Somalis e etíopes enfrentam travessia perigosa para chegar ao Iêmen

MSF lança relatório Sem Escolha e pede mais assistência para essas populações que deixam seus países para fugir da guerra e da fome

Milhares de Somalis e etíopes arriscam suas vidas todos os anos para cruzar o Golfo de Aden, na tentativa de escapar de conflitos e pobreza extrema. A viagem é cheia de perigos, uma vez que as pessoas estão expostas às agressões dos contrabandistas e recebem pouca assistência quando chegam no Iêmen. No relatório "Sem Escolha" (No Choice, em inglês), Médicos Sem Fronteiras documenta as condições dessa viagem perigosa e pede que haja uma maior assistência para essas milhares de pessoas que fugiram de seus países.

Devido à escalada do conflito na Somália e à seca que assola o Chifre da África, o número de novas pessoas chegando no Iêmen tem aumentado. Segundo as Nações Unidas, em 2007, 30 mil pessoas embarcaram nessa perigosa empreitada. Durante os primeiros cinco meses de 2008, mais de 20 mil pessoas chegaram no Iêmen. Mas muitos dos que tentaram nunca conseguiram chegar: em 2007, mais de 1.400 mortes e desaparecimentos foram registrados; em 2008, 400 não chegaram vivos à costa do Iêmen.

Divulgado no Dia Mundial dos Refugiados, o relatório tem como base 250 testemunhos coletados pelas equipes de MSF no Iêmen desde setembro de 2007. Os refugiados chegam exaustos, muitos deles doentes e emocionalmente desgastados. Barcos com entre oito e dez metros construídos para transportar no máximo entre 30 a 40 pessoas levam mais de cem passageiros. As pessoas são obrigadas a ficar sentadas na mesma posição, sem poder se mover, durante dois ou três dias de viagem e, na maioria dos casos, ficam sem comida e água.

Os contrabandistas são extremamente brutais, batem em todo mundo que tenta se mexer. As condições são ainda piores para as pessoas que ficam nos pequenos espaços sem janelas do barco, usados para guardar material. Vinte ou mais pessoas ficam em locais como esses, literalmente sentados uns em cima dos outros. As condições são tão ruins que mortes durante as viagens são registradas em um terço dos barcos. As principais causas são espancamento, falta de comida e de água e sufocamento. Muitos relataram também casos em que os contrabandistas jogaram ao mar passageiros, incluindo crianças.

Chegar à costa do Iêmen também é muito perigoso: para evitar serem capturados pelos militares, muitos barcos chegam durante à noite e não chegam perto da margem o suficiente. Os contrabandistas obrigam os passageiros a pular na água. Muitas pessoas se afogam: eles não sabem nadar ou não conseguem se mover devido à câimbras e dormências causadas por três dias sem poder se mexer, estão desorientados e muitos não conseguem achar a costa.

Muitos dos entrevistados têm conhecimento dos riscos, mas disseram a MSF que não têm escolha, uma vez que esse é o único modo que têm para fugir da violência e da pobreza. Os problemas não acabam se conseguem chegar à costa do Iêmen. O país tem recursos limitados e pouca assistência. “Atualmente, a resposta humanitária tem sido inadequada. Mais assistência internacional é necessária com urgência e os países doadores deveriam se comprometer politica e financeiramente. A capacidade de resposta dos que oferecem assistência aos refugiados precisa ser reforçada e mais organizações deveriam intervir", explica Alfonso Verdú, coordenador-geral de MSF no Iêmen.

Médicos Sem Fronteiras abriu um projeto na costa sul do Iêmen em setembro de 2007 para oferecer assistência humanitária, psicológica e médica aos que chegam no país. Uma equipe móvel oferece os primeiros-socorros e assistência na praia e MSF administra um centro de emergência no Centro de Recepção Ahwar (ARC). Em oito meses, MSF ofereceu assistência para mais de 6 mil pessoas.

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