MSF amplia acesso a tratamento para hepatite C para a população Rohingya em Cox’s Bazar

Estudo de MSF relevou índice alarmante: 1 em cada 5 adultos nos acampamentos de Cox’s Bazar vive com a infecção crônica ativa do vírus

Profissional de MSF coleta amostra de sangue de paciente para teste de hepatite C. Bangladesh, 2025 © Tania Sultana/MSF

Em resposta ao índice alarmante de casos de hepatite C nos acampamentos de refugiados Rohingya em Cox’s Bazar, Bangladesh, Médicos Sem Fronteiras (MSF) expandiu suas atividades médicas, com o objetivo de fornecer cuidados para cerca de 30 mil pessoas até o final de 2026.

Para a população Rohingya, que constitui o maior grupo de pessoas apátridas do mundo, ou seja, pessoas que não têm a nacionalidade reconhecida por nenhum país, a iniciativa significa a ampliação do acesso ao tratamento da hepatite C. Os Rohingya em Cox’s Bazar estão particularmente expostos a essa doença curável, mas que pode ser fatal sem os cuidados adequados.

MSF está administrando três centros especializados de tratamento para hepatite C dentro das instalações de saúde já existentes nos acampamentos, como parte de uma campanha de “testagem e tratamento” que alcança cerca de um terço de todas as pessoas que vivem com o vírus nos acampamentos.

Entre outubro de 2020 e dezembro de 2024, equipes de MSF trataram mais de 10 mil pessoas com hepatite C em suas clínicas nos acampamentos de Jamtoli e no hospital On the Hill. No entanto, um estudo realizado pela organização em 2023 e publicado no mês passado no The Lancet Gastroenterology & Hepatology revelou que 1 em cada 5 adultos – o que corresponde a cerca de 86 mil pessoas – vive com infecção crônica ativa do vírus, destacando a necessidade urgente de uma resposta médica mais robusta.

 

O acesso aos cuidados com a hepatite C nos acampamentos, onde mais de 1 milhão de refugiados têm vivido nos últimos oito anos, tem sido extremamente limitado.”

– Wasim Firuz, coordenador médico adjunto de MSF em Bangladesh

 

“O tratamento da hepatite C não faz parte do pacote de cuidados de saúde oferecido por instalações médicas, que já estão sobrecarregadas. As pessoas também não têm permissão para sair livremente dos acampamentos para ter acesso a atendimento médico em outros locais e, mesmo que pudessem, não teriam condições de arcar com os custos do tratamento”, alerta Wasim Firuz, coordenador médico adjunto de MSF em Bangladesh.

As duras condições de vida nos acampamentos superlotados, a falta de acesso ou a oferta reduzida de serviços de saúde, bem como a falta de status legal de cidadania, que restringe severamente seus direitos básicos, tornaram os refugiados Rohingyas mais vulneráveis a infecções, inclusive pela hepatite C, em Mianmar e Bangladesh. Nossa pesquisa constatou que a exposição a práticas médicas e tratamentos inadequados durante décadas, como injeções terapêuticas, pode ser o principal motivo da transmissão dessa doença transmitida pelo sangue.

• Leia também: índice alarmante de infecção por hepatite C entre refugiados Rohingya em Bangladesh

A ampliação do nosso programa em resposta a essa situação faz com que as equipes realizem uma triagem sistemática com base na comunidade para identificar proativamente as pessoas com hepatite C, uma doença que não apresenta sinais ou sintomas em sua primeira fase. O teste rápido é seguido de confirmação laboratorial nos centros de tratamento recém-abertos em Balukhali, Jamtoli e no Hospital on the Hill.

Também estamos implementando uma campanha abrangente de conscientização sobre cuidados com a saúde, que inclui o fornecimento de medicamentos para o tratamento da hepatite C e o compartilhamento de informações sobre prevenção e aconselhamento sobre a adesão ao tratamento para adultos.

Equipe de MSF durante atividade de coleta de amostras para a realização de testes da hepatite C em um acampamento Rohingya em Cox’s Bazar. © Tania Sultana/MSF

“Na ausência de outras alternativas para o tratamento da hepatite C para dezenas de milhares de pessoas nos acampamentos, estamos realizando esse aumento substancial em nossa capacidade de atendimento”, afirma Firuz. “Nossa meta é atender cerca de 30 mil pessoas até o final de 2026. Essa expansão representa uma etapa vital para evitar a disseminação da hepatite C, especialmente entre pessoas mais jovens.”

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O enfrentamento dessa epidemia generalizada de hepatite C, no entanto, apresenta desafios consideráveis dentro da capacidade limitada de resposta geral de saúde nos acampamentos. MSF conduzirá pesquisas para analisar esses desafios e trazer soluções como parte da iniciativa.

“Embora estejamos ampliando os esforços e trabalhando em coordenação com outras organizações, as limitações, incluindo a falta de profissionais, equipamentos e recursos entre os parceiros, representam um obstáculo significativo”, diz Firuz. “Nossa campanha é temporária e não erradicará a hepatite C nos acampamentos. A atenção à hepatite C deve continuar durante e após o término desta campanha. Mais uma vez, pedimos a outros parceiros de saúde e à comunidade internacional que priorizem a criação de uma estratégia abrangente para reduzir o impacto devastador dessa doença na comunidade”.

 

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