Governos devem responder à grave escassez do acesso ao tratamento para HIV na África Central e Ocidental durante reunião de alto nível na ONU

A proposta de levar o tratamento para o HIV a 30 milhões de pessoas que vivem com o vírus até 2020 é crucial, mas é preciso ampliar urgentemente o acesso ao tratamento em áreas de baixa cobertura

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Governos devem responder à grave escassez do acesso ao tratamento para HIV na África Central e Ocidental durante reunião de alto nível na ONU

Próximo da Reunião de Alto Nível da Assembleia Geral da ONU sobre o fim da Aids, que acontecerá nesta semana (de 8 a 10 de junho), a organização humanitária internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF) elogiou a postura dos governos ao deliberarem sobre o objetivo fundamental de garantir o acesso de 30 milhões de pessoas ao tratamento vital para o HIV até 2020. Por outro lado, MSF advertiu sobre a necessidade de acelerar a ampliação do tratamento para pessoas em países onde medicamentos essenciais são acessíveis a menos de um terço daqueles em necessidade. Isso compreende a maioria dos 25 países da África Central e Ocidental, onde, apesar da meta global “90-90-90” do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids) para conter a epidemia de HIV até 2020*, mais de 4,5 milhões das 6,5 milhões de pessoas que vivem com HIV na região continuam sem tratamento.

“Os Estados-membros da ONU precisam usar essa oportunidade para reafirmar seu compromisso com as pessoas vivendo com HIV em regiões do mundo que têm sido substancialmente negligenciadas apesar dos enormes avanços globais da última década”, disse a Dra. Cecilia Ferreyra, consultora médica de MSF para HIV. “Embora o número de pessoas sob tratamento vital para HIV no mundo tenha dobrado ao longo dos últimos cinco anos para quase 17 milhões, aquelas que vivem na África Central e Ocidental estão de fora dessa estimativa e precisam urgentemente de tratamento.”

Se o comprometimento em alcançar a meta “90-90-90” for verdadeiro, os Estados-membros da ONU devem responder às lacunas quase que mortais da falta de tratamento, triplicando o número de pessoas que devem começar o tratamento antirretroviral (Tarv) nos próximos três anos, e implementar planos de aceleração para ajudar as áreas de baixa cobertura a ampliar significativamente o número de pessoas recebendo tratamento. Os governos doadores devem financiar as mudanças necessárias, inclusive fazer fortes reivindicações na conferência para o replanejamento do Fundo Global deste ano. Os países também devem implementar as diretrizes da Organização Mundial da Saúde (OMS) que impõem a oferta imediata de tratamento para as pessoas que vivem com HIV, independentemente do quão doente elas estejam. Isso simplificaria a iniciação das pessoas no tratamento em locais com sistemas de saúde precários, manteria as pessoas saudáveis, e reduziria a transmissão do vírus.

O foco restrito da comunidade internacional no apoio a países com altas taxas de HIV e a locais com alta incidência do vírus na África subsaariana elevou a negligência imputada às populações da África Central e Ocidental, regiões de mais baixa prevalência que registram uma em cada cinco das novas infecções mundiais por HIV; mais de uma em cada quatro mortes relacionadas com à Aids; e quase metade de todas as infecções pelo vírus que acometem crianças. Entre as crianças, apenas uma em cada 10 recebem o Tarv, algo fundamental para assegurar que vivam por mais tempo e levem vidas saudáveis.

“Na África Central e Ocidental, três em cada quatro pessoas em necessidade não têm acesso a cuidados para o HIV – isso corresponde a mais de 4,5 milhões das 15 milhões de pessoas no mundo que deveriam ter sido iniciadas no tratamento até 2020”, disse a Dra. Cecilia Ferreyra. “Precisamos acelerar a ampliação da oferta do Tarv em áreas de baixa cobertura para evitar sofrimento, mortes e novas infecções desnecessários.”

De acordo com o relatório de MSF “Out of Focus: How millions of people in West and Central Africa are being left out of the global HIV response” (“Fora do foco: como milhões de pessoas na África Central e Ocidental estão sendo deixadas de fora da resposta global ao HIV”, na tradução livre para o português), as falhas nos serviços, a falta de profissionais de saúde treinados e da descentralização de tarefas, o estigma, a escassez nos estoques, e a falta de recursos das pessoas para arcar com despesas de saúde são alguns dos fatores que impedem aqueles que vivem com HIV de obter tratamento nessas regiões, e tornam a luta contra o HIV uma batalha penosa.

“Essa aceleração da ampliação da oferta do Tarv é possível na África Central e Ocidental. Você começa com a implementação das recomendações da OMS acerca da oferta de tratamento imediato para as pessoas que vivem com HIV, para que elas não mais sejam rejeitadas por não estarem suficientemente doentes e, por isso, qualificadas para receber tratamento sob critérios ultrapassados. Além disso, você encaixa o tratamento na vida das pessoas por meio de estratégias melhor adaptadas para levar cuidados onde elas vivem, eliminando suas despesas”, disse o Dr. Mit Philips, consultor de políticas de saúde de MSF e principal autor do relatório “Fora do foco”.

Além das regiões África Central e Ocidental, MSF se preocupa com as pessoas que não recebem tratamento para HIV e tuberculose devido a seus deslocamentos, a conflitos ou a instabilidade em áreas cuja cobertura com o tratamento é precária.

*A meta 90-90-90 do Unaids visa garantir que até 2020: 90% de todas as pessoas que vivem com HIV saibam seu status; 90% das pessoas que vivem com HIV tenham iniciado o tratamento antirretroviral; e 90% das pessoas sob tratamento não tenham carga viral indetectável em sua corrente sanguínea (“supressão viral”).

MSF atua com HIV/Aids desde o fim dos anos 1990. Atualmente, a organização apoia o tratamento de mais de 200 mil pacientes em 19 países, principalmente na África.

O relatório completo está disponível em inglês.

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