República Centro-Africana: MSF leva medicamentos e cuidados básicos a área remota no nordeste do país

“Encontramos um antigo centro cirúrgico remanescente da última intervenção de MSF no local, de cinco anos atrás, mas que já quase não tinha teto”

rca-msf152850-msf

A equipe de emergência da organização humanitária internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF) na República Centro-Africana (RCA) realizou uma breve intervenção na remota província de Vakaga, no nordeste do país, onde a oferta de ajuda humanitária tem sido precária, apesar dos evidentes efeitos de anos de conflitos e deslocamentos e da escassez de recursos de saúde na área. A província é lar de cerca de 70 mil pessoas.

“Quando chegamos, na primeira semana de setembro, nos deparamos com uma situação muito precária no que diz respeito a cuidados de saúde. A comunidade nos abasteceu de dados sobre mortalidade, que eram muito alarmantes, equivalentes a duas vezes o que é considerado o patamar de uma situação de emergência”, conta a líder da intervenção médica, Chiara Domenichini. Atualmente, há apenas uma organização humanitária atuando na região. “Faltavam medicamentos essenciais, principalmente antimaláricos. Em alguns dos centros de saúde, não havia macas e encontramos um antigo centro cirúrgico remanescente da última intervenção de MSF no local, de cinco anos atrás, mas que já quase não tinha teto. As cirurgias estavam sendo realizadas praticamente a céu aberto”, acrescenta Chiara Domenichini, que também revelou terem sido detectados alguns casos de lepra.

Foi um membro da comunidade que soou o alarme a respeito da situação na região depois de ter viajado diversos dias para percorrer os 300 km entre Gordil e Nele, onde MSF mantém um de seus projetos regulares. De acordo com Chiara, alguns pacientes se arriscam para chegar à instalação de saúde de MSF, “mas fazer a viagem em meio à estação chuvosa é muito, muito difícil”.

Após duas semanas de atividades, a equipe de MSF desempenhou atividades de suporte para cinco instalações de saúde localizadas nas cidades de Gordil, Ndiffa, Melé, Sikikede e Haifa, para as quais também doou medicamentos. Sessões de treinamento também foram ministradas para 80 funcionários do Ministério da Saúde para melhorar a oferta de cuidados para os habitantes locais. “Entregamos medicamentos e equipamentos para tratar as doenças mais comuns: malária, sarampo e enfermidades respiratórias”, conta a médica. As doações vão permitir que os centros de saúde ofereçam cuidados gratuitos por dois meses, quando o pico de malária associado à estação chuvosa normalmente acaba. As equipes também deixaram suprimentos de alimento terapêutico para as crianças, para prevenir surtos de desnutrição no período. Além disso, a organização estabeleceu mecanismos de comunicação com a comunidade para manter a vigilância, pelo menos, pelos próximos dois meses, para que possa voltar a intervir, se for necessário.

Membros da intervenção médica também se depararam com índices preocupantes de desnutrição infantil. De acordo com MSF, este ano choveu menos que o normal na região e as plantações de milho renderam menos, o que pode levar a condições críticas em meio a uma situação tão precária quanto a observada em boa parte da RCA, onde faltam recursos para muitas comunidades para superarem a escassez resultante da produção de seu próprio milho.

Apesar da chegada da comunidade internacional ao país no início de 2014, coincidindo com o pico de violência intercomunitária e a disputa por poder entre milícias rivais, os centro-africanos ainda estão longe de viver em paz e quase um milhão de pessoas continuam deslocadas de suas casas – metade delas estão refugiadas em países vizinhos. “Em Vakaga, encontramos pessoas deslocadas da outra ponta do país – Bangui, Bria, Kaga Bandoro – e mesmo refugiados chegando do vizinho Sudão”, conta Chiara Domenichini. “Muitas das famílias sudanesas estão especialmente vulneráveis porque é comum que muitos dos homens voltem para suas casas para tentar recuperar parte de seus pertences ou ganhar algum dinheiro para alimentar suas famílias”, conta.

MSF atua na República Centro-Africana desde 1997 e, atualmente, conta com mais de 300 profissionais internacionais e mais de 2 mil nacionais trabalhando no país. Desde dezembro de 2013, a organização dobrou seu nível de oferta de cuidados de saúde em resposta à crise, aumentando de 10 para 21 projetos enquanto operava outras seis intervenções voltadas para refugiados centro-africanos em países como Chade, Camarões e República Democrática do Congo. 

Compartilhar
Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin
Share on whatsapp
Share on print