O duro retorno à paz no Sudão

Milhares de refugiados estão voltando pra casa e as necessidades humanitárias continuam enormes. MSF passou a tomar conta de um hospital em ruínas na cidade de Bor para aliviar as necessidades de saúde de uma população que está crescendo rapidamente

Um enorme barco levou 311 sudaneses refugiados e deslocados internos para a cidade de Bor. Eles finalmente retornam às suas casas. Para muitos, mais de 20 anos se passaram desde a última vez que eles estiveram aqui.

Durante décadas, o Sudão foi um país em guerra. Ainda ocorrem conflitos em Darfur, região no oeste da região do país, mas a guerra civil entre o governo do norte e os rebeldes do sul acabou oficialmente com a assinatura do acordo de paz, em janeiro de 2005.

A cidade de Bor, no sudeste do estado de Jonglei, foi o berço do levante contra o governo de Khartoum. É a cidade natal do falecido John Garang, que liderou o Movimento pela Liberação do Povo do Sudão (SPLM) durante a guerra.

Forçados a fugir

Assim como outras grandes cidades no sudeste do Sudão, durante a guerra Bor foi ocupada e controlada pelo governo por mais de uma década, e milhares de pessoas foram obrigadas a fugir. A população de Bor diminui de 85 para 2 mil pessoas. Muitos refugiados foram perseguidos em países vizinhos como o Quênia e Uganda. Outros fugiram para outras localidades no próprio Sudão .

Agora que a paz retornou, os refugiados e os deslocados internos estão voltando. Atualmente, cerca de 47 mil pessoas vivem em Bor. Mas a cidade é também uma importante passagem para as pessoas que retornam para suas casas em outras partes do sudeste do Sudão.

Um campo foi montado ao longo do Rio Nilo para receber temporariamente estas pessoas. Como elas estão vindo de barco, os moradores deste campo e de Bor recebem carinhosamente as pessoas que chegam.

Começando do zero

As pessoas que retornam para o seu país encontram grandes necessidades humanitárias. Em relação a cuidados de saúde, agricultura, moradia e segurança a situação é extremamente difícil.

"Eles estão retornando para lugares que, em muitos casos, foram completamente destruídos", diz o coordenador geral David Veldeman. "É preciso muita vontade para retornar para estas áreas. As pessoas que voltaram estão começando do zero".

A guerra deixou Bor em condições sanitárias deploráveis. A principal fonte de água é o poluído Rio Nilo, que usam para tomar banho, lavar roupa e beber água. Estas condições são ideais para doenças se espalharem, especialmente porque estas pessoas estãoem deslocamento.

Na última primavera, um surto de cólera aconteceu na cidade

O centro de tratamento de cólera de MSF ficava em um pequeno campo com barracas brancas, cercadas por uma grade de plástico laranja. Cada um que entrava ou saía do campo, devia lavar as mãos e as solas dos pés em uma solução de cloro para controlar a transmissão da doença.

Devido ao forte calor, os pacientes adoravam passar o dia fora das barracas para aproveitar o frescor das sombras das árvores. Perto de cada maca, há um balde para vomitar e embaixo da maca um outro balde para diarréia.

Monday Frances foi um paciente do centro de tratamento de cólera de MSF. Ele tinha 11 meses e estava com diarréia e muito desidratado. "Ele perdeu muito líquido. Até os seus olhos estão totalmente secos. Eu tenho quase certeza de que ele tem cólera", disse a enfermeira Rakel Ludviksen.

Depois de três dias de tratamento, Monday Francês foi re-hidratado e curado. A mãe do Monday pôde levá-lo pra casa vivo.

Centro de saúde em ruínas

Do lado do centro de tratamento de cólera de MSF fica o Hospital Geral de Bor, ou o que restou dele.

Um terremoto destruiu grande parte da estrutura do hospital em 1971. Durante duas décadas de guerra, profissionais de saúde sudaneses mantiveram o hospital funcionando. Mas a falta de pessoal qualificado e, na prática, a falta de todos os recursos necessários tornaram o trabalho muito difícil.

"Quando eu cheguei aqui, eu não consegui acreditar que era uma hospital", disse o coordenador logístico Mulla John. Agora ele é o responsável pela revitalização da estrutura. Finalmente o hospital tem luz elétrica e água potável – condições essenciais para atender às necessidades de saúde da população de Bor e dos refugiados que estão retornando.

A quantidade de pacientes está aumentando desde que MSF é o responsável pelo Hospital Geral de Bor. Agora que a cidade 'abriu as portas' e as pessoas podem se mover livremente, o hospital está voltando a ser uma referência central.

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