Mandela se junta a MSF em prol da expansão do tratamento de Aids na África do Sul

Estima-se que 6 milhões de Sul-Africanos estejam contaminados pelo HIV. Apenas uma em cada mil pessoas que precisam de tratamento anti-retroviral na África do Sul o recebe através do sistema público.

“Hoje, na África do Sul, Nelson Mandela e Médicos Sem Fronteiras (MSF) anunciaram que unirão forças para criar um novo projeto de tratamento de Aids em Umtata – local onde nasceu Mandela.

Durante uma visita a uma das clínicas de Aids em Khayelitsha, Mandela expressou o seu apoio à iniciativa do tratamento, associado a programas de prevenção, para proteger as vidas de pessoas infectadas pelo HIV e frear o impacto do vírus.

“Nós criamos a impressão de que não nos importamos com jovens que estão doentes e morrendo… Isso é uma guerra. Significa que todos nós devemos ficar de pé e mobilizar a comunidade”, disse Mandela, após ouvir beneficiários do programa.

“Faça uma declaração de como eu posso ajudar financeiramente”, continuou, após vestir uma camiseta “HIV- positivo”, que lhe foi oferecida por Mathew Damane, uma das primeiras pessoas a receber tratamento anti-retroviral em Khayelitsha.

Relembrando a luta de Mandela durante a era do apartheid, Dr. Fareed Abdullah, diretor dos programas de HIV/Aids na província Western Cape disse “nós estamos tão determinados quanto você estava quando declarou em 1961 que não iria se render. Não há inspiração maior do que receber a sua visita hoje”.

Mais tarde, Abdullah disse: “O programa de Aids em Khayelitsha tem demonstrado, por mais de um ano, que é possível tratar efetivamente pessoas com Aids em locais pobres. O programa demonstra também que introduzir tratamento anti-retroviral na luta contra a Aids muda radicalmente a perspectiva de uma comunidade sobre a doença. O desafio agora é expandir o tratamento para atingir as 600 mil pessoas estimadas que precisam desesperadamente dele na África do Sul”.

Estima-se que 6 milhões de sul-africanos estejam infectados pelo HIV. Apenas uma em cada mil pessoas que precisam hoje de tratamento anti-retroviral na África do Sul o recebe através do sistema público – a metade deles nas clínicas em Khayelitsha.

A Fundação Nelson Mandela sediou recentemente um encontro de 26 iniciativas ao redor do país prontas para dar início ao tratamento anti-retroviral. Ficou claro, a partir das discussões, que existe um compromisso com relação ao tratamento, mas falta apoio político e financiamento.

O programa de Aids de Khayelitsha, uma comunidade fora da Cidade do Cabo com uma taxa de 20% de infecção por HIV, oferece tratamento a mais de 3 mil pessoas. 300 beneficiários recebem tratamento através de versões genéricas de anti-retrovirais.

“A terapia anti-retroviral salvou a minha vida. Eu costumava ficar doente, mas agora eu estou saudável e bastante ativo educando outras pessoas sobre essa doença”, diz Babalwa Tembani, de 20 anos, beneficiária do programa de MSF que explicou ter sido infectada pelo HIV após ser estuprada por um tio, aos 14 anos. “Mas eu não deveria ser um dos poucos que têm sorte. Há pessoas demais morrendo, apesar de sabermos que existem medicamentos que podem ajudá-las.”

As clínicas de Khayelitsha são o resultado de uma parceria entre MSF, a administração provincial de Western Cape e a Treatment Action Campaign (TAC). Estabelecido em 2000, é o primeiro programa no país a oferecer tratamento anti-retroviral no serviço de saúde primária. Beneficiários já demonstraram melhoras significativas.

Sucesso em áreas pobres

90% dos beneficiários de tratamento anti-retroviral tiveram carga viral não detectável após 3 meses, uma característica que permaneceu constante pelos 3 meses seguintes. Pacientes sob tratamento há 6 meses mostraram um ganho de peso médio de 8,8 quilos. Desde a introdução de anti-retrovirais, o aconselhamento voluntário e a testagem na comunidade também aumentaram de mil por ano em 1998 para mais de 12 mil em 2002.

Através do uso de versões genéricas de medicamentos anti-retrovirais, MSF tem sido capaz de oferecer terapia tripla por cerca de 10 Rands (US$ 1) por paciente por dia, 1/4 do preço do mesmo medicamento comprado em uma farmácia particular na África do Sul. No entanto, o custo do anti-retroviral ainda poderia ser significativamente reduzido a, pelo menos, 2 Rands.

“A crise da Aids na África é desesperadora”, disse Dr. Eric Goemaere, Chefe de Missão de MSF na África do Sul. “As pessoas infectadas por HIV estão fartas das promessas da comunidade internacional e de ouvir falar apenas de projetos piloto.

“A hora de expandir o tratamento já chegou há muito tempo. Isso só será possível com ação política nos níveis nacional e internacional. Com a Fundação Nelson Mandela, esperamos criar outro projeto na África do Sul que prolongue as vidas das pessoas e sirva de caminho para a expansão do tratamento aqui e em outros países.”

Compartilhar
Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin
Share on whatsapp
Share on print