população de 20 mil moradores e 95 mil deslocados, MSF oferece tratamento pediátrico (cerca de 180 internações por mês), uma unidade cirúrgica e cuidados pós-operatórios (incluindo um fluxo de 52 feridos durante vários dias em dezembro).

Em Mornay, vasto campo de deslocados internos que abriga 80 mil pessoas, a população está virtualmente excluída da ajuda externa. MSF trabalha no local desde 2004, onde construiu um hospital e um centro de saúde. Na primeira metade de 2006, uma média de 4, 9 mil consultas médicas foram realizadas a cada mês e 293 crianças entraram no programa nutricional de MSF entre abril e julho.

Na fronteira do Chade, em Um Dukhun, MSF oferece atendimento cirúrgico, serviços de laboratório e serviços médicos gerais, como atendimento de saúde básica, pré-natal e nutricional.

Trabalhadores temporários oferecem educação sanitária e fazem referências médicas. Depois de um recente fluxo de 12 mil refugiados e deslocados, MSF providenciou atendimento médico, vacinação contra sarampo e produtos de higiene e cozinha.

Em Shangil Tobaya, MSF montou serviços de saúde para os desabrigados que vivem nos acampamentos de Shangil e Shadat, assim como no vilarejo de Shangil Tobaya. Esse projeto foi abandonado no dia 23 de julho após um incidente de segurança e devido à total deterioração da situação de segurança na área. Foi oficialmente reaberto no dia 20 de agosto, mas com redução de atividades e da equipe internacional.

Em Habilah, onde vivem 22 mil deslocados e sete mil moradores, MSF tem uma clínica médica com 20 leitos para casos de internação. Isso inclui alimentação terapêutica para as crianças com desnutrição severa, tratamento pré-natal e partos. Trabalhadores temporários ajudam com educação sanitária e orientação. Em Kerenek, onde vivem 22 mil deslocados, MSF é responsável por uma clínica com 30 leitos. Combinados, esses dois projetos realizam cerca de 4,5 mil consultas por mês. Clínicas móveis oferecem assistência médica para as populações nômades nos arredores destas duas áreas.

Em outubro de 2006, um novo projeto será aberto no corredor norte de Darfur Oeste, na cidade de Seleah, onde 160 mil pessoas vivem com pouquíssima assistência e acesso a tratamento médico.

Sul de Darfur

Com 90 mil pessoas, Kalma continua a ser um dos maiores campos de deslocados internos no mundo. MSF administra uma clínica de saúde primária, na qual são realizadas cerca de mil consultas por semana. Há também um centro de saúde feminino com atendimento pré e pós-natal, assistência no parto e tratamento para violência de gênero. O projeto é complementado por atividades temporárias comunitárias e programas de saúde mental, voltados para o tratamento de estresse psicossocial e trauma resultantes da atual condição de vida e da incerteza, assim como traumas psicológicos relacionados ao conflito.

Em Muhajariya, uma cidade com população superior a 45 mil, MSF oferece tratamento cirúrgico para feridos da guerra, serviços emergenciais de obstetrícia, internação e ambulatório. Equipes de clínicas móveis fornecem assistência de saúde básica semanalmente para as cidades de Labado e Angabo, assim como atendem comunidades de deslocados no interior do país.

Em Shariya, apesar das várias suspensões de atividade devido à insegurança, MSF consegue abastecer a clínica local de saúde primária e tem equipes móveis que visitam os deslocados nos arredores da região, incluindo clínicas semanais para Khazan Jedid, Um Shegera e Teisha quando possível.

Preparação para emergência

A preocupação principal de MSF é conseguir reagir rapidamente aos surtos de doenças ou novos deslocamentos em toda a região. Nos meses anteriores, equipes de emergência responderam a um surto de diarréia severa e cólera no acampamento de Kalma, organizaram vacinação contra meningite e sarampo, distribuíram lonas plastificadas e rações de comida emergenciais para novos grupos de deslocados. Atualmente, MSF está também trabalhando em Mornay para combater o surto da cólera, que já matou oito pessoas.

MSF também está continuamente fazendo lobby para aumentar a ajuda e o acesso na região.

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