Pandemia de COVID-19 continua a ser agravada pelo medo e pela desinformação no Iêmen

Além da falta de centros de saúde adequados para identificar e tratar os pacientes, o medo e o estigma afastam as pessoas dos centros de tratamento da COVID-19 no país

Pandemia de COVID-19 continua a ser agravada pelo medo e pela desinformação no Iêmen

Um ano após o início da pandemia da COVID-19 no Iêmen, o estigma, a desinformação, o medo de ser detido e a falta de conhecimento sobre a presença de centros de isolamento continuam a impedir as pessoas de buscarem tratamento para a doença em tempo hábil.

“Alguns pacientes ficam em casa por um tempo depois de apresentarem os sintomas e podem chegar ao hospital nos estágios mais graves da doença. Muitos são transferidos para cá sem oxigênio, principalmente os que vêm de lugares distantes”, diz Saddam, supervisor da unidade de terapia intensiva do centro de isolamento de Al Jumhouri. “Por isso, aconselhamos a todos os pacientes que se dirijam ao posto de saúde mais próximo, uma vez que eles apresentem sintomas como febre, tosse e dificuldade para respirar. De lá, os pacientes podem ser transferidos para os centros de tratamento da COVID-19 mais próximos se precisarem de cuidados adicionais”, acrescenta.

Outra questão é a disseminação da desinformação sobre os centros de isolamento, bem como o medo do estigma. As pessoas temem receber injeções letais ou até mesmo serem detidas contra sua vontade se visitarem um centro da COVID-19. Muitos pacientes e prestadores de cuidados insistem em deixar o hospital mais cedo, contra orientação médica, por temerem que quanto mais tempo permanecerem, maiores serão as chances de serem estigmatizados por parentes e amigos.

No Iêmen, existem poucos centros de tratamento da COVID-19 totalmente funcionais. Em algumas unidades, os profissionais de saúde costumam não se sentir confortáveis trabalhando sem o equipamento de proteção necessário. O medo da estigmatização dificulta o acesso aos poucos centros funcionais da COVID-19.

Muhammad, um paciente do centro de tratamento de Al Jumhouri, diz que não tinha conhecimento de nenhuma unidade de saúde na província de Dhamar, onde ele mora, que pudesse prestar cuidados aos pacientes da COVID-19. Então, ele precisou viajar por 3 horas para chegar em Sanaa. Após sua recuperação, ele nos conta, em tom de brincadeira, enquanto fica ao lado do filho na porta de saída, que a equipe do centro de tratamento da COVID-19 lhe proporcionou um atendimento de qualidade que até mesmo seus filhos não poderiam fornecer a ele.

A dra. Sana, que trabalha com MSF no centro de tratamento da COVID-19 apoiado pela organização do hospital Al Jumhouri em Sanaa, só pode confirmar o que nossos pacientes estão passando antes de chegar ao centro de tratamento em Al Jumhouri: “os pacientes chegam até nós de diferentes províncias do Iêmen, como Hajjah, Al Mahwit e Hodeidah, entre 3 e 6 horas de carro de Sanaa. “

A adoção das medidas preventivas contra a COVID-19 no Iêmen é bastante reduzida. Isso pode estar ligado a atividades limitadas de conscientização da população, como é feito para outras doenças, como a cólera. Outro desafio para a comunidade é identificar a gravidade dos sintomas da COVID-19 para buscar atendimento em tempo hábil. MSF está lidando com esses desafios por meio de promotores de saúde que atuam no departamento da COVID-19, mas infelizmente a equipe está limitada à comunicação dentro da unidade de tratamento e, desse modo, não pode alcançar a população que teme vir ao centro de saúde. Os promotores de saúde são fundamentais para transmitir mensagens de prevenção contra a COVID-19 e esclarecer equívocos e rumores relacionados a esta doença, que tem impactado os sistemas de saúde em todo o mundo.

Ebtisam, que atua como promotora de saúde no centro de isolamento desde sua inauguração em abril de 2021, afirma: “apesar das dificuldades em relação à educação em saúde relacionada à COVID-19 no Iêmen, estamos fazendo o nosso melhor para esclarecer equívocos sobre a doença e divulgar informações aos pacientes e seus acompanhantes sobre como se proteger e quando e onde receber o tratamento. Também fornecemos apoio aos pacientes e aumentamos a confiança entre eles e a equipe médica para reduzir o medo que eles têm, e isso se reflete claramente quando eles deixam o centro em um ótimo estado de saúde.”

“A COVID-19 está afetando todos nós. É responsabilidade de todos contribuir para o controle desta doença e proteger uns aos outros. É muito importante que apliquemos essas regras muito simples de higiene, como usar máscaras em áreas lotadas, manter o distanciamento e lavar as mãos. Essas medidas evitarão mais transmissão de infecções”, diz Gilles Grandclement, coordenador de projeto de MSF no Hospital Al Jumhouri em Sanaa.

Lembre-se sempre de procurar atendimento ao apresentar sintomas de tosse, febre e dificuldade para respirar. Os centros de tratamento da COVID-19 são desenvolvidos especificamente para fornecer cuidados vitais para pacientes com a doença!

 

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