Médica pernambucana faz palestra sobre missão na Libéria

Neste sábado, às 15h, Lúcia Rodrigues fala sobre seu trabalho na exposição Médicos Sem Fronteiras no Mundo, em Recife

Após 14 anos de guerra civil, a Libéria passa hoje por um processo de reconstrução e busca de estabilidade. Muitos liberianos, no entanto, ainda enfrentam problemas como a pobreza e a falta de um sistema de saúde adequado. Para amenizar a situação, Médicos Sem Fronteiras (MSF) oferece cuidados de saúde à população desde 1990.

Durante seis meses e meio, a equipe de MSF contou com o trabalho da pediatra pernambucana Lúcia Helena Guimarães Rodrigues. Neste sábado, ela fala sobre sua experiência na Libéria às 15h no estande da exposição “Médicos Sem Fronteiras no Mundo”, no Shopping Guararapes, em Recife. Abaixo, um pouco do que ela viveu no projeto.

Como era o projeto no qual você trabalhou na Libéria?
Lúcia Rodrigues – O projeto englobava duas clínicas e um hospital. Nas clínicas eram realizados atendimentos médicos para adultos, crianças e gestantes, incluindo assistência ao parto. No hospital, atendíamos crianças de zero a 15 anos e havia cerca de 200 leitos para internamento, divididos em vários setores: emergência, UTI, neonatologia, desnutrição, tuberculose e pediatria geral. Além dos ambulatórios para atendimento externo dos casos de HIV, tuberculose e vítimas de violência sexual.

Como era a sua rotina de trabalho?
Lúcia – O dia no hospital começava às 8h, com uma reunião clínico-administrativa com as equipes médicas da noite e do dia para a passagem do plantão. Em seguida, eu participava da visita clínica dos pacientes da UTI e neonatologia até cerca das 13h ou 14h, dependendo da gravidade e do número de pacientes. Depois da pausa para o almoço, que fazíamos no escritório de MSF em frente ao hospital, eu retornava para o hospital para reavaliar os pacientes mais críticos. Duas ou três vezes por semana fazíamos formação clínica com as equipes nacionais. O dia de trabalho acabava entre 18h e 19h. À noite e nos fins de semana, fazíamos plantão de acordo com a escala mensal entre os expatriados.

Quantos atendimentos eram feitos por semana?
Lúcia – Não sei dizer o número de atendimento semanal, pois além dos hospitalizados, havia muitos pacientes que vinham para atendimento e retornavam pra casa no mesmo dia. A taxa de ocupação dos leitos era uma média de 130%, ou seja, a maior parte do tempo havia mais de uma criança por leito. Chegamos ao pico de 300 pacientes (distribuídos em 200 leitos). No ambulatório de violência sexual, a média era de 50 novas vítimas por mês.

Algum caso te marcou em especial?
Lúcia – Vários! Como eu trabalhava a maior parte do tempo na UTI, perdíamos muitos pacientes críticos, mas as vitórias tinham um gosto especial. Lembro-me bem de um menininho de dois anos, John Flomo, que passou cerca de oito dias em coma na UTI e só depois de mais de um mês no hospital, muito lentamente, foi melhorando. Recomeçou a sentar sozinho, a ficar de pé e a sorrir.Ele e a mãe, que nunca perdeu as esperanças!

Quais eram os principais desafios no projeto?
Lúcia – A gravidade dos casos (principalmente malária, a primeira causa de óbito nas nossas estatísticas), a superlotação do hospital (recebíamos pacientes de toda a capital e cidades vizinhas, sendo a nossa unidade responsável por 80% dos leitos pediátricos da capital liberiana) e a dificuldade de referência para os outros hospitais da região (às vezes nossos pacientes aguardavam seis meses para serem submetidos a uma cirurgia).

Quantas pessoas trabalhavam na sua equipe?
Lúcia – Éramos 18 expatriados, entre médicos, enfermeiras, parteira, psicóloga, laboratorista, logísticos, administradora, contadora, coordenador médico e chefe de missão. Os funcionários nacionais chegavam a 300, distribuídos entre o hospital, as clínicas e o escritório.

Você pôde trabalhar com outros brasileiros. Como foi?
Lúcia – Sim, durante uma semana fomos quatro brasileiros trabalhando no Island Hospital: Paulo (Reis), Cristiane (Tsuboi), Thomaz (Bittencourt) e eu, pois eu e Paulo, coincidentemente fomos substituídos pelos dois outros, médicos paulistas. Fizemos até uma feijoada com caipirinha pra toda a equipe no último fim de semana, para a acolhida de uns e a despedida de outros.

Qual sua próxima missão?
Lúcia – Depois da Libéria, ainda passei sete semanas num projeto de urgência nutricional no Burundi, prestando assistência médico-nutricional a crianças desnutridas graves no interior do país. No momento, estou de volta a Recife e pretendo ficar aqui por algum tempo. Quem sabe o ano que vem…

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