Guerra na Ucrânia: seis formas pelas quais MSF está ajudando a salvar vidas

“A gravidade, a escala e a velocidade da guerra na Ucrânia criaram simplesmente enormes necessidades e sofrimento”, diz a Dra. Joanne Liu, ex-presidente internacional de MSF e membro da equipe de resposta a emergências que acabou de voltar da Ucrânia. “É claro que o sistema médico ucraniano é robusto e sua capacidade de enfrentar o desafio é impressionante”.

“A melhor coisa que podemos fazer é ouvir atentamente e entender as áreas específicas onde nosso suporte pode realmente agregar. Identificamos diversas áreas-chave em que nosso apoio médico-humanitário pode ser real, prático e, às vezes, diretamente benéfico”.

– Dra. Joanne Liu, membro da equipe de resposta à guerra na Ucrânia.

1. Suprimentos médicos de emergência

Desde o início da guerra, havia uma clara necessidade de levar os suprimentos médicos certos aos hospitais certos o mais rápido possível. Tudo começou com chamadas urgentes recebidas de equipes de hospitais próximos à linha de frente de combates e bombardeios, que precisavam principalmente de medicamentos e suprimentos cirúrgicos, de trauma e para tratamento de feridas. Recentemente, isso se ampliou para incluir medicamentos para doenças como asma, hipertensão, HIV, hipotireoidismo e tuberculose.

MSF abriu um grande armazém de distribuição na cidade ocidental de Lviv e, posteriormente, abriu outros armazéns em outros locais na Ucrânia.

Até o momento, MSF levou mais de 225 toneladas métricas de suprimentos médicos e de assistência para a Ucrânia, grande parte já despachada para hospitais e centros de saúde ou para o Ministério da Saúde, para posterior transporte para os lugares onde é mais necessário. Movimentar suprimentos em um país em guerra não é fácil, mas nossas equipes descobriram que as ferrovias ucranianas são fundamentais.

Também trouxemos cinco contêineres de transporte com cobertores térmicos de lã, sacos de dormir, roupas quentes e itens de higiene (como pasta de dentes, escovas de dentes, sabão e toalhas) e os entregamos às organizações da sociedade civil local em Lviv para distribuir às pessoas que chegam à cidade de outros lugares da Ucrânia ou que se dirigem às fronteiras do país. Realizamos distribuições adicionais de itens essenciais de socorro em Kiev, Kharkiv e outros locais.

2. Encaminhamentos por trens-médicos

No dia 1º de abril, MSF realizou seu primeiro encaminhamento por trem-médico, levando nove pacientes feridos em Mariupol e/ou áreas próximas, partindo de hospitais em Zaporizhzhia para hospitais em Lviv. Eles foram transportados em um trem de dois vagões equipado como uma enfermaria hospitalar básica, com uma equipe de nove médicos de MSF a bordo.

Três outros encaminhamentos por meio deste trem foram de hospitais próximos às linhas de frente da guerra nas regiões de Donetsk e Luhansk. Até o momento, 114 pacientes foram evacuados clinicamente, junto a seus familiares. Novos encaminhamentos médicos estão previstos à medida que os pedidos urgentes dos hospitais da região leste continuam a crescer; uma composição maior e mais altamente equipada está sendo desenvolvida para ser utilizada.

3. Treinamento de atendimento para vítimas em massa e trauma

“Quando um hospital recebe muitos pacientes ao mesmo tempo, consideramos como um contexto de vítimas em massa – quando não há recursos suficientes e os pacientes têm muitas necessidades”, diz Barbara Maccagno, coordenadora-médica de emergência na Ucrânia. “Uma das formas mais eficazes de salvar o maior número possível de vidas é ter sistemas para realizar rapidamente a triagem dos pacientes mais graves que precisam ser tratados imediatamente, e os pacientes que são menos graves e que podem esperar um pouco mais. Ela pode ser aprendida com bastante facilidade, mas precisa ser praticada, pois é diferente da maneira como as internações hospitalares costumam funcionar”.

Realizamos esses treinamentos de atendimento de vítimas em massa em hospitais em Berehove, Bila Tserkva, Dnipro, Kharkiv, Kyiv, Lviv, Mukachevo, Odesa, Orikhiv, Vinnytsia, Zaporizhzhia e em hospitais em Zhytomyr e arredores. Algumas das equipes de treinamento de MSF incluíram cirurgiões experientes em traumas de guerra, que ofereceram treinamento prático adicional em técnicas cirúrgicas para extração de balas e estilhaços e limpeza de ferimentos.

4. Necessidades menos visíveis

Antes do início da guerra, estávamos tratando pacientes com tuberculose em Zhytomyr; continuaremos a procurar maneiras de apoiá-los em seu tratamento, embora isso seja um desafio quando as pessoas estão em movimento. Em Kyiv, MSF estabeleceu uma linha telefônica direta para pessoas com doenças não transmissíveis, que pode ser usada por indivíduos idosos e vulneráveis para receber seus medicamentos em casa. Em Kharkiv, estamos administrando clínicas móveis para pessoas que se abrigam em estações de metrô, muitas das quais estão sofrendo estresse e trauma psicológico devido à guerra.

Em Chernihiv, fornecemos uma doação substancial de suprimentos médicos para um dos hospitais da cidade. Também criamos clínicas móveis em vilarejos vizinhos e na cidade para atender às necessidades de saúde.

Nossas equipes também estão começando a fornecer apoio à saúde mental para pessoas que fugiram de áreas de combates mais ativos e se reuniram em Kyiv, Vinnytsia e Berehove ou estão transitando por Zaporizhzhia. Dentro e ao redor de Dnipro, estamos fornecendo itens de assistência essenciais para pessoas que conseguiram escapar de Mariupol e da região de Donetsk.

5. Áreas com conflito ativo

As maiores necessidades estão, sem dúvida, em lugares com conflitos ativos, que nossas equipes não conseguem alcançar. Civis presos em cidades sitiadas precisam de passagem segura para locais de sua escolha. O abastecimento humanitário deve ser autorizado a chegar a áreas onde os civis estão em extrema necessidade. Os civis devem ser protegidos sob as regras da guerra e do direito humanitário internacional em todos os lugares e em todos os momentos.

6. Nas fronteiras da Ucrânia

Mais de quatro milhões de refugiados fugiram da Ucrânia para países vizinhos, de acordo com o Agência da ONU para Refugiados (ACNUR). Na maioria desses países, existe uma enorme solidariedade para acolher e prestar assistência aos ucranianos, e não pretendemos duplicar essas atividades. Nos países que fazem fronteira com a Ucrânia, nossas equipes estão administrando clínicas que prestam assistência médica e apoio à saúde mental nas fronteiras e, em alguns casos, em ambos os lados da fronteira; fizemos doações de suprimentos médicos; e estamos apoiando grupos locais da sociedade civil, por exemplo, treinando-os em atendimento psicológico de emergência.

Embora seja gratificante testemunhar a solidariedade demonstrada aos refugiados ucranianos por indivíduos, notamos com angústia que os governos dos Estados-Membros da União Europeia (UE) continuam a demonstrar abordagens fortemente repressivas para a passagem segura para refugiados de outras nacionalidades que chegam à Europa. Apelamos para que a passagem segura e o acolhimento digno sejam ampliados a todas as pessoas que chegam à Europa como migrantes, solicitantes de asilo ou refugiados, onde quer que cheguem e por qualquer meio.