Gaza está sendo asfixiada pelas forças israelenses

Permissão para entrada de ajuda humanitária ínfima em Gaza serve como cortina de fumaça para simular o fim do cerco

Complexo hospitalar do Nasser foi atingido por um bombardeio israelense no dia 19 de maio, pela terceira vez em dois meses. ©MSF

Uma quantidade insuficiente de ajuda humanitária está recebendo permissão para entrar na Faixa de Gaza, servindo apenas como cortina de fumaça para simular o fim do cerco ao território. Na última semana, pelo menos 20 instalações médicas foram danificadas ou forçadas a encerrar suas atividades de forma parcial ou total, por causa do avanço das operações terrestres israelenses, do aumento dos bombardeios aéreos e das ordens de evacuação generalizadas.

A população em Gaza tem vivido em desespero por cuidados médicos e ajuda humanitária. As autoridades israelenses precisam interromper a asfixia deliberada do território e a aniquilação de seu sistema de saúde, que sustentam a campanha de limpeza étnica em curso.

“A decisão das autoridades israelenses de autorizar a entrada de uma quantidade ridiculamente inadequada de ajuda em Gaza, após meses de cerco total, demonstra a intenção de evitar a acusação de levar a população à fome, quando, na verdade, mal permitem a sobrevivência das pessoas”, diz Pascale Coissard, coordenadora de emergências de Médicos Sem Fronteiras (MSF) em Khan Younis, sul de Gaza. “Este plano é uma forma de instrumentalizar a ajuda, transformando-a em uma ferramenta para alcançar os objetivos militares das forças israelenses.”

Antes de outubro de 2023, cerca de 500 caminhões de ajuda humanitária entravam diariamente em Gaza, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU). Atualmente, apenas 100 caminhões por dia estão sendo autorizados — uma quantidade extremamente insuficiente diante da gravidade da situação.

Enquanto isso, as ordens de evacuação continuam a deslocar a população, e as forças israelenses mantêm intensos ataques às unidades de saúde.

No dia 19 de maio, entre as 6h e as 6h30, equipes de MSF relataram ter ouvido quase um bombardeio por minuto em Khan Younis. Um desses ataques atingiu o complexo hospitalar Nasser, a apenas cem metros da unidade de terapia intensiva e do setor de internação administrados por MSF. Esta é a terceira vez em dois meses que o complexo hospitalar Nasser é atingido, privando novamente a população de tratamento e cuidados médicos.

Para reduzir a exposição ao perigo, as equipes de MSF foram forçadas a fechar temporariamente o ambulatório e a sala de sedação para pacientes em cirurgia ou recuperação, além de suspender atividades de fisioterapia e de saúde mental — essenciais para pacientes com queimaduras, a maioria deles crianças.

Ataque ao estoque do Nasser pressiona ainda mais a situação dos suprimentos médicos em Gaza. ©MSF

O ataque desta segunda-feira também danificou gravemente o estoque de medicamentos do Ministério da Saúde dentro do Hospital Nasser, agravando a situação dos estoques médicos, que já estão criticamente baixos devido ao cerco a Gaza.

Como parte da expansão das operações terrestres, as forças israelenses emitiram ordens de evacuação em larga escala, limitando ainda mais o acesso da população aos cuidados médicos e dificultando a atuação de MSF. No dia 19 de maio, por exemplo, uma ordem de evacuação incluiu quase toda a parte leste de Khan Younis — perto do hospital Nasser — e forçou as pessoas a se deslocarem imediatamente para a região de Al Mawasi.

Segundo o site Management Cluster, mais de 138.900 pessoas foram deslocadas à força entre os dias 15 e 20 de maio deste ano. Os intensos bombardeios e as ordens de evacuação em Khan Younis forçaram MSF a manter apenas atividades vitais nas salas de emergência das clínicas de Al Attar e Al Mawasi. Desde segunda-feira, a clínica Al Hakker, em Deir Al Balah, também foi fechada. Antes disso, as equipes de MSF realizavam mais de 350 atendimentos por dia, incluindo cuidados pediátricos, pré-natais e pós-natais, primeiros socorros psicológicos e tratamento nutricional ambulatorial, entre outros serviços.

Em 15 de maio, as autoridades israelenses emitiram uma ordem de evacuação para a unidade de saúde básica Sheikh Radwan, na Cidade de Gaza, o que forçou o fechamento da instalação. Antes disso, com apoio de MSF, as equipes do Ministério da Saúde ofereciam no local cerca de 3 mil consultas por dia, em uma área com população estimada em 250 mil pessoas. Este era o último centro público de saúde básica totalmente funcional na região.

Segundo o Ministério da Saúde, após o cerco ao Hospital Indonésio, todos os hospitais públicos do norte de Gaza estão agora fora de operação. No hospital de campanha de MSF em Deir Al Balah, a capacidade de leitos atingiu 150% nos últimos dias, forçando a ampliação da equipe e o acréscimo de 20 leitos à estrutura original. De acordo com a ONU, atualmente existem cerca de mil leitos hospitalares funcionais em toda a Faixa de Gaza — antes da guerra, a capacidade era de 3.500.

Os ataques contra civis e unidades de saúde devem cessar imediatamente, e a ajuda precisa entrar em Gaza em quantidades suficientes e de forma que possa chegar a quem precisa. Os aliados de Israel devem exercer toda a sua pressão para que isso aconteça com máxima urgência. Cada dia perdido reforça a cumplicidade na aniquilação da população de Gaza.

 

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