MSF denuncia catástrofe humanitária causada por cerco à Gaza

Organização condena plano de Israel e dos EUA de controle da distribuição da ajuda humanitária no território

Família palestina tenta retirar seus pertences dos escombros. Cidade de Gaza, 3 de novembro de 2024. ©MSF

A proposta dos Estados Unidos e de Israel de controlar a distribuição de suprimentos sob o pretexto de fornecer ajuda humanitária levanta graves preocupações humanitárias, éticas, de segurança e legais. Condicionar a provisão de assistência ao deslocamento forçado e ao controle da população é mais uma ferramenta na campanha contínua de limpeza étnica da população palestina. Médicos Sem Fronteiras (MSF) rejeita e condena veementemente qualquer plano que reduza ainda mais a disponibilidade de ajuda e a sujeite aos objetivos da ocupação militar israelense.

Estamos testemunhando, em tempo real, a criação de condições para a aniquilação de vidas palestinas em Gaza, declara MSF.

A obstrução da ajuda humanitária é uma violação direta da Resolução 2720 do Conselho de Segurança das Nações Unidas, que exige a entrega desimpedida de assistência humanitária aos civis.

As alegações de que a ajuda está sendo desviada pelo Hamas permanecem não verificadas e não justificam de forma alguma tais medidas. Como potência ocupante, Israel precisa facilitar a ajuda humanitária imparcial para a população que dela necessita.

A Organização das Nações Unidas (ONU), os países-membros da União Europeia e todos aqueles que têm influência sobre Israel devem utilizar urgentemente sua força política e econômica para impedir a instrumentalização da ajuda humanitária. É preciso permitir que suprimentos humanitários, alimentos, combustível e medicamentos cheguem à população de Gaza agora.

Desde a retomada dos ataques de Israel e o bloqueio total da entrada de ajuda em 2 de março, Gaza se tornou um inferno na Terra para os palestinos. A sobrevivência deles está à mercê das autoridades israelenses, que estão negando a toda a população o acesso a alimentos, água, cuidados médicos e abrigo.

Israel continua com sua campanha de limpeza étnica, destruindo deliberadamente as condições necessárias para a vida.

Organizações como a World Central Kitchen e o Programa Mundial de Alimentos (PMA) anunciaram que não têm mais estoques de alimentos disponíveis em Gaza: a maioria das cozinhas comunitárias e padarias fechou.

As equipes médicas de MSF na Cidade de Gaza observaram um aumento de 32% no número de pacientes que apresentaram desnutrição nas últimas duas semanas.

A redução dos estoques de combustível está limitando a capacidade de dessalinizar e distribuir água. As instalações de saúde que ainda funcionam – já criticamente inadequadas em número e capacidade para a população – ainda estão sendo atacadas e sofrem com a rápida diminuição da disponibilidade de medicamentos e outros insumos indispensáveis.

As equipes de MSF em Gaza não recebem suprimentos há 11 semanas e enfrentam escassez crítica de itens médicos essenciais, como compressas e luvas esterilizadas.

As ordens de evacuação de Israel e as zonas militares proibidas agora cobrem 70% de Gaza. A população foi transferida à força de um lugar para outro, e nenhuma área de Gaza foi poupada dos ataques. A situação é tão desesperadora que equipes de MSF trataram e deram alta a pacientes para depois vê-los retornar com novos ferimentos.

O plano israelense de instrumentalizar a ajuda é uma resposta cínica à própria crise humanitária que eles criaram. Se quisessem, Israel e seus aliados poderiam suspender o bloqueio hoje e permitir que a ajuda humanitária chegasse a todos os habitantes de Gaza cuja sobrevivência depende dela.

 

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