MSF reage à catástrofe em Moçambique com operação de grandes proporções

Organização trabalha no combate a problemas de saúde e já trata casos de cólera

MSF reage à catástrofe em Moçambique com operação de grandes proporções

Mais de 1 milhão de pessoas lutam para reconstruir suas vidas nas áreas atingidas por inundações em Moçambique. Muitas necessitam de ajuda urgente, pois não têm o mínimo necessário para sobreviver. Para responder a essas enormes necessidades, a resposta às graves inundações e ao ciclone Idai terá de ser de enormes proporções. Equipes de emergência de Médicos Sem Fronteiras (MSF) estão realizando atendimentos médicos em Beira e a organização está aumentando progressivamente suas atividades, com os mecanismos de resposta a emergências em pleno funcionamento.

Foram confirmados hoje oficialmente pelo governo os primeiros casos de cólera na cidade. “Dada a enorme quantidade de água que passou por Beira e o volume de danos causados, não é surpreendente que existam na cidade surtos de doenças transmitidas pela água, como a cólera”, afirmou Gert Verdonck, coordenador de emergências de MSF em Beira. MSF está trabalhando junto com as autoridades para implantar estratégias de combate à doença.

No início de março, uma tempestade levou fortes chuvas ao Malaui antes de se dirigir ao mar junto à costa de Moçambique e depois aumentar de intensidade até se transformar no ciclone Idai. No fim da noite de 14 de março, o Idai retornou à terra firme, causando devastação na cidade portuária de Beira, onde vivem cerca de 500 mil pessoas, além de atingir distritos vizinhos onde a tempestade destruiu moradias de outras centenas de milhares de pessoas. Muitas famílias estão desabrigadas e a maioria das comunidades não têm acesso confiável à água ou à eletricidade.     

Assim que o aeroporto foi reaberto e aviões puderam aterrissar em Beira, MSF enviou uma pequena equipe de emergência saindo da capital, Maputo, para verificar como se encontravam as equipes que trabalham nos projetos de combate ao HIV que a organização mantém na cidade, assim como para verificar as demandas para uma ação de emergência de grande escala em Beira e seus arredores. Hoje já há mais de 60 profissionais internacionais da organização na cidade, que estão trabalhando ao lado das equipes de MSF que já estavam em Beira. Também estão sendo contratados mais profissionais locais para conseguir atender a grande demanda.

“O ciclone causou um rastro de devastação, com milhares de casas destruídas, deixando a comunidade vulnerável e exposta aos fenômenos da natureza”, disse Gert Verdonck. “A cadeia de abastecimento foi rompida, criando restrições no suprimento de comida, água limpa e no fornecimento de cuidados médicos. O nível extremo dos estragos deve provocar um aumento dramático nos próximos dias e semanas de doenças transmitidas pela água, infecções cutâneas, infecções das vias respiratórias e malária. Além disso, os atendimentos dos serviços locais de saúde, como de assistência materna e HIV, tiveram de ser interrompidos.” 

Com a confirmação de casos de cólera, MSF já está apoiando o Ministério da Saúde para cuidar de pacientes em três centros de saúde da cidade de Beira, que no momento já atendem mais de 100 pacientes com suspeita da doença por dia.

“O ciclone causou danos significativos ao sistema de fornecimento de água da cidade, fazendo com que muitas pessoas não tenham acesso à água potável. Isto significa que não há opção a não ser consumir água de poços contaminados, com algumas pessoas consumindo até água empoçada. Os centros de saúde apoiados por MSF receberam nos últimos dias centenas de pacientes com diarreia aquosa aguda”, afirmou Verdonck.

“Nos próximos dias, trabalharemos com o Ministério da Saúde para ampliar o trabalho o máximo possível e para fornecer apoio a mais unidades de tratamento de cólera, bem como trabalhar para reabilitar um centro maior de tratamento de cólera”, disse. MSF também já mantém conversas com o Ministério da Saúde para avaliar a possibilidade de apoiar uma grande campanha de vacinação contra a cólera na área.

Além de atuar nos centros de saúde, MSF está operando clínicas móveis para fornecer cuidados primários de saúde às comunidades mais afetadas. Essas equipes – formadas por médicos, enfermeiros, promotores de saúde e conselheiros – estão visitando áreas mais pobres de Beira, assim como alguns dos 37 abrigos onde as pessoas que tiveram suas casas destruídas ou foram resgatadas de áreas inundadas estão alojadas.

“Graças à nossa presença anterior, trabalhando junto com o Ministério da Saúde no tratamento de HIV em Moçambique, temos fortes laços com o país e fomos capazes de reagir rapidamente”, disse Verdonck. “Muitos de nossos pacientes e suas famílias perderam tudo e, por isso, o trabalho de nossas clínicas móveis não é importante apenas por prestar atendimento, mas também por se fazer presente em uma comunidade que precisa desesperadamente de ajuda.”

Até agora, as clínicas móveis têm tratado principalmente casos de diarreia, infecções respiratórias, infecções de pele e feridas infectadas, assim como ferimentos sofridos por pessoas enquanto consertavam suas casas. Quando os pacientes necessitam de cuidados adicionais, MSF os leva para o hospital ou para um centro de saúde.

Além de um primeiro carregamento de suprimentos de emergência recebido de Maputo, MSF enviou até agora quatro voos fretados de carga da Bélgica para Beira com artigos de emergência básicos. Pelo menos mais três aviões devem ser enviados ainda nesta semana, partindo da Bélgica, de Dubai e da França. A grande mobilização para levar carregamentos com suprimentos deve prosseguir pelas próximas semanas.

Com os resultados de avaliações feitas nos últimos dias, nas quais as equipes de MSF também verificaram a situação de água e saneamento, o alcance geográfico da atuação da organização será ampliado para além de Beira, para várias das áreas mais afetadas no interior e ao sul de Beira, nas províncias de Manica e Sofala, incluindo as localidades de Buzi e Dondo, atingidas gravemente pela tempestade.

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