Rep. Centro-Africana: três profissionais de MSF são mortos no hospital de Boguila

Membros da organização são vítimas da violência indiscriminada que acomete o país

Dezesseis civis, incluindo três membros da equipe nacional da organização humanitária Médicos Sem Fronteiras (MSF), foram mortos durante um ataque à mão armada em um hospital de MSF no norte da cidade de Boguila, na República Centro-Africana (RCA), na tarde de sábado, dia 26 de abril.

MSF condena fortemente o assassinato despropositado de civis desarmados em local claramente identificado como uma instalação de saúde da organização. “Estamos extremamente chocados e tristes com a violência brutal contra nossa equipe médica e a comunidade”, afirma Stefano Argenziano, coordenador-geral de MSF na RCA. “Nossas prioridades são tratar os feridos, notificar membros de suas famílias e garantir a segurança de nosso pessoal, dos pacientes e do hospital.”

“Esse incidente terrível nos levou a suspender atividades em Boguila. Na medida em que permanecemos comprometidos com a provisão de assistência humanitária à comunidade, também precisamos considerar a segurança de nosso pessoal”, diz Stefano. “Por consequência desse ato inconcebível, estamos avaliando se é viável continuar com operações em outras regiões.”

O incidente se deu quando membros do ex-Seleka cercaram a área do hospital de Boguila, onde uma reunião com 40 líderes comunitários convidados por MSF para discutir o acesso a cuidados médicos estava em andamento.

Enquanto alguns dos homens armadas roubaram a sede de MSF e dispararam tiros para o alto, outros se aproximaram do local onde o pessoal de MSF e os membros da comunidade estavam reunidos em bancos. Sem que tenham sido provocados, os homens armados começaram a atirar na multidão, ferindo e matando pessoas.

MSF é a única organização humanitária internacional atuando na região de Boguila para prestar assistência à população que está cada vez mais exposta a ataques mortais e indiscriminados por grupos armados que operam na região. Os eventos de sábado constituem um ataque inaceitável não somente contra os civis, mas, também, contra a capacidade de oferta de assistência médica e humanitária.

MSF pede que todas as partes envolvidas no conflito respeitem a neutralidade do pessoal de saúde, das instalações e das atividades desenvolvidas.

Desde o golpe de estado ocorrido em março de 2013, Boguila tem estado instável com as crescentes tensões e violência, que provocaram o deslocamento massivo da população na região em agosto de 2013. Em dezembro de 2013, muçulmanos que fugiam da violência no vilarejo de Nana Bakassa buscaram refúgio com famílias locais em Boguila, antes de se deslocaram mais para o norte. Mais recentemente, no dia 11 de abril, cerca de 7 mil pessoas fugiram para a mata e cerca de 40 buscaram abrigo no território ocupado por MSF, após um grupo armado ter atacado um comboio acompanhado pela MISCA (Missão Internacional de Suporte à República Centro-Africana), que estava em trânsito por Boguila.

Desde 2006, MSF administra o hospital de 115 leitos em Boguila e oferece cuidados de saúde primária e secundária para uma população estimada de 45 mil habitantes. As equipes da organização também prestam suporte a sete postos de saúde no entorno da cidade, na provisão de cuidados de saúde primária, principalmente tratando a malária e encaminhando os casos graves ao hospital. Mensalmente, entre 9 e 13 mil consultas são realizadas e entre 5 e 10 mil pessoas com malária são tratadas.    

MSF atua na RCA desde 1996. Atualmente, a organização conta com mais de 300 profissionais internacionais e mais de 2 mil centro-africanos atuando no país. MSF administra sete projetos regulares (em Batangafo, Carnot, Kabo, Ndélé, Paoua, Bria e Zémio) e oito projetos de emergência (em Bangui, Berbérati, Bouar, Boguila, Bossangoa, Bangassou e Bocaranga, bem como clínicas móveis no nordeste do país). As equipes de MSF também estão prestando assistência aos centro-africanos que se refugiaram no Chade, em Camarões e na República Democrática do Congo (RDC). 

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