“O bebê só sobreviveu 12 horas em nossos braços”

Combatendo as taxas de mortalidade infantil em Serra Leoa

"O bebê só sobreviveu 12 horas em nossos braços"

Ele não pôde salvar a vida de seu quinto filho. Mas pelo menos salvou sua esposa grávida. Fassineeh Kamera é um jovem de Bondayilahun, um vilarejo no distrito de Kenema. Ele se senta ao lado do promotor de saúde Tamba Magnus Aruna em um banco de madeira na sombra de sua casa e conta sua história. Ele quer que o mundo inteiro saiba o que aconteceu com sua família anos atrás.

Fassineeh estava trabalhando em um vilarejo remoto quando recebeu uma ligação de casa. Sua esposa estava com sete meses de gravidez quando o sangramento começou repentinamente. Ele queria voltar para casa imediatamente, mas a viagem foi longa – e cara. “Eu tive que vender meus sapatos para juntar o dinheiro”, conta. Depois de chegar em casa, ele caminhou com a esposa grávida por quilômetros pela floresta. Horas depois, eles finalmente chegaram a um posto de saúde com o banco de sangue de que precisavam.

Desapontamento
Fassineeh doou sangue para sua esposa e estava cheio de esperança. De fato, ele logo ouviu o primeiro choro de seu filho. “Eu queria dançar de alegria”, diz ele, se não estivesse sem forças. Ele estava deitado na cama do hospital ao lado de sua esposa e do bebê. No entanto, o momento de felicidade durou apenas um curto período de tempo. “O bebê só sobreviveu 12 horas em nossos braços. Então, nós o perdemos”. A ajuda médica chegou tarde demais.

Este não é um incidente isolado, mas uma realidade na Serra Leoa – um país com uma linha tênue entre vida e morte: uma em cada cinco crianças no distrito de Kenema morre antes de completar 5 anos de idade. Mulheres grávidas e mães de vilarejos remotos costumam chegar tarde demais aos poucos centros de saúde que existem. Tamba quer mudar isso. O promotor de saúde trabalha com MSF desde 2005. Regularmente, ele e sua equipe visitam vilarejos como Bondayilahun. As crianças já vêm correndo em sua direção, acenando e sorrindo.

Todos na região sabem o nome dele. Tamba possui gráficos coloridos com ilustrações. Ele informa a população sobre prevenção de saúde e sobre o que fazer em caso de diarreia ou malária. Além disso, ele encaminha pacientes para os postos de saúde regionais de MSF.

Sensibilidade
Tamba incentiva a população a abordar questões delicadas. “No futuro, eu gostaria de decidir por mim mesma se e quando vou engravidar”, diz uma mãe de cinco filhos. Quando se trata de perguntas sobre contracepção, HIV e planejamento familiar, é necessário ter a sensibilidade certa.

A equipe móvel ajuda nas consultas médicas. Para Tamba, nenhum obstáculo é grande demais para alcançar as pessoas que mais precisam de ajuda. No entanto, há limites além do seu controle. “Na estação de chuvas, muitas vezes ficamos presos na lama por horas”, ele conta.

Em caso de emergência, os minutos podem decidir entre a vida ou a morte. Nos vilarejos sem eletricidade, os partos domiciliares são feitos à luz de lanternas. As complicações geralmente são fatais, lembra Tamba. “Parte o coração de alguém ver uma mãe morrer, tentando dar à luz um filho”, resume.
 

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