Gaza: além do cessar-fogo, palestinos necessitam de evacuações médicas e ajuda humanitária urgente

“Pacientes não podem esperar que o sistema de saúde seja reconstruído – eles precisam de cuidados hoje”, diz Javid Abdelmoneim, presidente internacional de MSF

Hazem, de 8 anos (ao centro), caminha ao lado de sua mãe, Eman (à esquerda), e sua irmã, Deema (à direita), no corredor do hospital de cirurgia reconstrutiva de MSF em Amã, Jordânia, em 27 de agosto de 2024. Eles foram evacuados de Gaza. ©Moises Saman

Médicos Sem Fronteiras (MSF) está apelando aos governos de todo o mundo para que aumentem drástica e urgentemente as evacuações médicas de milhares de pacientes que não têm acesso aos cuidados de que necessitam em Gaza. Essas evacuações precisam ser acompanhadas por um esforço sustentado para manter o frágil cessar-fogo, que tem sido repetidamente violado, e garantir uma entrada massiva e irrestrita de ajuda humanitária na Faixa de Gaza.

Com as evacuações médicas de Gaza previstas para recomeçar em 22 de outubro, após uma suspensão desde 29 de setembro, MSF está pedindo aos governos de todo o mundo que salvem vidas aumentando de forma urgente e drástica esse mecanismo vital. As autoridades israelenses precisam permitir que os pacientes saiam para ter acesso ao tratamento de que precisam e garantir o direito de retorno a Gaza.

Os palestinos em Gaza estão sofrendo um genocídio. O sistema de saúde está em ruínas.”

Javid Abdelmoneim, presidente internacional de MSF

“As forças israelenses atacaram hospitais, reduzindo-os a escombros; mataram, detiveram e deslocaram à força equipes médicas; e bloquearam sistematicamente a entrada de suprimentos no território”, completa Javid Abdelmoneim, presidente internacional de MSF e médico de emergência que trabalhou em Gaza.

Em outubro de 2025, a Organização Mundial da Saúde (OMS) reportou que mais de 15.600 pessoas – uma em cada quatro delas criança – aguardavam evacuação médica de Gaza para salvar suas vidas. Entre os pacientes estão pessoas com lesões traumáticas complexas causadas por balas e bombas, ou com doenças crônicas e potencialmente fatais, como câncer e insuficiência renal.

Esses pacientes não podem esperar que o sistema de saúde seja reconstruído – eles precisam de cuidados urgentes agora”, alerta Abdelmoneim. “Entre julho de 2024 e agosto de 2025, pelo menos 740 pacientes, incluindo 137 crianças, morreram enquanto aguardavam evacuação médica. Essas mortes eram evitáveis – causadas não apenas pela destruição de hospitais, mas também pela inércia política.”

Apesar de milhares de pessoas estarem aguardando, não há informações até o momento de que o Brasil, assim como muitos outros países, tenha recebido algum paciente evacuado de Gaza.

Em uma carta aberta dirigida aos chefes de Estado, Abdelmoneim alerta que o cessar-fogo por si só não acabará com a catástrofe médica e humanitária que a população palestina está enfrentando.

Embora esteja começando a chegar mais ajuda humanitária na Faixa de Gaza, MSF pede que ela seja rapidamente ampliada — incluindo suprimentos médicos, combustível, água potável, alimentos e abrigo — para atender às imensas necessidades de 2 milhões de pessoas, muitas das quais retornando às ruínas de suas antigas casas, enquanto o inverno rapidamente se aproxima.

Em outubro de 2025, a OMS confirmou que apenas 14 dos 36 hospitais de Gaza estavam funcionando, mesmo que parcialmente. Nenhum deles está totalmente operacional após ataques sistemáticos e diretos de Israel, incluindo ofensivas terrestres, bombardeios de tanques e ataques aéreos.

De acordo com o Ministério da Saúde, 1.722 profissionais de saúde foram mortos. Apenas uma semana antes do cessar-fogo, dois colegas de MSF – um terapeuta ocupacional e um fisioterapeuta – foram mortos por um ataque aéreo israelense enquanto se dirigiam ao trabalho. No total, 15 profissionais de MSF foram mortos nos últimos dois anos. Um cirurgião ortopédico de MSF, Mohammed Obeid, está detido em condições precárias desde outubro de 2024. Apelamos urgentemente pela sua libertação. A perda de profissionais de saúde é devastadora para os pacientes em Gaza.

“Enquanto alguns países, como Egito, Catar, Emirados Árabes Unidos, Turquia e Jordânia, assumiram sua parte da responsabilidade, outros não fizeram quase nada”, diz Abdelmoneim. “Essa inação é indefensável.”

Para evidenciar a magnitude dessa inação, MSF publicou um “Ranking de Evacuação Médica”, comparando os esforços dos países para facilitar a evacuação de pacientes de Gaza. Os dados revelam um desequilíbrio gritante: enquanto alguns países aceitaram milhares de pacientes, muitos governos que têm capacidade para fazer mais aceitaram poucos ou nenhum.

 

MSF insta os governos a:

· Manter a pressão para garantir que o cessar-fogo seja mantido e acompanhado por uma entrada massiva de assistência humanitária desimpedida.

· Aumentar drástica e urgentemente o número de evacuações médicas de Gaza e usar sua influência para garantir que Israel não bloqueie as evacuações médicas.

· Priorizar as evacuações com base na urgência médica e na necessidade clínica, incluindo a aceitação de adultos e idosos, que representam 75% da lista de espera.

· Acelerar os processos administrativos e de visto para pacientes e cuidadores acompanhantes, a fim de reduzir atrasos que podem colocar vidas em risco.

· Permitir que os pacientes, especialmente crianças e adultos em vulnerabilidade, viajem com seus acompanhantes.

· Garantir o direito dos pacientes de permanecer no exterior, caso desejem, ao mesmo tempo em que se assegura o direito a um retorno seguro, digno e voluntário a Gaza.

· Proporcionar condições de vida dignas para os pacientes e seus acompanhantes, tratamento de acompanhamento e serviços de reabilitação enquanto estiverem no exterior. Os cuidados devem incluir o tão necessário apoio à saúde mental para todos os pacientes e seus cuidadores.

 

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