Gaza: histórias de pacientes atendidas na maternidade do Hospital Al-Emirati

“Maha me chamou para conversar, ela precisava expressar a profunda dor que sentia. Sem essa guerra, ela não teria perdido seu filho”, relata profissional de MSF sobre uma das pacientes com quem conversou.

Por Pascale Coissard Rogeret

Meu nome é Pascale, estou atuando como coordenadora de emergência de MSF em Gaza desde 20 de dezembro de 2023. Esta semana, conversei com algumas de nossas pacientes na maternidade do Hospital Al-Emirati em Rafah. Nessa instalação apoiada por MSF, no sul da Faixa de Gaza, as mulheres recebem cuidados pós-parto. Além da exaustão do parto, elas precisam lidar com o estresse constante dos bombardeios, do deslocamento, das condições de vida em Rafah e da incerteza do que o futuro lhes reserva.

Agora sem casa, essas mulheres estão sobrevivendo em barracas de lonas de plástico que montaram com suas famílias, em uma cidade que está ganhando densidade a cada dia, devido ao crescente fluxo de refugiados que fogem dos ataques aéreos e dos conflitos em toda a Faixa de Gaza. Estamos no meio do inverno; os dias são frios e alguns são chuvosos.

As histórias de três dessas mulheres me tocaram particularmente:

Maha* é do norte de Gaza. Ela foi a um hospital quando sentiu que estava entrando em trabalho de parto, mas não pôde ser atendida porque todas as salas de parto estavam cheias. Ela já havia feito uma cesariana antes e sabia que algo não estava certo e que precisava ser internada. Mas, sem outra opção, ela teve que voltar para sua barraca.

Ela deu à luz nas latrinas mais próximas de sua tenda. Seu filho não resistiu.

Quando entrei em nossa instalação, Maha estava sentada em sua cama, após receber cuidados pós-parto, e me chamou para conversar. Ela precisava expressar a profunda dor que sentia e gritar sobre a injustiça que sofreu. Sem essa guerra, Maha não teria perdido seu filho.

Nour* teve uma linda menina. Após o parto, Nour estava feliz, mas cansada, meio sonolenta e um pouco pálida. Meus colegas lhe fizeram um exame de hemoglobina: ela precisava tomar suplementos de ferro e vitamina C. A sogra, que a estava acompanhando, me disse que sua família é de Jabalia, no norte da Faixa de Gaza. A casa e a rua onde viviam foram reduzidas a escombros. Perguntei qual seria o nome de sua bebê. Nour ainda não havia decidido quando a perguntei, mas sua sogra contou que gostaria que o nome da bebê fosse ‘Salam’ que, em árabe, significa ‘Paz’ – algo que nunca foi tão necessário.

Reham* também tinha acabado de dar à luz uma menina. As duas estão bem. Ela quer me mostrar o rosto da recém-nascida e me diz com um sorriso que seu nome é Amal, que significa “esperança”. Porque é ela que encoraja os palestinos, apesar dos horrores que estão vivendo desde a escalada dos conflitos em 7 de outubro de 2023 , a se levantar todas as manhãs. Esta é a última coisa que Reham quer perder.

*Os nomes das pacientes foram alterados para proteção.

Compartilhar
Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin
Share on whatsapp
Share on print