MSF denuncia limpeza étnica na Cisjordânia

Mais de 85% das casas em Masafer Yatta foram demolidas; famílias vivem em cavernas e relatam ataques diários de colonos israelenses sob proteção militar

Equipe de MSF vista a comunidade Khallet Athaba, arrasada pelos ataques por parte de colonos e das forças israelenses. © MSF

Em Khallet Athaba, um vilarejo na região de Masafer Yatta, na Cisjordânia, as famílias estão sofrendo assédio diário, intimidação e ataques violentos por parte de colonos israelenses, muitas vezes sob a proteção das forças militares israelenses. De acordo com o depoimento de palestinos, desde fevereiro de 2025, o exército israelense realizou múltiplas demolições que deixaram mais de 85% das casas e abrigos em ruínas, forçando as pessoas a viverem em cavernas.

Na semana passada, uma nova onda de ataques destruiu sete abrigos, nove tendas, 14 tanques de água e o sistema elétrico local — em ações frequentemente acompanhadas por colonos israelenses e protegidas por militares. Restaram apenas três casas e uma escola em pé. As famílias quase não têm opções de abrigo seguro.

A comunidade de Khallet Athaba, onde vivem cerca de 100 pessoas, continua resistindo ao deslocamento forçado, mesmo diante da destruição em larga escala. Famílias que tiveram suas casas demolidas passaram a viver em cavernas, mas ainda enfrentam ataques recorrentes de colonos israelenses, que invadem a área e intensificam o clima de medo. Um morador relatou a expansão constante dos assentamentos nos arredores, com caravanas se aproximando do vilarejo a cada dia.

 

Equipes de Médicos Sem Fronteiras (MSF) que visitaram o local alertam para uma situação humanitária crítica. “A comunidade precisa urgentemente de atendimento médico, apoio de saúde mental, alimentos, água potável, itens de higiene e serviços de saneamento. Mas, acima de tudo, as famílias enfatizaram sua necessidade de proteção, dignidade e acesso a serviços essenciais”, afirma Frederieke van Dongen, coordenadora de assuntos humanitários de MSF.

 

O trabalho de Médicos Sem Fronteiras na região

A organização oferece cuidados de saúde básica, saúde mental e apoio psicossocial por meio de clínicas móveis que atendem cinco vilarejos em Masafer Yatta e nas proximidades.

Durante uma dessas atividades médicas, as equipes ouviram de uma paciente um dos relatos mais violentos já registrados por eles na região.

“Uma moradora nos disse que, há um mês, nove colonos israelenses forçaram a entrada em sua casa, onde ela estava sozinha com seus quatro filhos. Eles começaram a bater nas crianças com barras de metal e tentaram bater na cabeça de seu bebê de três meses de vida. Tanto a mãe quanto o bebê foram atingidos por spray de pimenta, e os colonos continuaram a espancá-la enquanto ela tentava proteger seu bebê, fraturando um osso em sua mão. Um de seus filhos, de 13 anos, sofreu uma fratura no braço, enquanto outro, de 3 anos, sofreu um ferimento na cabeça e uma fratura óssea. O bebê foi posteriormente levado ao hospital e permanece sob observação devido aos vômitos contínuos”, conta van Dongen.

Para Médicos Sem Fronteiras, o que ocorre em Masafer Yatta faz parte de uma política mais ampla de limpeza étnica, voltada à remoção forçada da população palestina da região. Apesar das demolições sucessivas e dos ataques constantes, nenhum morador deixou a comunidade até agora. Eles insistem que não se tornarão refugiados em sua própria terra.

Para saber mais informações sobre MSF na Cisjordânia:

 

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