Saúde mental é prioridade de MSF na região Serrana

Psicólogos da organização fazem oficinas em que compartilham a experiência internacional com catástrofes naturais

Cerca de 40 profissionais de saúde mental que atuam em Nova Friburgo (RJ) foram treinados pela equipe de psicólogos de Médicos Sem Fronteiras (MSF) nos últimos dias. A capacitação dos psicólogos que trabalham na região serrana do Rio de Janeiro, onde as fortes chuvas da semana passada deixaram mais de 700 mortos, é o principal foco do trabalho de MSF nesta emergência. Nos próximos dias, profissionais de Petrópolis e São José do Vale do Rio Preto também farão o treinamento. As oficinas de capacitação são sempre realizadas em parceira com a rede de saúde pública local.

“Começamos nosso trabalho com duas equipes formadas por médicos, psicólogos e uma enfermeira que atuariam em bairros remotos de Nova Friburgo e São José do Vale do Rio Preto. Mas logo percebemos que a necessidade maior era na área de saúde mental. Existem ótimos profissionais aqui, mas eles sentiam-se perdidos porque não têm experiência em trabalhar em situações de catástrofes como essa”, diz o coordenador da missão, Sérgio Cabral. “As oficinas de capacitação foram um pedido dos próprios psicólogos, tanto voluntários como da rede pública, que estão trabalhando com as pessoas afetadas pelo desastre”, afirma.

A neuropsicóloga Ozimar Verly, que tem consultório em Nova Friburgo e está atendendo voluntariamente as vítimas, conta que estava com muita dificuldade de abordar as pessoas. Uma das causas é o fato de ela mesma é uma sobrevivente. Ela estava dentro de um carro estacionado na garagem de um edifício que desabou minutos depois que ela saiu, matando dois bombeiros. “Essa capacitação me deu um novo olhar sobre o que está acontecendo e me despertou para coisas que estavam passando despercebidas por mim. E o mais importante é que a presença das psicólogas de Médicos Sem Fronteiras me deu segurança para trazer à tona tudo o que eu já sabia. Por também ter sido vítima eu estava muito abalada”, disse.

Uma das lições aprendidas por MSF e compartilhada nas oficinas é que não é possível um diagnóstico dos traumas causados pela catástrofe durantes os três meses seguintes ao ocorrido. “Sintomas como paralisia, crise de choro e confusão mental que numa situação normal podem indicar algum tipo de trauma são reações comuns de qualquer pessoa que viva uma situação como essa”, explica Letícia Nolasco, psicóloga de MSF que atuou na emergência causada pelas cheias em Alagoas, no ano passado. Débora Noal, que também atua com MSF e esteve no Haiti logo após o terremoto explica que “quando uma catástrofe como essa acontece, reações antes consideradas patológicas são esperadas”.

A estratégia de trabalhar com a qualificação dos profissionais em vez de fazer atendimento direto à população também tem o objetivo de atingir um público grande mesmo com uma equipe reduzida. Além dos treinamentos, MSF colaborou na organização dos voluntários que estão trabalhando na cidade para que não houvesse multiplicação de esforços desnecessários.

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