Médicos Sem Fronteiras completa dez anos na Faixa de Gaza

Relatório lançado pela organização para marcar a data aponta impactos do embargo imposto por Israel na saúde da população palestina

Quando a organização humanitária Médicos Sem Fronteiras (MSF) deu início ao trabalho na Faixa de Gaza, em 2000, a segunda Intifada havia acabado de acontecer e os conflitos entre israelenses e palestinos espalhavam violência por toda a região. Para MSF, uma organização internacional médico humanitária especializada na prestação de ajuda de emergência em situações de crise, havia uma clara necessidade de desenvolver atividades de longo prazo na Faixa de Gaza, sob ocupação israelense desde 1967. Em novembro de 2000, após uma série de avaliações, MSF decidiu abrir um programa de apoio psicossocial e médico na Faixa de Gaza. 

O Relatório “MSF – Dez anos em Gaza”, lançado nesta semana, faz um balanço do trabalho da organização na região e denuncia os impactos que o embargo imposto por Israel causaram no sistema de saúde palestino.

Leia o relatório em inglês

Desde junho de 2007, quando o Hamas tomou o controle da Faixa de Gaza, chegar até o local se tornou difícil por conta do bloqueio organizado pelos soldados israelenses. A falta de equipamentos começou a ser sentida, especialmente de materiais cirúrgicos, instrumentos médicos especializados e medicamentos.

“Esse bloqueio precisa ser suspenso, e agora. É urgente. Há escassez geral, incluindo livros e materiais para escrever. Hospitais e escolas estão sem portas e janelas. Tudo precisa de reconstrução: casas, centros médicos, a infraestrutura estatal…Aí então os habitantes de Gaza poderão reconstruir a eles mesmos, física e psicologicamente.”, disse Jean Luc Lambert, chefe de missão de MSF.

Mesmo que hoje em dia o embargo esteja parcialmente suspenso, as dificuldades persistem. Doações financeiras e materiais agora estão chegando a Gaza, hospitais estão sendo reconstruídos, unidades locais de saúde recentemente receberam suprimentos de materiais médicos e medicamentos, mas as restrições à entrada e saída de pessoas e materiais continuam.

As peças de reposição necessárias à manutenção do equipamento não podem entrar em Gaza. Os profissionais de saúde que trabalham nos centros de saúde não são autorizados a sair para fazer cursos de aperfeiçoamentos, fundamentais principalmente àqueles que vão trabalhar com os novos equipamentos.

Cerca de 25% dos pacientes ainda têm patologias que não podem ser tratadas em Gaza, devido à falta de profissionais treinados ou de material especializado. Os pedidos de transferência, no entanto, são negados.

Dentro desse cenário, MSF responde a algumas necessidades médicas específicas, como cirurgias ortopédicas e enxertos de pele em casos de queimadura grave. A organização também capacita tecnicamente profissionais locais, atenuando, assim, o isolamento a que são submetidos.

Um dos destaques do Relatório “MSF – Dez anos em Gaza”, são as ações da organização logo após a operação “Chumbo Fundido” – ofensiva que, entre 27 de setembro 2008 e 18 de janeiro de 2009, provocou a morte de quase 1.300 pessoas ( incluindo 900 civis, dos quais 300 eram crianças) e deixou cerca de 5.300 pessoas feridas. Diariamente eram realizadas de 5 a 8 cirurgias. Entre janeiro e julho de 2009, as equipes de MSF realizaram 84 procedimentos ortopédicos e 278 reconstruções. Nossas atividades cirúrgicas aliviaram a carga de trabalho nos hospitais palestinianos, levando a uma retomada gradual das atividades normais.

Além do relatório, três vídeos mostram o trabalho de MSF na Faixa de Gaza. Assista às versões legendadas.

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