No Egito, MSF fornece cuidados médicos para refugiados da guerra no Sudão

Projeto em parceria com organizações locais também atende comunidades egípcias que têm dificuldades de acesso à saúde

Ilustração representa atividade de saúde mental em uma das clínicas móveis de MSF em Aswan, no sul do Egito, realizadas em parceria com a Fundação Om Habibeh. ©Dora Naliesna/MSF

Desde janeiro de 2025, Médicos Sem Fronteiras (MSF) e a Fundação Om Habibeh* (OHF) operam uma clínica móvel em cinco locais da província de Aswan, no sul do Egito, para ampliar o acesso à saúde e apoiar o sistema local. A equipe já realizou mais de 7.265 consultas gerais, 6.600 atendimentos para doenças não transmissíveis, além de 1.470 consultas individuais de saúde mental e 2.440 sessões de promoção da saúde. 

A atividade atende tanto egípcios quanto parte dos 1,5 milhão de sudaneses que hoje vivem no Egito, muitos dos quais cruzaram a fronteira após o início da guerra no Sudão, em abril de 2023, e enfrentam agora longas barreiras para acessar serviços de saúde. 

Entre essas pessoas está Khaled**. Sentado em um canto da sala de espera, ele segura o cartão de registro do ACNUR (Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados) em uma mão e um pequeno saco plástico cheio de embalagens vazias de medicamentos na outra. Esta é sua terceira visita à clínica em Daraw, onde recebe tratamento para uma doença crônica. 

 

Tínhamos uma vida confortável no Sudão e foi muito difícil deixá-la para trás. Mas era a nossa única opção.”

O paciente, natural de Jezirah, no Sudão, e hoje morador de Daraw relatando a dificuldade de acesso à saúde. Nosso país natal ficou sem assistência médica, e pessoas idosas como eu não conseguem ficar muito tempo sem cuidados de saúde.” 

Todas as manhãs, uma equipe conjunta de MSF e OHF — formada por médicos, enfermeiros, psicólogos e educadores de saúde — visita esses locais para oferecer cuidados médicos primários a pessoas que não têm acesso a eles em outros lugares.  

 

Trabalhar com a comunidade: um componente essencial 

Desde o início das atividades, as duas organizações sabiam que, para alcançar as populações-chave e se adaptar às suas necessidades, precisavam se envolver estreitamente com elas. Embora os egípcios e os sudaneses coexistam em Aswan, suas necessidades são diferentes, assim como seus comportamentos em relação ao acesso à saúde.  

Para os sudaneses, que deixaram suas casas com muito pouco, há desafios e necessidades adicionais. Para muitos, o status legal muitas vezes determina sua liberdade de movimento e acesso à saúde, devido ao medo de intimidação ou reações violentas contra eles.  

“Fugir da guerra e ser forçado a deixar sua casa para trás causam um sério impacto na saúde mental das pessoas. Atendemos muitos pacientes que sofrem de ansiedade, depressão ou transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) devido ao que passaram no Sudão ou no trajeto até aqui e à incerteza de suas vidas atuais”, explica Moses Luhanga, coordenador de de promoção da saúde de MSF no Egito. 

Sem o envolvimento da comunidade, é difícil chegar até ela e compreender suas necessidades. As equipes com as quais trabalhamos contam com vários mobilizadores comunitários, que atuam como elo entre a organização e as pessoas que necessitam de cuidados médicos.   

Embora as necessidades sejam diferentes e os desafios que as impedem de ter acesso aos cuidados de saúde também, o aspecto financeiro continua sendo a maior limitação comum a muitas delas, seja para chegar às instalações, seja para comprar os medicamentos prescritos.  

Este é o caso de Heba**, egípcia e mãe de sete filhos, que tem dificuldade em cobrir todas as suas despesas médicas e alimentar a família ao mesmo tempo. “Embora eu tenha acesso aos serviços públicos como mulher egípcia, prefiro vir aqui, pois recebo todos os meus medicamentos gratuitamente”, diz ela. “Isso me ajuda a economizar algum dinheiro para minha família, em vez de pagar na farmácia.” Para muitos na província de Aswan, tanto sudaneses quanto egípcios, o custo de vida está aumentando. 

 

Cuidados que vão além da assistência médica básica  

Em Karkar, 70 quilômetros ao sul de Daraw, Aliya** tem uma história diferente. Ela veio pela primeira vez à clínica quando descobriu que estava grávida, pensando que poderia dar à luz seu bebê no local.  

Embora a equipe médica não ofereça serviços de parto, nossa equipe de encaminhamento garante que as pacientes que precisam de cuidados médicos adicionais sejam encaminhadas a outras organizações ou unidades de saúde.  

“Fiquei muito aliviada quando me disseram que meu parto seria atendido pela equipe médica, incluindo os custos de transporte para o hospital. Não tenho dinheiro suficiente para pagar por isso”, diz Aliya, com um grande sorriso no rosto.  

Aliya*, paciente sudanesa atendida pela clínica móvel. À direita, Ala’a Salah Eddin, mobilizadora comunitária e elo essencial entre moradores e organizações humanitárias. ©Dora Naliesna/MSF

Diariamente, uma enfermeira de encaminhamento de MSF acompanha os pacientes que necessitam de serviços adicionais que nós não podemos oferecer. Embora muitos dos pacientes, incluindo Aliya, necessitem de cuidados médicos secundários, outros solicitam serviços não médicos, como proteção ou ações financeiras ou sociais. Desde a introdução deste novo serviço em setembro de 2025, mais de 80 pacientes foram encaminhados para outras organizações, um sinal claro da amplitude das necessidades além do cuidado básico. 

 

 *OHF é uma organização egípcia com longa atuação na região. A parceria com MSF possibilita levar cuidados às pessoas nas comunidades de Daraw e dos arredores. 

**Os nomes dos pacientes foram alterados para proteger suas identidades. 

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