Somália: Não há lugar seguro em Mogadíscio

Muitos civis não têm como deixar a capital somali, onde os confrontos têm se tornado cada vez mais intensos

Enquanto milhares de pessoas fogem de Mogadíscio, a organização humanitária internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF) está muito preocupada com os civis que permanecem na capital somali, uma vez que a onda de violência na cidade tem se intensificado.

MSF é uma das poucas organizações internacionais a oferecer serviços de saúde em Mogadíscio e está testemunhando um aumento da violência nos arredores de uma de suas clínicas. As pessoas que tinham como, deixaram a cidade, mas muitas outras estão encurraladas, não têm como fugir ou tem muito medo de sair de Mogadíscio. As pessoas estão fugindo para outras áreas da cidade, mas cada dia que passa há menos lugares seguros para se refugiar na capital.

"As pessoas estão aterrorizadas, mas a maioria não tem muita escolha, a não ser esperar que a violência não chegue até elas", conta Colin McIlreavy, chefe de missão de MSF na Somália. "Em Mogadíscio, não há lugar seguro".

O alto índice de insegurança freqüentemente impede que os civis feridos recebam assistência médica. A equipe de MSF não tem conseguido ajudar os indivíduos feridos a balas durante os confrontos à noite. Alguns sangraram até morrer porque era muito perigoso tentar chegar a um hospital. Ex-moradores de um subúrbio densamente povoado, próximo a uma clínica de MSF, contaram ter visto homens armados marchando pelas ruas, saqueando casas e, em alguns casos, atirando em pessoas desarmadas.

Os deslocados que vivem em Mogadíscio são particularmente vulneráveis. Acampamentos improvisados podem ser encontrados em toda a cidade. Moradores desses acampamentos geralmente têm pouco mais do que roupas rasgadas e lâminas de plástico para abrigos – que não oferecem nenhuma proteção contra balas, morteiros e granadas. Há poucos homens nesses acampamentos, eles partiram deixando as mulheres com a difícil tarefa de alimentar e cuidar das crianças, vulneráveis a violência e saques. Na semana passada, MSF tratou três mulheres que foram estupradas em suas casas por homens armados.

Nas últimas semanas, a equipe de MSF em Mogadíscio observou que os confrontos estavam chegando muito perto da clínica. Alguns dos integrantes da equipe não conseguem chegar no local de trabalho porque as estradas estão sendo fechadas devido à violência.

"Nós observamos uma redução maciça no número de pessoas que vêm até a nossa clínica de alguns dos bairros vizinhos, onde os confrontos têm se intensificado. Isso condiz com as histórias que escutamos de que as pessoas estão deixando esses locais para ir para outras partes de Mogadíscio", contou Dr. Fuad, médico de uma clínica de MSF na capital somali.

Muitos que têm condições financeiras para deixar a cidade estão o fazendo, mas o risco é muito grande. "Os postos de controle entre Mogadíscio e Galcayo são diferentes de tudo que já vi na minha vida. Eu consegui contar 86 distribuídos em 300 quilômetros, nos quais os responsáveis pedem por dinheiro. Na metade da nossa viagem, o dinheiro já não era suficiente e eles levaram tudo", contou um homem entrevistado pela equipe de MSF em Galcayo, norte de Mogadíscio.

MSF está lutando para fornecer assistência de saúde e humanitária para as pessoas em Mogadíscio. Mas os moradores da capital precisam mais do que tratamento médico – eles precisam de segurança. MSF pede que todas as facções envolvidas no conflito parem de realizar ataques indiscriminados a civis e que respeitem a Lei Humanitária Internacional.

Compartilhar
Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin
Share on whatsapp
Share on print