“Médicos não podem parar o genocídio. Líderes mundiais, sim”

Médicos Sem Fronteiras faz apelo para que países usem sua influência para cessar-fogo imediato em Gaza

Ruas da cidade de Rafah, no sul de Gaza. Palestina, janeiro de 2025. ©Mariam Abu Dagga/MSF

O que acontece em Gaza vai além de uma catástrofe humanitária – é a destruição sistemática de um povo. Para Médicos Sem Fronteiras (MSF) está claro: Israel está cometendo genocídio contra os palestinos em Gaza.

De acordo com os números mais recentes do Ministério da Saúde, mais de 64 mil pessoas foram mortas, incluindo 20 mil crianças. Esse número provavelmente é ainda maior, com muitos corpos presos sob os escombros.

Não há lugar seguro em Gaza. Embora as instalações de saúde tenham status de proteção, hospitais foram bombardeados e instalações médicas foram invadidas, colocando em risco a vida de profissionais e pacientes.

Hoje, nenhum hospital em Gaza funciona em sua total capacidade. Os que permanecem operando parcialmente estão sobrecarregados e enfrentam a falta de suprimentos essenciais para salvar vidas.

Corredor do Hospital Indonésio destruído, em Gaza. Palestina, fevereiro de 2025. ©Nour Alsaqqa/MSF

Doze de nossos colegas foram mortos. Mohammed Obeid, cirurgião ortopédico de MSF, continua detido por Israel desde outubro de 2024. No total, mais de 1.500 profissionais de saúde foram mortos. Uma enorme perda para suas famílias e para o sistema de saúde de Gaza.

As autoridades israelenses estão sufocando Gaza ao impor um cerco total que deliberadamente priva a população de combustível, alimentos, água e suprimentos médicos.

A fome já foi confirmada na Cidade de Gaza, e as pessoas estão morrendo pela falta extrema de comida. A pouca ajuda alimentar que as autoridades israelenses permitem foi cruelmente transformada em arma. Uma operação administrada por Israel e financiada pelos Estados Unidos, chamada Fundação Humanitária de Gaza (GHF, sigla em inglês), é responsável pela morte de 1.400 pessoas e por ferir outras 4 mil.

Paciente internado no centro de saúde de MSF em Al Mawasi, que ficou ferido enquanto tentava obter alimentos no local de distribuição da Fundação Humanitária de Gaza, administrada por Israel e financiada pelos EUA. Palestina, agosto de 2025. ©Nour Alsaqqa/MSF

A falta de água potável está causando mais sofrimento e doenças. No mês passado, nossas equipes trataram 4 mil casos de diarreia aquosa, potencialmente fatal para crianças já enfraquecidas pela desnutrição.

MSF é regularmente impedida pelas autoridades israelenses de trazer equipamentos de dessalinização e outros suprimentos que poderiam aumentar o acesso à água potável.

Ola e sua filha Nour Al-Shaer, diagnosticada com desnutrição grave. Palestina, agosto de 2025. ©Nour Alsaqqa/MSF

Por meio de sua inação, silêncio ou apoio direto às autoridades israelenses, os governos de todo o mundo são cúmplices desse genocídio. Eles têm a obrigação moral e legal de responder, usando todas as ferramentas políticas, diplomáticas e econômicas disponíveis para impedir as atrocidades.

Apelamos aos Estados para que usem urgentemente sua influência para:

  • Parar o genocídio contra os palestinos em Gaza.
  • Pôr fim à limpeza étnica e ao deslocamento forçado.
  • Garantir um cessar-fogo imediato e sustentado.
  • Acabar com o cerco e permitir a entrega imediata e desimpedida de ajuda humanitária independente em grande escala.
  • Parar os ataques a instalações médicas e a profissionais de saúde.
  • Pôr fim à Fundação Humanitária de Gaza.
  • Permitir evacuações médicas para as pessoas que precisam de cuidados urgentes.
  • Impedir o envio de armas que matam e mutilam nossos pacientes.

Nossos 1.118 colegas que trabalham em Gaza não podem parar este genocídio. Mas os líderes mundiais podem — se decidirem agir.

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