Malária na África: 70% dos países não tratam adequadamente seus pacientes, afirma MSF

Coquetel à base de artemisinina é capaz de curar a doença em poucos dias, mas não vem sendo adotado por falta de recursos e vontade política – apesar de recomendado pela OMS. Dois novos tratamentos chegam ao mercado ainda este ano

Um número muito pequeno de pacientes na África está recebendo tratamento adequado contra a malária, afirma a organização humanitária internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF). Para marcar o Dia de Combate à Malária na África (terça-feira, dia 25 de abril), MSF realizou um levantamento que revela que mais de 70% dos países não vêm adotando, ou adotam de maneira muito irregular, a chamada terapia ACT (tratamentos combinados baseados na artemisinina, ou TCA em português). Em 2001, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendou a terapia como o melhor tratamento contra a malária, capaz de curar um paciente em poucos dias. O Fundo Global de Combate a Aids, Tuberculose e Malária decidiu financiá-lo. Cerca de 40 países ou territórios africanos se comprometeram a disponibilizar o tratamento. Mas, quase cinco anos depois, ele ainda não está disponível à população africana.

As razões para a falta de acesso aos medicamentos são muitas. Além das estruturas precárias dos sistemas de saúde locais, que não possuem profissionais devidamente capacitados nem kits para diagnosticar a malária com eficácia, os países da África não têm vontade política nem recursos para implantar programas de tratamento. Outros obstáculos são a quantidade pequena de medicamentos disponíveis no mercado e o desconhecimento de médicos e população sobre os benefícios do ACT. Tudo isso faz com que a malária, uma doença curável, continue matando uma criança a cada 30 segundos na África. O número de infectados atualmente é de entre 300 e 500 milhões de pessoas por ano e o de mortes, entre 1 e 2 milhões.

"O programa de malária da OMS, o movimento Roll Back Malaria e a Iniciativa de Combate à Malária do governo norte-americano não têm dado apoio suficiente aos países onde a malária é endêmica. Isso fez com que a distribuição de ACT continuasse muito pequena. Além disso, o Fundo Global, uma agência exclusivamente de financiamento, não conseguiu ajudar os países a implementar os protocolos de tratamento por meio de ACT", diz Prudence Hamade, coordenadora do grupo de trabalho de malária de MSF. Dos US$ 208 milhões disponibilizados pelo fundo desde 2002 para financiar a terapia, somente 30% foram aplicados em projetos.

"Sem a adoção de medidas mais eficazes para que esses medicamentos cheguem às populações, as decisões governamentais ficam apenas no plano virtual, perdendo o significado para quem realmente pode se beneficiar delas", diz Karim Laouabdia, diretor da Campanha de Acesso a Medicamentos Essenciais de MSF. "Continuar dando cloroquina é a mesma coisa que dar um pacote de açúcar a pacientes com malária. Em termos médicos e éticos, é errado", afirma.

A artemisinina

A artemisinina é extraída a partir de uma planta chinesa e, se combinada a outros medicamentos, é muito mais eficaz no combate à malária. Na África do Sul, onde o ACT é amplamente utilizado, o número de mortes pela doença diminuiu de 41 mil para 9 mil por ano e o número de internações de vítimas da malária foi reduzido em 82%.

Já na Guiné, onde MSF estima que apenas 1% dos pacientes de malária recebe ACT, a doença é a principal causa de morte. Na Zâmbia, MSF estima que apenas 11% dos infectados recebam ACT. A situação, segundo equipes da organização, também é grave em países como Sudão, Malawi, Quênia, Costa do Marfim e Serra Leoa.

Malária e Brasil

A malária é uma das doenças-chave da Iniciativa de Medicamentos para Doenças Negligenciadas (DNDi, na sigla em inglês), formada por sete organizações mundiais – incluindo MSF e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), atuantes no Brasil, e o Instituto Pasteur (França). Até o fim de 2006, a DNDi vai lançar dois medicamentos à base de artemisinina que irão facilitar o tratamento da doença. O artesunato-mefloquina foi desenvolvido aqui no Brasil, em parceria com a Farmanguinhos, e vai atender à demanda de pacientes na América Latina e no sudeste asiático, onde a malária possui características semelhantes. E o artesunato-amodiaquina atenderá a demanda de pacientes africanos.

Aqui no Brasil, o número de casos de malária subiu de 450 mil em 2004 para 600 mil em 2005.

Em 2005, MSF tratou cerca de 1.8 milhão de pacientes de malária em 40 países na África, Ásia e América Latina. MSF vem defendendo o uso de ACT desde 2001 e utiliza o tratamento com freqüência nos seus projetos em todo o mundo. Malária é uma doença parasitária que é disseminada por mosquitos e mata mais de 1 milhão de pessoas por ano, a maioria na África.

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