Novo medicamento para leishmaniose visceral é registrado na Índia

Novo medicamento para leishmaniose visceral é registrado na Índia

Geneva, 23 de junho de 2002 – A organização internacional de ajuda humanitária Médicos Sem Fronteiras (MSF) dá boas-vindas à notícia dada pela Organização Mundial de Saúde (OMC), esta semana, de que o miltefosina, novo medicamento para o tratamento de leishmaniose visceral*, foi registrado na Índia e pode agora ser usado para o tratamento de pacientes infectados por esta doença fatal.

Leishmaniose visceral afeta aproximadamente meio milhão de pessoas em todo mundo, em áreas remotas e empobrecidas no mundo menos desenvolvido. Sem tratamento, a doença é quase sempre fatal.

“É uma notícia excelente para pacientes com leishmaniose”, disse o Dr. Bernard Pécoul, diretor da Campanha de Acesso a Medicamentos Essenciais de MSF. “São necessários tratamentos novos e efetivos urgentemente. Apesar das limitações, miltefosina é o primeiro medicamento via oral a tratar a doença, fazendo com que o tratamento seja muito mais prático do que o atual, feito através de injeções”.

“O miltefosina precisa agora ser colocado à disposição de outros países afetados por esta doença fatal. O medicamento também precisa ter um preço acessível àqueles que precisam dele. Nós esperamos que os preços possam cair para aproximadamente US$ 10 por tratamento. Este é mais ou menos o preço da versão genérica do SSG, o medicamento mais usado hoje em dia”.

Virtualmente, nenhum tratamento novo fez-se disponível para doenças tropicais nas últimas décadas, embora elas matem milhões de pessoas por ano em países em desenvolvimento. Um artigo publicado na “Lancet”, no dia 23 de junho, mostra que, de 1393 novos medicamentos desenvolvidos entre 1975 e 1999, somente 16 são direcionados a tratar doenças tropicais e tuberculose.

A sociedade não conseguiu investir recursos suficientes para combater as doenças que afetam principalmente os pobres: as perspectivas de mercado e o retorno dos capitais ditam os investimentos da indústria farmacêutica de hoje, e as doenças dos desprivilegiados ficam negligenciadas.

Os autores dos artigos da “Lancet” concluem que a crise das doenças mais negligenciadas exige uma combinação de novas estratégias. É necessário que se crie uma política farmacêutica internacional direcionada a todas as doenças negligenciadas. Mais ênfase e investigação devem ser colocados nos mecanismos capazes de obrigar o setor privado a investir em doenças que atingem os mais pobres (…).

O desenvolvimento de medicamentos não pode ser deixado somente a cargo da indústria privada. Se não houver uma mudança no foco da pesquisa e desenvolvimento, a necessidade de milhões de pessoas nos países em desenvolvimento continuará sendo amplamente ignorada.

Nota
*A leishmaniose visceral, também conhecida como “febre negra”, é considerada uma epidemia parasitária em 62 países. 200 milhões de pessoas correm o risco de serem picadas pelas moscas infectadas que disseminam o parasita. 90% dos casos ocorrem no Sudão, Bangladesh, Nepal, Índia e Brasil.

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