MSF volta a ter acesso a comunidades isoladas em Darfur

As equipes de Médicos Sem Fronteiras viajaram para locais aos quais as organizações humanitárias não conseguiram chegar por meses

As equipes de Médicos Sem Fronteiras no norte de Darfur, no Sudão, viajaram para áreas onde as organizações humanitárias não conseguiram chegar por meses. Eles encontraram comunidades que estavam completamente sem acesso à ajuda internacional.

Em dois carros lotados de medicamentos, uma equipe saiu de Kebkabya para tentar chegar a Kagoro, principal vilarejo das montanhas de Jabel Si, uma área controlada pelo movimento rebelde SLA. Há cerca de 37 mil pessoas vivendo na região e, no fim de 2005, MSF instalou um centro de saúde para levar assistência médica básica. No entanto, o centro teve de ser fechado em junho de 2006, depois que uma outra organização internacional foi vítima de saques.

Na estrada para Kagoro, a equipe de MSF passou por vários postos de controle do Exército do Sudão. Os soldados que estavam no último posto de controle antes de chegar à área dominada pelo SLA ficaram claramente surpresos de ver uma organização internacional não-governamental usar a estrada que permaneceu inacessível por meses. Após um exame meticuloso dos materiais que estavam nos carros, eles permitiram que os motoristas de MSF continuassem a viagem.

Mas à frente na estrada, os carros foram parados por um grupo de nômades. Eles estavam vivendo em um wadi seco, um rio sazonal, sob condições precárias, com apenas lâminas de plástico como abrigo.

"Os mais velhos se aproximaram de nós dizendo que eles não tinham recebido nenhum tipo de ajuda por muito tempo", contou Hakim Khaldi, chefe de missão do norte de Darfur e integrante da equipe de análise. "Infelizmente, naquele momento não pudemos ficar lá porque tínhamos que seguir até nosso destino". MSF vai retornar ao vilarejo logo.

Ao chegar em Kagoro, um vilarejo no alto das montanhas, a equipe de MSF se reuniu com líderes da comunidade para ter uma idéia clara do que eles precisam. Eles reabriram o centro de saúde e retomaram a assistência médica para as pessoas em Jebel Si. "Na primeira semana, realizamos 30 consultas, mas três semanas depois o número de atendimentos já tinha triplicados", contou Khaldi.

Depois que o centro de saúde em Kagoro estava pronto e funcionando novamente, a equipe de MSF decidiu voltar até onde estava o grupo nômade que havia encontrado anteriormente.Outras equipes visitaram grupos nômades em outros lugares. Em março, MSF lançou três clínicas móveis para levar assistência às comunidades que vivem em wadi Assam, wadi Boromaleh e wadi Bardei, que reúnem cerca de nove mil pessoas. Pelo menos uma vez por semana, um médico e uma enfermeira visitam cada comunidade. Em média, eles realizam 120 consultas por dia.

Uma das principais dificuldades que as organizações humanitárias enfrentam em Darfur é a locomoção. Os confrontos e a insegurança cada vez maior fazem com que MSF e outras organizações não consigam ter acesso às populações afetadas pelos conflitos.

"Nós sabemos exatamente o que está acontecendo em cada grande acampamento para deslocados internos e onde há uma presença maciça da comunidade humanitária", confirmou Sonia Peyrassol, coordenadora operacional de MSF no norte de Darfur. "Mas muito freqüentemente não fazemos idéia do que se passa fora desses centros. Foi fundamental voltar para Jebel Si e também explorar novas áreas, onde existem necessidades reais, mas pouca ou nenhuma assistência".

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