“O que MSF deixou pra gente é uma coisa que eu tenho muito prazer em falar”

No último dia 27 de novembro, os moradores de Portus e os profissionais de saúde da unidade do PSF-Portus comemoraram 2 anos desde que o projeto – inicialmente de MSF – passou a ser desenvolvido pela comunidade e pela prefeitura

Em 1998, MSF implementou o Programa de Saúde da Família na comunidade de Portus, no Bairro de Costa Barros, na Zona Norte do Rio de Janeiro, onde haviam sido assentadas cerca de 1.000 famílias, a maioria formada por gente que vivia nas ruas da cidade ou em áreas de risco de diversas partes do município. Há dois anos, em novembro de 2001, o projeto foi repassado para a ONG Campo que, em parceria com a prefeitura do Rio de Janeiro, vem dando continuidade a este projeto. No último dia 27 de novembro, os moradores de Portus e os profissionais de saúde da unidade do PSF-Portus comemoraram 2 anos desde que o projeto – inicialmente de MSF – passou a ser desenvolvido pela comunidade e pela prefeitura. Em entrevista para o Newsletter MSF, Maria Luiza Pinto Rodrigues, moradora da comunidade de Portus, e há cinco anos agente comunitária de saúde, fala como a implantação do projeto de Portus mudou a vida da comunidade.

Você acompanhou todo o processo da intervenção de Médicos Sem Fronteiras?
Desde o começo. Desde o começo que o projeto foi implantado, eu estou fazendo este trabalho com muito orgulho.

E como era antes da implantação deste posto de saúde em Portus?
Olha, antes nós, moradores, não tínhamos uma perspectiva de estar na área da saúde, na área social. Porque era um lugar onde as pessoas foram reassentadas, mas só reassentadas e não tinham nada. Longe de posto de saúde, longe de algum serviço social, não tínhamos nada. Então chegou Médicos Sem Fronteiras e implantou o programa de saúde da família, a parte social… Um trabalho muito bonito que eu tenho orgulho até hoje de falar.

E antes, como vocês faziam para ter acesso a qualquer serviço social ou de saúde?
Ah,era muito difícil porque era muito longe. Era assim tudo pra Irajá, Madureira ou então pro Centro da cidade. Era muito difícil.

E tinha que tomar ônibus?
Sem dúvida. Muitas pessoas não tinham condições, às vezes, da passagem . Então ficava muito difícil. Hoje não. O que Médicos Sem Fronteiras deixou hoje pra gente é uma coisa que eu tenho prazer de falar, me sinto muito feliz e hoje tem ainda nosso trabalho na comunidade. As pessoas não esquecem de Médicos Sem Fronteiras, né? Até hoje eles pensam “Poxa, você é um Médicos Sem Fronteiras”, aí a gente tem que falar que não, que a prefeitura que nos assumiu. Mas deixou muita saudade.

E para comunidade como foi depois, durante o processo de saída de MSF?
Durante o processo foi ótimo. Nós tínhamos todo um respaldo para trabalhar com a comunidade, ver as necessidades deles, pra ajudá-los principalmente na minha área. Minha área era do pessoal que veio da Fazenda Modelo. Na época o prefeito pegou aquelas famílias e reassentou, famílias que nunca tinham tido casa passaram a ter suas casas e um atendimento de saúde dentro de casa, uma coisa que pra elas era inédito. É um trabalho muito bonito, até hoje a gente tenta manter este trabalho.

E aí depois, como a intervenção de MSF mudou a vida das pessoas na comunidade?
Teve uma grande mudança. As pessoas passaram até a participar mais, as pessoas passaram a se interessar, as pessoas passaram a estar procurando mais, formando, por si próprio, um fórum comunitário pra nós trazermos Correio para cá, porque nós não tínhamos um Correio. O Correio foi uma coisa conquistada por MSF com muita luta. E além do Correio tiveram outras coisas, a própria CRE (Centro Regional de Educação) ta chegando, as creches… Então tudo isso foi uma conquista da época quando Médicos Sem Fronteiras estava lá.

Então você acha que Médicos Sem Fronteiras abriu o posto de saúde e acabou abrindo indiretamente a entrada para outros serviços, como educação?
A parte social toda foi aberta através deste trabalho de Médicos Sem Fronteiras, e aí a comunidade passou a estar mais unida, já que era uma comunidade reassentada de um canto e de outro, de pessoas de rua que nunca tiveram aquelas oportunidades. Então foi um trabalho amplo, muito bonito e que hoje, graças a Médicos Sem Fronteiras, o que temos na comunidade é através deste projeto.

A partir do momento que a comunidade passou a ter acesso a saúde, você acha que a comunidade se organizou para exigir da prefeitura outros benefícios sociais?
Sem dúvida. A comunidade passou a conhecer seus direitos e seus deveres. O direito de exigir da prefeitura uma limpeza pra comunidade, de pedir uma iluminação para as ruas, pra chegar a correspondência dentro da própria casa. Então acho que foi uma conquista e tanto pra comunidade.

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