Os sírios estão enterrados sob as bombas

Por Joanne Liu, presidente internacional de Médicos Sem Fronteiras (MSF)

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Enquanto políticos se reuniam em Londres na semana passada para discutir o envio de ajuda à Síria, o sofrimento terrível continuou inabalável. Os sírios estão vivendo sob bombardeios, na medida em que centenas de dispositivos explosivos são lançados sobre suas cidades e povoados todos os dias – predominantemente pelo seu próprio governo. A situação é agravada por ataques aéreos russos, norte-americanos, franceses e britânicos, forçando ainda mais pessoas a fugir em busca de segurança. No entanto, suas opções para escapar estão se esgotando rapidamente.

Para aqueles encurralados na Síria, a destruição de infraestruturas essenciais – incluindo hospitais, clínicas, escolas, estações de água, armazéns de grãos e padarias – tornam a vida cada vez mais insustentável. De acordo com um grupo de monitoramento confiável, nos três meses que antecederam janeiro, 53 instalações médicas, 37 escolas ou espaços educacionais e 20 mercados, pontos de distribuição de alimentos ou padarias foram atingidos por ataques aéreos. A guerra na Síria está sendo travada contra a sua própria população.

Caminhões, centros de trânsito e estradas também têm sido fortemente bombardeados, interrompendo a rota de suprimentos para a chegada de itens essenciais, incluindo alimentos, combustível e ajuda humanitária para cerca de 600 mil pessoas no distrito de Azaz e no leste da cidade de Aleppo.

Na Síria, o acesso da população à ajuda humanitária é extremamente limitado, com poucas organizações autorizadas atuando nas regiões controladas pelo governo. Um número ainda menor trabalha em áreas controladas pelo autoproclamado Estado Islâmico. Milhões de pessoas não recebem assistência alguma.

A organização humanitária internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF) estima que mais de 1,5 milhão de pessoas estejam encurraladas em cercos impostos pela coalizão liderada pelo governo sírio, assim como por grupos de oposição. Suprimentos médicos são sistematicamente bloqueados e a evacuação de pacientes gravemente doentes ou feridos se torna impossível sob cerco. Madaya é um exemplo extremo do uso de táticas de sítio na Síria, onde médicos apoiados por MSF na cidade reportaram que 49 pessoas morreram de fome – até agora.

Fugir é a única opção para muitas pessoas, mas está ficando cada vez mais difícil. A violência já forçou 6,5 milhões de pessoas – metade delas criança – a fugirem de suas casas dentro do país. Cerca de 120 mil pessoas foram forçadas a deixarem suas casas nas províncias de Aleppo, Hama e Idlib em setembro – consequência direta da intensificação das campanhas de bombardeio.

Outras 4 milhões deixaram a Síria, algumas tentando reconstruir suas vidas na Jordânia, no Líbano ou na Turquia, outras arriscando suas vidas cruzando o mar até a Europa.

Mas fugir da Síria está ficando cada vez mais difícil. As fronteiras jordanianas e libanesas estão praticamente fechadas, enquanto o Iraque, mergulhado em sua própria violência, não é uma opção. Até fugir dos bombardeios para qualquer lugar na Síria, na maioria das vezes, está fora de questão, com tantas regiões sitiadas ou controladas por grupos como o autoproclamado Estado Islâmico.

Nesse meio tempo, a União Europeia tem terceirizado a gestão das suas fronteiras para a Turquia, entregando mais de três bilhões de euros em troca de uma repressão aos sírios na esperança de fugir para a Europa. Há um grande impacto no fechamento das fronteiras da Europa até a Síria, resultando em civis encurralados em uma das guerras mais brutais do nosso tempo.

Ao longo dos últimos cinco anos, as partes beligerantes, incluindo quatro membros do Conselho de Segurança da ONU, não só falharam com a população síria, mas também aumentaram ativamente seu sofrimento. E eles têm a responsabilidade de poupar os civis. Devem ser encontradas soluções para reduzir o grande fardo que a população tem carregado dentro da Síria e na tentativa de fugir do país.

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