Sequestro de profissional de saúde expõe riscos crescentes no Sudão do Sul

MSF condena ataque a profissional do Ministério da Saúde local, ocorrido em uma ambulância da organização, e pede proteção urgente para equipes médicas

Médicos Sem Fronteiras (MSF) condena veementemente o sequestro de uma profissional da equipe do Ministério da Saúde em uma ambulância de MSF no condado de Morobo, no estado de Equatoria Central, no Sudão do Sul, por volta das dez horas da manhã da última sexta-feira, (25/07). Embora a profissional tenha sido libertada sem ferimentos no dia seguinte, esse incidente destaca ainda mais a crescente violência contra profissionais de saúde no Sudão do Sul.

A profissional estava acompanhando pacientes que haviam sido encaminhados para cuidados médicos avançados no condado de Yei e estavam retornando a Morobo após receberem alta. Durante a viagem, pessoas armadas interceptaram a ambulância, forçaram a funcionária a deixar o veículo e a sequestraram. O motorista de MSF, outros colegas da equipe e os pacientes foram autorizados a continuar a viagem.

Esse incidente é um ataque direto ao sistema de saúde.”
Ferdinand Atte, coordenador-geral de MSF no Sudão do Sul

“O que estamos testemunhando é uma tendência perturbadora e inaceitável, em que a prestação imparcial de serviços de saúde enfrenta ataques indiscriminados”, diz Ferdinand Atte, coordenador-geral de MSF no Sudão do Sul. “Esse incidente não é apenas um ataque a um indivíduo; é um ataque direto ao sistema de saúde destinado a atender os mais vulneráveis em nossas comunidades.”

Nos últimos meses, houve um aumento muito preocupante nos ataques à assistência médica no Sudão do Sul. MSF foi forçada a fechar dois hospitais no Sudão do Sul devido a esses ataques. Nos condados de Yei e Morobo, a situação volátil de segurança continua a apresentar desafios constantes para a prestação de serviços médicos e humanitários.

Em maio, MSF tomou a difícil decisão de reduzir os serviços oferecidos nesses condados, devido ao aumento da insegurança. Como resultado, a organização ofereceu apenas 3.427 consultas em maio e junho de 2025 – metade do número registrado durante o mesmo período em 2024. Esse declínio acentuado distancia ainda mais comunidades já isoladas, que vivem longe das instalações de saúde, de serviços médicos vitais.

Os ataques a profissionais e instalações de saúde não apenas colocam em risco a segurança dos profissionais de saúde, mas também interrompem o acesso a cuidados médicos para comunidades vulneráveis que dependem desses serviços.

MSF trabalha no Sudão do Sul há mais de 40 anos , respondendo a grandes crises, incluindo conflitos, enchentes e surtos de doenças, e continua a oferecer cuidados que salvam vidas, apesar da violência contínua. Mas nenhum profissional da área médica deveria ter que arriscar sua vida para salvar outras pessoas. Este já é o quarto incidente grave de segurança que afeta MSF em apenas sete meses, colocando em risco tanto nossa equipe quanto os pacientes que dependem de nós.

Os profissionais de saúde nunca devem ser alvos de ataques.”
Ferdinand Atte, coordenador-geral de MSF no Sudão do Sul

“MSF continua a pedir a todas as partes envolvidas no conflito em curso no Sudão do Sul que cumpram suas obrigações de proteger os civis e a infraestrutura civil, incluindo os profissionais de saúde, pacientes e instalações médicas, e que garantam o acesso seguro às populações necessitadas. Os profissionais de saúde nunca devem ser alvos de ataques”, acrescenta Ferdinand.

 

Desde o início do ano, MSF tem testemunhado um aumento preocupante nos ataques contra profissionais e instalações de saúde:

– Em janeiro, dois barcos de MSF que viajavam de Nasir para Ulang, no estado do Alto Nilo, foram atacados. Homens armados não identificados abriram fogo contra as embarcações, forçando a equipe de MSF a bordo a pular no rio e nadar até um vilarejo próximo. Um profissional da equipe sofreu um ferimento enquanto escapava do ataque e teve que receber tratamento médico.

– Em 14 de abril de 2025, o hospital de MSF em Ulang foi violentamente saqueado por homens armados em plena luz do dia. Eles destruíram a propriedade e ameaçaram pacientes e profissionais de saúde. Esse ataque levou ao fechamento total de todas as atividades hospitalares e das atividades de saúde fora da instalação. O hospital de Ulang era o único em funcionamento no condado, e esses eventos levaram a consequências devastadoras para a população, deixando mais de 150 mil pessoas sem acesso a cuidados médicos vitais.

– No dia 3 de maio, o hospital de MSF em Old Fangak, no estado de Jonglei, foi bombardeado por dois helicópteros. A farmácia foi destruída, assim como recursos médicos vitais, o que impossibilitou a prestação de cuidados médicos na instalação. Os helicópteros também dispararam contra a comunidade, matando pelo menos sete pessoas e ferindo 27 – quatro profissionais de MSF ficaram feridos.

 

Nos condados de Yei e Morobo, MSF fornece serviços de saúde primária, apoiando quatro instalações do Ministério da Saúde. Oferecemos consultas ambulatoriais, vacinas de rotina e cuidados de saúde materno-infantil. MSF também conduz clínicas móveis e oferece cuidados de saúde baseados na comunidade por meio do programa Boma Health Initiative. Entre janeiro e junho de 2025, MSF realizou 14.500 consultas ambulatoriais, 1.192 consultas pré-natais e auxiliou em 438 partos.

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