Relato de uma mãe em meio à guerra em Gaza: “Tememos o anoitecer”

Israa Ali, intérprete de MSF, fala dos dias de medo vividos com os filhos sob os bombardeios em Gaza.

MSB171569 - © Mahmud Hams/AFP

Israa Ali é intérprete de Médicos Sem Fronteiras (MSF) baseada em Jabalia, no norte de Gaza. Ela e os filhos foram deslocados de casa devido aos bombardeios, para se proteger dos ataques. Aqui, ela compartilha um pouco do que tem vivido.

“Faltam-me palavras para descrever um dia na vida das pessoas em Gaza neste momento. A manhã começa enquanto já estamos acordados. Nós nos viramos e tentamos dormir por um tempo, mas o som dos bombardeios não permite.

Ficamos acordados, ouvindo as notícias no rádio. Nesta era moderna, deveríamos ter eletricidade e acesso à internet, mas nossos telefones não funcionam.

Corremos para ver se há combustível para ligar o gerador e, em seguida, percebemos que o gerador também não funciona. Aqui, reconhecemos que vivemos em Gaza sitiada.

O som abafado da voz do meu filho lentamente se torna compreensível: ‘Mãe, estou com fome, quero tomar o café da manhã.’

Enquanto faço o café da manhã com o mínimo de suprimentos, começo a me culpar por ter filhos e por tê-los trazido para um mundo com condições tão terríveis e guerras frequentes – especialmente esta guerra miserável.

Quando você tem filhos, faz o melhor para protegê-los e provê-los de tudo. As inúmeras vezes que você escuta os sons fortes de bombas caindo durante o dia valem uma reflexão. É um momento em que é preciso ser uma mãe ou um pai forte, manter a calma para seus filhos. Mas a verdade é que é necessário realmente alguém para te acalmar.

Tememos o anoitecer. Os drones, aviões de guerra, navios de guerra, foguetes pesados e bombas israelenses se espalharam como fogo. Depois de tentar acalmar a mim e aos meus filhos, que acordam muitas vezes chorando, penso no meu pai, na minha mãe e na minha família, que está se abrigando longe, mas nas mesmas circunstâncias.

Você tenta pensar positivamente, que eles estão longe dos alvos das bombas, mas é em vão. Ficarei preocupada até ouvir suas vozes.”

 

 

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