Recuo de financiamento pode prejudicar terapia de Aids

Relatório mostra que expansão do programa para a doença ajudou a reduzir a mortalidade em países com alta incidência de HIV

Um recuo com relação aos compromissos de financiamento internacional para a Aids ameaça prejudicar os ganhos dramáticos conquistados para reduzir a incidência de doenças relacionadas à Aids e a morte nos anos recentes, atesta um relatório divulgados por Médicos Sem Fronteiras (MSF).

O documento de MSF ressalta como não só a expansão do acesso ao tratamento HIV salvou muitas vidas de pessoas com Aids, como também foi essencial para reduzir a mortalidade total em um número de países com alta incidência da HIV no sul da África, nos anos recentes. No Malauí e na África do Sul, MSF observou uma redução significante na mortalidade total em áreas onde a cobertura da terapia antirretroviral (ART) era alta. A melhora na amplitude do tratamento também teve um impacto sobre outras doenças. Os casos de tuberculose, por exemplo, sofreram uma significante redução em Thyolo, Malauí e na província de Cabo Oeste, África do Sul.

“Depois de quase uma década de progresso na implementação do tratamento para Aids, observamos algumas melhoras substanciais, tanto para os pacientes como para o serviço público de saúde. Mas os recentes cortes de financiamento significam que médicos e enfermeiras estão sendo forçados a afastar os pacientes HIV das clínicas, como se estivéssemos de volta a 1990, quando o tratamento ainda não havia sido disponibilizado”, afirma Dr Tido von Schoen-Angerer, diretor da Campanha de Acesso a Medicamentos Essenciais de MSF.

O apoio internacional para combater HIV/Aids está falhando como reflexo da escassez de financiamento significativo. O quadro de diretores do Fundo Global, financiador-chave dos programas de Aids em países pobres, não tem como responder às necessidades dos países e vai votar, na semana que vem em Addis Ababa (Etiópia), se suspenderá todas as propostas de financiamento em 2010. Além disso, a PEPFAR, programa de Aids dos Estados Unidos, só vai financiar por mais dois anos.

“O Fundo Global não deve cobrir o déficit provocado por seus financiadores”, defende von Schoen-Angerer. “A proposta de cancelamento do financiamento em 2010 e outras medidas para diminuir o ritmo da extensão do tratamento estão prejudicando o sucesso dos anos anteriores e evitando que os países salvem mais vidas”.

Em 2005, líderes mundiais prometeram apoio universal à cobertura de Aids em 2010, uma promessa que encorajou muitos governos africanos a lançarem ambiciosos programas de tratamento.

"E a promessa feita às pessoas com Aids? Nós demos a eles esperança e vida. Temos que oferecer apoio a eles, todos sabíamos desde o início que esse tratamento era para a vida toda”, afirma Olesi Ellemani Pasulani, funcionário clínico do Hospital Distrital Thyolo, no Malauí. “Enviar a conta do tratamento de Aids para os países muito pobres seria uma traição colossal”.

A redução de financiamentos agora vai deixar as pessoas que necessitam urgentemente de tratamento para morrer prematuramente e pode levar a uma perigosa interrupção no tratamento. Em Uganda, os cortes já começaram a ser sentidos, fazendo com que algumas unidades tivessem de parar de tratar novos pacientes com HIV. Em Free State, na África do Sul, problemas antigos de financiamento que não foram resolvidos levaram à interrupção de tratamento e a uma moratória no tratamento de novos pacientes, que resultou em cerca de 3 mil mortes.

O relatório fornece evidência de que, particularmente em ambientes de alta prevalência de HIV, o tratamento da Aids tem um impacto positivo em outras metas de saúde, particularmente no que diz respeito à saúde materna e infantil.

“Um maior compromisso com outras prioridades de saúde deve existir, mas isso deveria ser algo a mais, não em vez de um contínuo e crescente compromisso para com a questão do HIV/Aids”, acrescenta von Schoen-Angerer.

Atualmente, mais de 4 milhões de pessoas vivendo com HIV/Aids no mundo em desenvolvimento recebem terapia antirretroviral. Cerca de seis milhões de pessoas que precisam de tratamento capaz de salvar vidas ainda estão esperando por acesso. MSF mantém programas de HIV/Aids em cerca de 30 países e oferece tratamento antirretroviral para mais de 140 mil adultos e crianças HIV positivos.

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