Mar Mediterrâneo: “Assim que eu entrei no barco, achei que fosse morrer”

O palestino Zachariah conta o caos vivido na Líbia e as dificuldades para chegar à Europa

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Meus pais foram forçados a sair da Palestina em 1947 e ir para Syr, no Líbano. Eu fugi dali para Benghazi, na Líbia, em 1994. Trabalhei como carpinteiro por mais de 20 anos. Mas, agora, a Líbia está em más condições e eu também tenho alguns problemas físicos. Não consigo encontrar ajuda médica nem trabalhar mais.

Antes, era muito bom na Líbia, mas agora há muitos problemas em Benghazi. Há muitas pessoas armadas e muitas milícias no país, que lutam umas contra as outras, e nós, pessoas simples, bengaleses, paquistaneses, palestinos, ganense e outros africanos, estamos presos no meio do conflito.

Eles vêm até você e te perguntam quanto você tem em dinheiro e levam tudo. Eles atiram em você, te queimam, te batem. Eles abusam do seu corpo, e de uma forma muito violenta. Se você tem uma filha, e eles a avistarem na estrada, e gostarem dela, eles vêm à noite e a estupram na sua frente. Há ladrões por toda parte – eles levaram meu carro, meu dinheiro, meus documentos –, mas não há nada que você possa fazer. Não há policiamento, exército e nem regras. Ninguém pode te ajudar. O pior é nas ruas, especialmente à noite, a partir de 18 horas. Se você trabalha até tarde, cruza com várias pessoas ruins no caminho de volta para casa. Você nunca sabe o que eles vão fazer.

Há um ano, eu decidi levar minha família para a Europa. Mas, sendo palestinos, temos problemas de documentação e era impossível ir embora. Aqueles de nós que vieram, vieram desse jeito porque não têm outra opção. O restante da minha família ainda está em Benghazi, mas não havia dinheiro suficiente para tirar todos nós dali.

Assim que eu entrei no barco, achei que fosse morrer. Mas pensei: se o profeta decidir que eu vou morrer no mar, eu vou morrer no mar. Agora, eu quero ir para a Suécia ou para a Noruega.

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