MSF implementa energia solar em hospitais da República Centro-Africana

Além de reduzir emissões de carbono, iniciativa combate problema crítico de falta de acesso à eletricidade no país

Goumar Attama Abdoul Aziz, gerente de energia de MSF, inspeciona um painel de energia solar no Hospital de Batangafo, na República Centro-Africana. ©Amadou Barazé

Na República Centro-Africana (RCA), Médicos Sem Fronteiras (MSF) vem instalando, há vários anos, sistemas híbridos de painéis solares em hospitais e centros de saúde por todo o país. Os objetivos são garantir a autonomia energética sustentável, reduzir a dependência do diesel, que é caro e poluente, e melhorar os cuidados médicos, inclusive nas áreas mais remotas. 

Essa alternativa responde a um desafio enorme. Na RCA, o acesso à eletricidade continua a ser um grande desafio, dificultando o desenvolvimento e a qualidade dos serviços essenciais, particularmente na área da saúde. De acordo com o Banco Mundial, apenas uma em cada sete pessoas no país tem acesso à eletricidade, com diferenças substanciais entre a capital Bangui (35%) e as áreas rurais (0,4%). Nesse contexto, as instalações médicas — já enfraquecidas por anos de conflito e subfinanciamento — lutam para fornecer cuidados adequados.

 

Quais são as necessidades? 

Antes da introdução desses sistemas, a maioria dos hospitais apoiados por MSF dependia inteiramente de geradores a diesel, enquanto outras unidades de saúde sequer tinham eletricidade. Em Batangafo, por exemplo, o hospital consumia mais de 3 mil litros de combustível por mês, enquanto em Bossangoa o consumo chegava a 5.500 litros mensais. Em termos financeiros, isso corresponde a um custo médio de 2 mil francos CFA (cerca de 18,50 reais) por litro. 

Desde que o sistema começou a funcionar, há seis meses, o hospital não precisou mais depender exclusivamente de geradores a diesel.”

– Clément Dakha, técnico de radiologia de MSF no hospital de Batangafo

Hoje, as instalações solares híbridas fornecem aos hospitais energia estável, limpa e autônoma, ao mesmo tempo em que reduzem drasticamente os custos com combustível e manutenção dos geradores.  

Essa transição também limita a dependência do diesel, cujo transporte para áreas remotas continua sendo complexo e caro. Além dos benefícios econômicos e logísticos, ela trouxe uma redução significativa na pegada de carbono, contribuindo para a proteção ambiental e a sustentabilidade a longo prazo das atividades médicas. 

Vista do sistema de painéis solares instalado por MSF, que produz 75% da eletricidade do hospital geral de Bossangoa, na República Centro-Africana. ©Fuh Hanson Suh

Energia confiável para cuidados contínuos e seguros 

Desde que o sistema começou a funcionar, há seis meses, o hospital não precisou mais depender exclusivamente de geradores a diesel — a eletricidade está disponível continuamente, dia e noite”, diz Clément Dakha, técnico de radiologia de MSF no hospital de Batangafo. 

A mudança é igualmente impressionante no hospital de Bossangoa. “Hoje, usamos apenas cerca de 1.500 litros por mês”, explica Fuh Hanson, especialista em energia de MSF. Essa mudança representa uma economia anual de cerca de 48 mil litros de diesel e uma redução de mais de 120 toneladas de emissões de CO₂. 

Mais ao sul, em Bangassou, a instalação de painéis solares já fornece quase metade das necessidades energéticas do hospital regional, e uma ampliação em andamento aumentará esse número para 80%. Várias unidades de saúde apoiadas por MSF na região também foram equipadas, o que permitiu a elas manter a cadeia fria para vacinas e prestar serviços noturnos de emergência — como partos e intervenções cirúrgicas — em condições seguras. 

Na capital, no Centro Hospitalar Universitário Comunitário (CHUC, sigla em inglês) de Bangui, MSF instalou um sistema solar de 120 kWh dedicado aos departamentos de ginecologia e medicina interna. Esta instalação garante um fornecimento de energia permanente e confiável, essencial para o bom funcionamento das atividades médicas nestes serviços de alta procura. 

 

Impacto humano, econômico e ambiental 

A introdução desses sistemas de energia sustentável vai muito além de uma melhoria técnica. Ela transforma o dia a dia das equipes médicas e dos pacientes. A energia solar estabiliza o funcionamento das salas de cirurgia, laboratórios e câmaras frigoríficas. Também aumenta a segurança dos pacientes, garantindo a iluminação noturna e o funcionamento contínuo de equipamentos médicos vitais. 

Economicamente, a redução do consumo de combustível e dos custos de manutenção dos geradores permite que os recursos financeiros sejam redirecionados para os cuidados médicos. Ao mesmo tempo, as emissões de CO₂ evitadas contribuem para os objetivos climáticos globais de MSF. 

 

Médicos Sem Fronteiras estabeleceu a meta de reduzir nossas emissões globais de carbono em 50% até 2030, em comparação com os níveis de 2019. A implantação de sistemas solares híbridos na República Centro Africana está totalmente alinhada com esse objetivo. Esses projetos mostram que é possível combinar ação humanitária com responsabilidade ambiental e eficiência operacional. Estamos a serviço da saúde e da vida. 

 

Compartilhar

Relacionados

Como ajudar