MSF retoma resposta à COVID-19 em Portugal

Novo projeto está centrado na promoção de saúde comunitária em comunidades vulneráveis de Lisboa e Vale do Tejo

A Médicos Sem Fronteiras (MSF) retomou a resposta à pandemia da COVID-19 em Portugal, com uma abordagem centrada agora na promoção de saúde comunitária em bairros vulneráveis na região de Lisboa e Vale do Tejo, junto de comunidades maioritariamente de ascêndencia africana e de comunidades ciganas. Esta ação tem o propósito de ajudar a mitigar o impacto e o risco de surgimento de novos focos da doença nestas comunidades vulneráveis, assim como a melhorar as estratégias comunitárias de prevenção dos contágios.

A principal lacuna identificada pela MSF na resposta à COVID-19 em Portugal é a ausência de uma abordagem específica direcionada às comunidades com maior vulnerabilidade sócio-económica e que têm sido historicamente negligenciadas. Apesar da existência de um elevado nível de cuidados de saúde no país, a ausência de uma estratégia comunitária formal exclui uma larga parte das pessoas de acederem aos beneficios do sistema de saúde e à informação necessária para se manterem saúdáveis.

“Durante as visitas que já fizemos, a procura de informação sobre a doença foi recorrente”, sublinha a coordenadora médica do projeto MSF junto das comunidades vulneráveis em Lisboa e Vale do Tejo, Cecilia Hirata Terra. “As medidas de distanciamento físico são vistas como uma imposição, uma vez que não estão adaptadas à realidade destas comunidades. A única forma de resolver esta questão e envolver as comunidades na identificação das suas próprias problemáticas, é a de as capacitar no desenvolvimento de soluções”, explica.

“A educação em saúde requer pouco conhecimento técnico médico, mas depende diretamente de uma comunicação efetiva, que deve sempre partir da realidade do público-alvo. Esta sim, favorece a consciencialização e a mudança de comportamentos. O que visamos é a coparticipação das comunidades na criação de estratégias de prevenção. O envolvimento comunitário é a base de sustentação das nossas atividades e é a partir daí que realizaremos o nosso trabalho”, esclarece ainda Cecilia Hirata Terra.

As atividades da organização médica-humanitária neste projeto assentam na promoção e educação para a saúde, com partilha de informação sobre a doença, sinais, sintomas e propagação, comportamentos individuais e coletivos e o seu impacto nas cadeias de transmissão, além de essenciais conhecimentos sobre prevenção e controlo dos contágios, e sensibilização sobre vacinação. Este projeto é desenvolvido através de promotores de saúde que funcionem como multiplicadores dentros das suas comunidades, e será realizado em português, crioulo e outras línguas que possam ser relevantes para a adequada comunicação com as comunidades.

Assim, esta ação está a ser desenvolvida junto de associações e de organizações locais e de mediadores das comunidades, envolvendo as pessoas na identificação das suas necessidades e na concretização de soluções, e em diálogo com os departamentos governamentais responsáveis. As atividades são complementadas com a doação de kits de higiene e de máscaras, assim como de materiais de prevenção e controlo do contágio, de forma a providenciar às comunidades os meios necessários para concretizarem as orientações partilhadas pela MSF.

Estas ações são acompanhadas de uma campanha de promoção de saúde digital, com enfoque principal nas três regras de prevenção – lavagem das mãos, distanciamento físico e etiqueta respiratória e uso correto da máscara – e no encorajamento de as pessoas cuidarem umas das outras nas suas comunidades adotando os comportamentos de prevenção.

Os esforços para aumentar a consciencialização sobre a doença e sobre as medidas de prevenção nestas comunidades vulneráveis são especialmente importantes numa altura em que Portugal se encaminha para entrar em fases de desconfinamento gradual. Apesar de os números de mortes e de casos terem já baixado significativamente, em relação ao pico registado em finais de janeiro passado – quando o país subiu ao topo de novos casos e novas mortes por COVID-19 na Europa e no mundo –, a pandemia pôs em evidência as desigualdades já antes existentes em Portugal, como aconteceu em muitos outros países.

O trabalho da MSF está sempre norteado pelo empenho em providenciar apoio aos grupos mais vulneráveis e já durante a primeira vaga da COVID-19 em Portugal, a organização médica-humanitária ativou um projeto de resposta, promovendo a prestação de cuidados adequados, dignos e humanizados nos lares de pessoas idosas.

Entre abril e maio de 2020, foram desenvolvidas atividades de avaliação de risco de propagação do novo coronavírus e formação de profissionais que trabalham nos lares, com enfoque nas medidas de prevenção e de controlo dos contágios. Foi prestado apoio em 34 lares de idosos, em 12 concelhos do país, acompanhado da doação de equipamentos de proteção individual e de materiais de higiene.

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