O poder do brincar para a saúde infantil

Veja cinco maneiras pelas quais as brincadeiras podem mudar a vida de crianças em regiões de crise

Na Nigéria, promotores de saúde de MSF realizam sessão sobre os riscos da desnutrição. @ Zoe Bennell/MSF

Brincar melhora a saúde, promove a recuperação e aumenta muito a qualidade de vida de todas as crianças. Não tem efeitos colaterais, não requer armazenamento especial e pode ser prescrito com segurança por qualquer pessoa, em qualquer lugar.

Em todo o mundo, a maioria dos pacientes de Médicos Sem Fronteiras (MSF) são crianças. Elas são quase sempre as mais vulneráveis em surtos de doenças, em desastres naturais e nas duras condições de vida enfrentadas por pessoas que fogem de conflitos ou dos impactos da mudança climática.

Embora a resposta humanitária geralmente se concentre em alimentos, abrigos e cuidados médicos, as crianças têm outra necessidade inerente que é frequentemente ignorada: brincar.

Principalmente nos primeiros cinco anos, brincar estimula o desenvolvimento do cérebro, forjando conexões neurais e influencia a trajetória da pessoa ao longo da vida. Mas crianças de todas as idades precisam brincar.

Veja por que brincar é especialmente importante para as crianças em locais vulneráveis:

1.Crianças em regiões de conflito

Atualmente, estima-se que 473 milhões de crianças vivam em áreas afetadas por conflitos. Isso representa mais de uma em cada seis em todo o mundo.

As brincadeiras podem ajudar as crianças a processar sentimentos complexos de medo, tristeza e incerteza. Em zonas de conflito, onde a criança perdeu todos os sentimentos de familiaridade e controle, a brincadeira pode ajudá-la a manter um senso de identidade – de quem ela é -, além de reduzir o impacto do estresse e desenvolver a resiliência.

As crianças também têm uma necessidade inerente de brincar e tentarão fazê-lo mesmo nas condições mais difíceis.

Rayan, 7 anos, em um acampamento de refugiados no Chade. @ Thibault Fendler/MSF

2. Crianças hospitalizadas

Em 2023, equipes de MSF atenderam mais de meio milhão de crianças com menos de 5 anos de idade para cuidados hospitalares urgentes. São jovens pacientes gravemente doentes ou com ferimentos complexos.

Eles também estão em um ambiente estranho, em alguns casos separados de suas famílias e das coisas familiares que lhes trazem conforto.

Brincar ajuda a regular os hormônios do estresse, como o cortisol, reduzindo a dor e a ansiedade. Isso não apenas reduz o sofrimento durante os procedimentos médicos, mas também significa que as crianças se recuperam mais rapidamente.

Hala, 4 anos, brinca um dia depois que os cirurgiões da unidade de reconstrução de membros de MSF, em Gaza, operaram seu pé. @ Virginie Nguyen Hoang

3. Crianças com desnutrição

A desnutrição não causa apenas fome – ela tem consequências graves para o crescimento e o desenvolvimento das crianças. A desnutrição pode causar perda de massa muscular, inchaço (edema) e fadiga, fazendo com que as crianças se retraiam e tenham menos probabilidade de receber o estímulo necessário para aprender e crescer.

Brincar ativa a mente, movimenta os músculos e fortalece as relações entre as crianças e seus cuidadores. Juntamente com medicamentos apropriados e alimentos terapêuticos, as brincadeiras podem ajudar as crianças com desnutrição a se recuperar cognitivamente, emocionalmente, socialmente e fisicamente.

Amaka Joseph, 35 anos, brincando com seus filhos, de 11 meses, durante a recuperação deles. Os bebês estavam recebendo tratamento para desnutrição em uma instalação de MSF na Nigéria. @Kc Nwakalor

4. Crianças em qualquer situação de emergência

Brincar é vital para a vida e a saúde de uma criança. No entanto, em situações de emergência, os adultos podem se ver obrigados a priorizar alimentos, abrigo e medicamentos, enquanto as crianças podem ser prematuramente colocadas para trabalhar e ajudar a sustentar a família, deixando-as com pouco tempo para brincar. Pais e os cuidadores podem ter dificuldade para atender à necessidade de brincar da criança, já que estão enfrentando seu próprio sofrimento e luto.

A ajuda humanitária, incluindo cuidados médicos e de saúde mental, pode aliviar algumas das piores pressões sobre as famílias em regiões de conflito (embora os cortes nos financiamentos coloquem esses serviços sob ameaça em muitos lugares ). Onde quer que essa assistência seja prestada – acampamentos de refugiados, hospitais ou por meio de equipes móveis – brinquedos e a decoração infantil podem criar ambientes adequados para que as crianças e suas famílias se sintam seguras e reconectadas por meio de brincadeiras.

A falta de brinquedos não é uma barreira. A possibilidade de brincar existe em todos os lugares, a qualquer momento. Uma piada, uma música ou uma dança divertida são formas de tornar a brincadeira parte da vida cotidiana da criança . Um simples jogo de “esconde-esconde” desenvolve as habilidades de linguagem das crianças e ajuda a estabelecer relacionamentos estáveis e estimulantes.

Adama, 12 anos, brinca com seus dois irmãos mais novos perto da tenda onde dormem, em um acampamento de refugiados no Chade. @ Fausto Podavini

5. Promovendo a brincadeira em MSF

Para promover as brincadeiras como uma forma de trabalhar a saúde das crianças, MSF desenvolveu um guia para os profissionais da organização que atuam principalmente em situações de conflito, emergências ou desafios de saúde. Além disso, MSF tem oferecido apoio extra às equipes que desejam desenvolver o uso de brincadeiras em seus projetos.

O guia foi criado pela terapeuta lúdica Katherine Haciomeroglu, que passou um ano trabalhando com pacientes e profissionais de MSF em Serra Leoa.

Seu objetivo foi ajudar as equipes de MSF a tornar as brincadeiras uma parte fundamental dos cuidados que oferecem às crianças, especialmente as menores de 5 anos. Isso inclui dicas para a criação de espaços infantis adequados, orientação sobre atividades que se adaptem aos estágios de desenvolvimento das crianças e sobre como fazer brinquedos a partir de materiais disponíveis.

A brincadeira está consagrada na Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança e é um elemento essencial em suas vidas e sua rotina de cuidados, independentemente das circunstâncias.

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