MSF divulga estudo sobre os resultados de tratamentos sob medida para grupos difíceis de alcançar

Dados obtidos por MSF mostram que os resultados de modelos de tratamento adaptados para as necessidades específicas de alguns grupos são positivos

A taxa de adesão aos programas de terapia antirretroviral (ART) é maior se forem aplicadas estratégias específicas para grupos de difícil acesso ou cuja retenção nos programas é mais complicada, como imigrantes, adolescentes e crianças. A conclusão é de Médicos Sem Fronteiras e foi baseada nos projetos que a organização humanitária mantém em Moçambique, Zimbábue e África do Sul. Os dados foram divulgados, recentemente, na Conferência Internacional de Aids.

Na região de Musina, na África do Sul, próxima à fronteira com o Zimbábue, MSF coordena clínicas móveis de saúde primária, integrando em suas atividades a assistência médica para HIV e TB. Assim, a organização consegue alcançar populações em movimento que migram sazonalmente para trabalhar em 15 fazendas nos arredores de Musina.  

“É um desafio oferecer assistência médica para os migrantes nesta região, porque eles têm medo de procurar ajuda e acabar revelando que não têm documentos. Além disso, eles saem regularmente das fazendas para voltar ao Zimbábue”, disse Tambu Matambo, coordenador médico de MSF em Musina. “O modelo que nós estamos implementando mostra que é possível oferecer tratamento de HIV para imigrantes, desde que o programa seja adaptado às suas necessidades específicas.”

Após o início dos serviços móveis, o número de pessoas que precisava de ART e que começou a receber o tratamento aumentou de 51% a 81%. Uma das razões que contribuíram para este resultado, provavelmente, foi o fato de que os pacientes não precisavam pagar pelo transporte para receber o tratamento nem eram descontados em seus salários porque perdiam horas de trabalho para receber o ART. Além disso, também foram introduzidos testes de CD4 nos locais de atendimento.

O modelo de tratamento também aumentou a adesão, uma vez que é parte da abordagem dar aos imigrantes estoques de medicamentos antirretrovirais (ARV) para que sejam tomados em casa, e um documento com todas as informações a respeito do tratamento que pode ser levado para outras clínicas. A taxa de retenção no tratamento era 93% aos seis meses e 90% aos 12 meses. Passados 6 e 12 meses, as taxas de supressão viral eram, respectivamente, 90 e 92%, que são iguais ou maiores do que as de contextos estáveis.  

Na província de Tete, em Moçambique, MSF estava realizando um “grupo comunitário de ART”, onde membros da comunidade formam grupos de pessoas que se revezam mensalmente para ir à clínica, para fazer as sessões de acompanhamento e para buscar os medicamentos para o resto do grupo. As últimas informações obtidas por MSF mostram que a taxa de retenção é de 97% entre os 5.229 participantes. Esse modelo foi expandido para incluir crianças soropositivas: das 312 crianças do projeto, com média de idade de sete anos, nenhuma abandonou o tratamento.

“O modelo de grupos comunitários de ART mostra como as pessoas ficam mais motivadas a seguir o tratamento quando são parte de um grupo em que um cuida do outro”, disse o Dr. Tom Decroo, de MSF em Moçambique. “E agora nós vemos que esse conceito também se aplica para crianças.”

Outro grupo que precisa de apoio específico são os adolescentes. Em Bulawayo, Zimbábue, um pacote de atividades específicas, como capacitações e ações de geração de renda, mostrou resultados promissores. Entre 2004 e 2010, o número de adolescentes que iniciaram o tratamento de ART aumentou seis vezes. Diferente de outras pesquisas realizadas com adolescentes, os resultados deste projeto foram melhores para adolescentes do que para adultos, sendo que a taxa de pessoas que haviam abandonado o tratamento após um ano caiu para 5% no final do período de estudo.

“Como o número de crianças com HIV que chega à adolescência está aumentando, os programas de tratamento precisam desenvolver atividades direcionadas para as necessidades deste grupo”, disse a Dra. Mary Nyathi, consultora pediátrica no hospital de Mpilo, no Zimbábue. “Precisamos ter em mente que ‘o que é feito para nós, sem a nossa participação, não é nosso’. Os adolescentes precisam poder participar do processo de construção e gestão destes programas para que eles tenham sucesso.”
 
Atualmente, MSF oferece tratamento de HIV para 220 mil pessoas em 23 países.

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