Sudão: Equipes médicas de MSF usam camelos e burros para chegar a vilarejos remotos e prestar assistência médica à população

Muitas pessoas estão vivendo quase sem acesso à saúde em região afetada por décadas de conflito

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Sudão: Equipes médicas de MSF usam camelos e burros para chegar a vilarejos remotos e prestar assistência médica à população

“A situação aqui era muito difícil. A comunidade do vilarejo de Dilli não teve acesso a cuidados de saúde durante vários anos”, disse Mohamed Abdallah Juma, um líder comunitário de Dilli, localizado na área montanhosa de Jebel Marra, na região de Darfur, no Sudão. Darfur sofre com décadas de conflito e, embora muita coisa tenha mudado após a formação do novo governo de transição no Sudão, a situação geral de segurança permanece frágil. Ainda ocorrem confrontos violentos entre o governo e vários grupos armados e tribais, especialmente em Jebel Marra e seus arredores, que se estendem por partes dos estados do norte, centro e sul de Darfur.

Desde 2003, a região é o principal reduto do Movimento de Libertação do Sudão, liderado por Abdul Wahid Al-Nur. Como uma zona de conflito ativa, até recentemente, esse era o único lugar em Darfur que continuava como uma área proibida para agentes humanitários. Após negociações com autoridades e líderes tribais, desde março de 2021, uma equipe de Médicos Sem Fronteiras (MSF) administra uma clínica no sul de Jebel Marra, oferecendo assistência médica gratuita para pessoas que vivem nas montanhas do estado de Darfur do Sul. Seus pacientes vêm de mais de 60 vilarejos diferentes, alguns viajando por até 10 horas em burros para chegar à clínica.

Para a equipe de MSF, ir até clínica envolve uma viagem de três horas de carro a partir de sua base em Nyala, seguida por uma caminhada de duas horas por trilhas estreitas e rochosas nas costas de um burro. Todos os suprimentos para a clínica também são transportados em burros e camelos.

“Estamos entusiasmados porque, após vários meses de negociação, conseguimos montar a clínica em Dilli para atender às necessidades mais críticas dessa população negligenciada”, disse a Coordenadora do projeto de MSF, Anna Bylund. “No entanto, muitas necessidades, como comida e educação, permanecem não atendidas para as pessoas nas comunidades e vilarejos ao redor de Dilli.”

As pessoas da comunidade falam sobre os anos em que viveram quase sem assistência médica. As mulheres em trabalho de parto precisavam viajar de burro para o hospital rural, em Kass, por quase 5 horas ou eram carregadas em uma cama por outras mulheres até lá. Muitas não chegavam à unidade de saúde a tempo e os bebês nasciam no caminho, enquanto outras mulheres em trabalho de parto perderam a vida antes mesmo de alcançar a estrada da montanha.

“Diferentes doenças estavam se espalhando e as taxas de mortalidade entre as mães eram muito altas”, diz Juma. “Muitas vezes as pessoas tinham que percorrer longas distâncias e, mesmo assim, poderiam não encontrar medicamentos ou um paciente poderia morrer no caminho. Muitas mulheres grávidas perderam a vida ao serem transferidas para cidades onde havia alguma forma de tratamento médico disponível.” A equipe de MSF também ouviu histórias sobre amputações feitas com uma serra de madeira.

“Conseguir medicamentos por aqui foi um grande desafio”, disse Magdola Abaker, uma jovem do vilarejo de Tale. “Se o estado de saúde de uma pessoa piorasse, os parentes os levariam para a cidade de Kass, que é muito longe daqui, ou dariam remédios tradicionais ao paciente. Normalmente, eles levariam o doente a um homem religioso, que escrevia versos do Alcorão em uma tábua de madeira e depois lavava a tábua com água para o paciente beber. Foi uma situação muito difícil para nós. Mas agora, felizmente, temos uma clínica aqui que nos fornece medicamentos.”

Magdola veio à clínica em busca de tratamento para ela e para seu filho. “Levamos três horas de burro para chegar à clínica”, diz ela. “Um líder comunitário me falou sobre a unidade de saúde. Vim aqui porque tenho problemas de estômago e meu filho está desnutrido, pois não tenho leite para amamentar.”

A clínica de MSF oferece cuidados básicos de saúde, cuidados maternos e nutricionais, com uma média de 150 a 200 consultas por dia. Desde que foi inaugurada, há dois meses, a equipe médica forneceu mais de 6.300 consultas ambulatoriais, 500 atendimentos pré-natais, diagnosticou 106 crianças com desnutrição aguda grave e 173 com desnutrição aguda moderada.

A diarreia aguda é uma das principais doenças na região, por isso MSF está trabalhando para melhorar as condições de água e saneamento na comunidade. A equipe também realiza atividades de promoção da saúde e higiene, além de atividades de engajamento comunitário.

Os moradores do vilarejo de Dilli e seus arredores ajudaram a equipe de MSF a montar a clínica e emprestaram camelos e burros para trazer suprimentos médicos. “O que realmente me tocou foi a aceitação da comunidade e sua recepção calorosa”, diz Bylund. “A comunidade está esperando por nós e não há dúvida de que nossa assistência médico-humanitária será necessária nesta área. Para MSF, é importante trabalhar com a comunidade para entender suas necessidades e tentar defender uma população que tem sido totalmente excluída dos serviços de saúde por décadas.”

MSF atua no Sudão desde 1978. Atualmente, nossas equipes oferecem atendimento médico nos estados de Cartum, sul e oeste de Darfur, Kassala, Gedarif e Nilo Branco. Além da clínica no vilarejo de Dilli, MSF está administrando um projeto semelhante na localidade de Omo, em Jebel Marra. MSF também realiza intervenções de emergência regulares em outras partes do país.

Médicos Sem Fronteiras (MSF) é uma organização humanitária internacional criada em 1971, na França, por jovens médicos e jornalistas. Desde então, MSF leva cuidados de saúde a pessoas afetadas por conflitos armados, desastres naturais, epidemias, desnutrição ou sem qualquer acesso à assistência médica, de forma neutra, independente e imparcial.

 

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