Síria: em quatro meses, MSF atendeu 133 pessoas feridas por artefatos explosivos

O número de pacientes feridos por minas terrestres, armadilhas e explosivos no hospital de MSF em Hassakeh dobra à medida que aumenta o número de pessoas voltando para casa

Nordeste da Síria: em apenas quatro meses, MSF atendeu 133 pessoas feridas por artefatos explosivos

Hospital apoiado por Médicos Sem Fronteiras (MSF) no nordeste da Síria recebeu 133 pessoas feridas por minas terrestres e armadilhas em quatro meses e meio – uma por dia, em média. Desde o início de fevereiro até 14 de março, 36 vítimas de minas foram atendidas. O número de pacientes afetados saltou de 17 em novembro para 39 em dezembro de 2017 e 41 em janeiro deste ano. O número de pacientes feridos por minas terrestres, armadilhas e explosivos dobrou entre novembro de 2017 e março de 2018. Metade das vítimas era crianças, algumas com um ano de idade.

Essa tendência alarmante ocorre à medida que mais pessoas voltam para casa após a redução dos combates nas províncias de Raqqa, Hassakeh e Deir ez-Zor.

MSF pede urgentemente a todas as organizações e entidades envolvidas, internacionais e locais, que aumentem e acelerem as atividades de desminagem e de conscientização sobre os riscos, assim como melhorem o acesso à assistência médica vital para vítimas de explosivos em Deir ez-Zor.

Satoru Ida, coordenador-geral de MSF na Síria, afirma: “os pacientes relatam que minas terrestres, armadilhas e outros artefatos explosivos improvisados são colocados em campos, estradas, telhados de casas e debaixo de escadas. Artigos domésticos como bules, travesseiros, panelas, brinquedos, ar-condicionados e refrigeradores também estão prontos para explodir quando as pessoas voltam para suas casas pela primeira vez depois de meses ou anos deslocadas”.

No nordeste da Síria, MSF apoia dois hospitais: um em Tal Abyad, que recebe feridos principalmente da província de Raqqa, e outro em Hassakeh. Esse último é uma das poucas instalações secundárias de saúde, gratuita e acessível aos residentes na província de Deir ez-Zor. Quase 75% dos pacientes que chegam ao hospital de Hassakeh são da província de Deir ez-Zor, de áreas localizadas a até seis horas de viagem.

Só em 2017, a violência em Deir ez-Zor fez com que pelo menos 254 mil pessoas fugissem. Em média, cada uma delas se deslocou três vezes. Naquele ano, esse foi o maior fluxo de pessoas por província na Síria.

Embora algumas pessoas tenham voltado para casa, a maioria ainda está deslocada e deve voltar a suas casas em breve. Às vezes, elas não estão cientes dos perigos que as aguardam. Especialistas em desminagem temem que centenas de milhares de dispositivos ainda estejam em escolas, instalações médicas e campos agrícolas em Deir ez-Zor. Esse temor é baseado em padrões observados em outras províncias e informações de incidentes recentes.

Ida acrescentou: “essa é uma corrida contra o tempo. As pessoas estão retornando ao que é, na verdade, um campo minado. Vamos ver um aumento no número de vítimas sem haver ações futuras. Além disso, com o sistema de saúde em Deir ez-Zor paralisado, o posto de saúde mais próximo está a horas de distância. Cada minuto importa. Se a pessoa não morrer no local, a demora para receber atendimento médico é, na maioria dos casos, o que determina a gravidade e a recuperação dela”.

A desminagem é urgente, mas a conscientização sobre o risco também deve ser feita para que as pessoas que queiram voltar para casa possam estar informadas e, assim, tomar decisões, aprender a identificar e evitar dispositivos explosivos, saber o que fazer imediatamente após uma explosão e prestar os primeiros socorros em caso de acidente.

Isso deve acontecer em conjunto com a melhoria do acesso a atendimento médico emergencial, em muitos casos, vitais, para as vítimas de artefatos explosivos em Deir ez-Zor e em outras áreas do nordeste da Síria.

Ida ressaltou: “esses dispositivos explosivos não escolhem seus alvos. Eles não respeitam tratados de paz ou cessar-fogo e podem ficar escondidos por meses ou anos após o término de um conflito. Se eles não matam, eles destroem a vida dessas pessoas e os meios de subsistência das vítimas e suas famílias, que são jogadas para uma pobreza ainda maior por conta da perda de suas mãos ou pernas”.

– O hospital apoiado por MSF em Hassakeh é a instalação de saúde secundária que oferece serviços gratuitos mais próxima de Deir ez-Zor, o que a torna uma fonte crível na análise sobre o que está acontecendo nas províncias com mais minas.
– MSF recebeu 133 pessoas feridas por minas terrestres e armadilhas em quatro meses e meio – uma por dia, em média. O número de pacientes afetados aumentou bastante desde o final de 2017, passando de 17 em novembro para 39 em dezembro e 41 em janeiro. Desde o início de fevereiro até 14 de março, 36 vítimas de minas foram atendidas no hospital.
– Mais de 75% dos pacientes internados no hospital de MSF em Hassakeh com lesões relacionadas a minas terrestres, armadilhas e perigos semelhantes são de Deir ez-Zor, principalmente da área de Abu Hamam, mas também de Hajin, Dhiban, Garanish.
– Segundo a ferramenta de rastreamento da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre deslocados internos, em 2017, Deir ez-Zor era a província com o maior número de movimentos populacionais na Síria: mais de 800 mil se deslocaram, representando 30% dos deslocamentos na Síria. A ONU também estima que pelo menos 255 mil pessoas estavam saindo da província de Deir ez-Zor. O que significa que, em média, cada pessoa se deslocou três vezes em 2017.  

Atividades de MSF no nordeste da Síria (Hassakeh, Deir ez-Zor, Raqqa):

Além de fornecer apoio direto ao hospital em Hassakeh, MSF recentemente começou a ajudar uma unidade de saúde pública em Deir ez-Zor, fortalecendo a capacidade da equipe local e doando medicamentos e outros suprimentos. Nossas equipes continuam explorando maneiras de oferecer tratamento emergenciais na área de Deir ez-Zor e no nordeste da Síria.

Em Tal Abyad, província de Raqqa, MSF apoia a maternidade, a sala de emergência e de cirurgia, a vacinação, o departamento de pacientes externos e de pacientes internados, a talassemia e o trabalho de saúde mental em um hospital pediátrico.

Fora da província de Raqqa, MSF mantém uma clínica de cuidados de saúde primária e oito equipes de vacinação móvel para vacinar aqueles que retornam, mas também os que permaneceram, oferecendo cuidados básicos de saúde.

Em novembro de 2017, depois da diminuição do conflito na província, MSF começou a fornecer assistência médica àqueles que retornavam à cidade por meio de uma unidade de cuidados de saúde primária e um ponto de estabilização.

Em outros lugares na Síria, MSF é parceira de cinco instalações e apoia remotamente cerca de 25 instalações de saúde em todo o país em áreas onde as equipes não podem estar permanentemente presentes. Para garantir independência de pressões políticas, MSF não recebe financiamento de qualquer governo para o seu trabalho na Síria.
 

Compartilhar
Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin
Share on whatsapp
Share on print