Primeira criança passa por cirurgia no hospital de tendas de MSF em Guiuan

Ayron, de 10 anos, teve sua perna operada

Logo após o tufão, a organização humanitária internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF) instalou um centro cirúrgico inflável em seu hospital de tendas em Guiuan, que é a maior estrutura médica na região ao leste de Samar, fortemente destruída. Ayron Sanchez, um menino de 10 anos, estava para se tornar a primeira criança a ser submetida à cirurgia no novo centro cirúrgico. Esta é sua história.

“Quando Ayron tinha apenas três anos, caiu de uma pequena ponte e suas pernas ficaram presas entre algumas tábuas de madeira. Desde então ele tem tido problemas com sua perna esquerda”, afirma Ruby Sanchez Abendaño, tia do paciente. Ela fica sentada do lado de fora da tenda de cirurgia inflável fazendo companhia ao pai de Ayron, que é um homem tímido e aguarda ansiosamente a o fim da operação de seu filho. Enquanto aguardam, a mulher de 43 anos conta a história de seu sobrinho.

“Sempre achamos que ele perderia a perna”, diz ela. Quando Ayron completou cinco anos, sua perna esquerda começou a inchar. Seus pais o levaram a Mindoro, para uma consulta com um ortopedista. “O médico recomendou a amputação, mas como os pais não tinham dinheiro suficiente para seguir com o procedimento, voltaram para casa.” Após algum tempo, a perna infeccionou e desenvolveu abscessos. Ayron já não podia andar e seu pai, motorista de triciclo, carregava o garoto nas costas. “A criança estava sofrendo muito. Ele tomava antibióticos, mas a perna só piorava”, relembra a tia.

“O tufão Yolanda (como é chamado o tufão Haiyan na região) chegou e destruiu nossas casas.” A família buscou abrigo na casa de um vizinho, que estava mais estável que a deles. “A tempestade acabou com nosso meio de subsistência. Dependíamos do processamento de cocos, e agora a maioria das árvores foi destruída. Se plantarmos novos coqueiros hoje, vai levar dez anos até que possamos colher os frutos”, conta Ruby.
 
Após a tempestade, a família, que vive em uma pequena cidade no alto da costa de Samar, trouxe Ayron a Guiuan, para que um médico de MSF pudesse avaliar sua perna. A prganização está trabalhando no hospital do distrito e em centros de saúde rurais e oferece cuidados médicos gratuitos, na medida em que as autoridades locais não conseguem lidar com as consequências do tufão. Ayron foi imediatamente internado no hospital. „O médico disse que ele precisaria passar por uma cirurgia, mas que não havia necessidade de amputação. Ficamos surpresos, porque sempre pensamos que ele perderia sua perna. Então, dissemos à médica que não tínhamos dinheiro e ela nos disse que não seria necessário. Ficamos tão felizes!“

Depois de três semanas de tratamento, recebendo alimento terapêutico suplementar para ficar mais forte, Ayron finalmente foi submetido à cirurgia no centro cirúrgico estruturado por MSF no terreno do hospital Felipe Abrigo Memorial, em Guiuan. A instalação é parte do hospital de tendas que substitui temporariamente a estrutura de saúde, que foi completamente destruída pelo tufão. “No total, cinco municipalidades, ou cerca de 110 mil pessoas, dependiam do hospital antes da tempestade. A reputação do local era muito boa e algumas alas haviam sido renovadas”, conta Anne Khoudiacoff, que coordena as atividades médicas de MSF em Guiuan. “O hospital de referência mais próximo é em Tacloban, que fica a três horas de estrada e também foi devastado. Por isso, decidimos instalar um hospital temporário em Guiuan. Começamos com apenas alguns leitos; hoje, temos 60 leitos e admitimos até 100 pessoas por semana.” O hospital do distrito, que fora devastado, era o único local que oferecia cirurgia na região. Por isso, MSF decidiu preencher essa lacuna com a instalação de um hospital em tendas. „Durante a primeira semana, fizemos seis cesáreas e sete pacientes foram submetidos a outras cirurgias”, disse a Dra. Anne.

Ayron estava entre esses pacientes: o garoto de dez anos foi a primeira criança a passar por uma cirurgia no novo centro cirúrgico. Após a operação, Rowena Evangelista, uma cirurgiã filipina que trabalhava com uma equipe de MSF em Guiuan, disse que ele tem boas chances de se recuperar e que, provavelmente, voltará a andar. “Ele teve osteomielite crônica, uma infecção do osso da coxa, provavelmente causada por uma infecção viral quando ele tinha cinco anos, e não resultante da queda da ponte”, diz ela. “Ele ainda vai ter de ficar conosco no hospital por pelo menos mais seis semanas para se recuperar. Além disso, ele vai ter de tomar antibióticos e daremos a ele mais alimento terapêutico, para mantê-lo forte.” E, finalmente, o paciente terá de reaprender a andar. De acordo com a Dra. Rowena, essa não será tarefa fácil: ele vai precisar de sapatos especiais, na medida em que sua perna esquerda está alguns centímetros maior do que a direita.

Ayron e sua família estão preparados para enfrentar esse desafio, como conta sua tia Ruby: “Nós pensamos que ele perderia a perna, mas agora ela foi salva. O tufão foi um desastre, mas este hospital é uma benção.”
 
MSF está oferecendo assistência médico-humanitária em cinco das áreas mais afetadas das Filipinas, incluindo três ilhas. A organização presta suporte a hospitais em Tacloban e Burauen, na ilha Leyte, Balasanm na ilha Panay, e Guiuan, na ilha Samar, com o objetivo de restaurar rapidamente os serviços médicos regulares. O suporte inclui a reparação de prédios danificados, a provisão de suprimentos médicos, medicamentos e pessoal e a instalação de serviços de ambulância.

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