Médico pernambucano fala sobre sua missão no Zimbábue

Em seu diário de bordo, Esdras da Silva conta como é seu cotidiano na capital Harare, onde trabalha em um projeto de HIV/AIDs

Em cada dez zimbabuanos, oito estão desempregados e dois estão infectados pelo HIV. Entre a insegurança alimentar, a inflação e uma precária estrutura de saúde, Médicos Sem Fronteiras (MSF) encontrou mais que motivos para implantar projetos no Zimbábue, país que também abriga universidades de nível internacional e já foi considerado uma segunda África do Sul no continente.

É nesse contexto paradoxal que está o infectologista pernambucano Esdras Augusto da Silva Júnior, em sua segunda missão com MSF. Assim como no Camboja, seu primeiro trabalho com a organização, Esdras está trabalhando em um projeto de HIV/AIDS, onde são tratadas cerca de seis mil pessoas, em uma região em que se estima que haja 55 mil infectados. Os detalhes ele conta em seu Diário de Bordo.

Como é seu dia-a-dia no Zimbábue?
Esdras da Silva – A escassez de alimentos decorrente do colapso do setor produtivo associado às sanções econômicas que o país enfrenta resulta em milhões de famintos. Soma-se a isto o fato do país contar com cerca de 25% da população infectada pelo HIV, sem dúvida uma combinação catastrófica. Tudo isto se reflete em nosso cotidiano em situações que vão do trágico ao cômico: não podemos ver nada à venda nas ruas que queremos comprar, não importa se usualmente consumimos o produto ou não, o importante é comprar, uma paranóia evidente em cada expatriado que chega por aqui. Apesar da recente melhora do nível de segurança, nosso cotidiano ainda é muito marcado por uma rotina que vai do trabalho à nossa casa, porque não há muito o que fazer em termos recreativos na cidade.

Qual é o problema mais recorrente entre pacientes?
Silva – Como em todo país com recursos limitados, tuberculose é a doença oportunista mais prevalente entre os soropositivos. A pobreza em si complica ainda mais a vida dos infectados porque é um fator aditivo na imunodepressão (escassez de alimentos, desnutrição).

As diferenças culturais influenciam o seu trabalho?
Silva – Acredito que ser brasileiro ajuda a assimilar culturas mundo à fora porque somos resultados de uma fusão de culturas distintas. Nada nos parece estranho porque encontramos influências diversas em nosso país. É uma sensação constante de “déjà vu”.

Como funciona o apoio dado por MSF ao Ministério da Saúde ?
Silva – O Ministério da Saúde (MS) literalmente entrou em colapso. O país que antes era conhecido regionalmente como uma nação desenvolvida para padrões locais, agora enfrenta carências nunca antes imaginadas. Tentamos nos integrar o máximo possível, mas tem sido um trabalho árduo devido à falta de recursos humanos atual no MS, além da falta de materiais médico-hospitalares.

Você consegue estabelecer algum vínculo com os seus pacientes?
Silva – Sim, devido ao bom nível educacional que por anos vigorou neste pais, é fácil estabelecer comunicação em inglês e os zimbábuanos são muito simpáticos e abertos.

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