MSF atende quase 100 feridos após aumento dos ataques no Sudão

Hospitais em Darfur estão sob pressão com fluxo crescente de vítimas; organização pede proteção para civis, instalações de saúde e equipes médicas

© Frederic Seguin/MSF

Após uma série de ataques das Forças de Apoio Rápido (RSF) e das Forças Armadas Sudanesas (SAF), 99 feridos — entre eles mulheres e crianças — chegaram às unidades de saúde apoiadas por Médicos Sem Fronteiras (MSF) em Darfur do Norte, Sul e Central, no dia 10 de setembro. Quatro pessoas chegaram sem vida.

“Fazemos um apelo para que todas as partes em conflito poupem os civis, protejam as equipes médicas e as instalações de saúde, e garantam acesso seguro e irrestrito à ajuda humanitária — começando por El Fasher e outras regiões sitiadas”, disse Marwan Taher, coordenador do projeto de MSF em Darfur. “A crise humanitária está se agravando, e o mundo não pode continuar a ignorar o que está acontecendo.”

Em Tawila, em Darfur do Norte, a equipe de MSF tratou 50 pessoas feridas apenas ontem (10/09). Mais de 650 feridos que conseguiram escapar de El Fasher chegaram ao hospital apoiado por MSF, localizado a cerca de 60 quilômetros da cidade, que está sitiada desde meados de agosto.

Esse número representa apenas uma parte das vítimas. Sobreviventes relataram ter visto muitos corpos ao longo do caminho e disseram que foram forçados a deixar para trás os feridos mais graves e os doentes que não teriam sobrevivido à jornada até Tawila.

“Algumas pessoas caminharam 60 quilômetros a pé, sangrando em decorrência de ferimentos à bala e marcas de chicotadas severas — mas são os poucos que conseguiram sobreviver aos horrores de El Fasher e à difícil jornada de fuga”, diz Sylvain Penicaud, coordenador do projeto de MSF em Tawila. “Eles chegam exaustos, emocionalmente destruídos e em estado extremo de sofrimento mental.”

As pessoas também explicam como a vida se tornou insuportável em El Fasher e nos arredores. A RSF e seus aliados sitiaram e bombardearam a cidade por mais de um ano, deixando centenas de milhares de pessoas presas, praticamente sem comida, medicamentos, água ou ajuda humanitária. Pessoas que tentam escapar de El Fasher enfrentam assassinatos, torturas, agressões sexuais e outras formas de violência extrema ao longo da rota para Tawila, local que agora abriga 800 mil pessoas deslocadas internamente.

Com a guerra no Sudão em seu terceiro ano, a população enfrenta a violência implacável, sem ter para onde fugir. Em 10 de setembro, drones atingiram vários locais em Darfur, deixando centenas de feridos. Mesmo comunidades distantes das linhas de frente não estão seguras, pois os ataques se intensificam simultaneamente em toda a região.

Um ataque com drone realizado pelas Forças Armadas Sudanesas (SAF) atingiu uma área a apenas quatro quilômetros do Hospital Universitário de Zalingei, apoiado por MSF, em Darfur Central — o primeiro desde fevereiro.

“Nossas equipes ouviram o ataque do hospital”, diz Taher. “Momentos depois, em plena luz do dia, tivemos que ativar nosso plano de atendimento a vítimas em massa, pois um grande número de feridos de guerra começou a chegar — entre eles, seis mulheres e quatro crianças. Ninguém está seguro.”

No mesmo dia, em Nyala, Darfur do Sul, dois drones das Forças Armadas Sudanesas (SAF) atingiram a cidade. O Hospital Universitário de Nyala, apoiado por MSF, recebeu 12 pacientes feridos; quatro pessoas — incluindo uma criança — já chegaram sem vida. Esse foi o oitavo ataque mortal com drones em apenas 11 dias, após as ofensivas registradas em 30 de agosto, 1º e 3 de setembro, quando o hospital atendeu 44 vítimas de ferimentos de guerra.

A situação em Darfur continua grave, com as unidades de saúde sob extrema pressão e lutando para lidar com o enorme número de pacientes, a grave escassez de suprimentos e a constante ameaça de novos ataques.

Esses ataques simultâneos ocorreram apenas um dia após os bombardeios aéreos da RSF atingirem Cartum, capital do Sudão, em 9 de setembro. Estilhaços feriram duas pessoas que chegavam ao hospital Al-Nao, apoiado por MSF, em Omdurman. Os mesmos ataques também destruíram uma usina elétrica, deixando parte da cidade sem energia e forçando os hospitais pediátricos Al-Nao e Al-Buluk, também apoiados por MSF, a depender de geradores ou fontes de energia não confiáveis.

Sem eletricidade estável, equipamentos médicos vitais e sistemas de ar-condicionado falham, expondo crianças prematuras e gravemente doentes a riscos de superaquecimento, infecções e mau funcionamento dos aparel

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