Etiópia: sensibilização comunitária durante chá com leite de camelo

Nossos supervisores de educação em saúde se reúnem com líderes comunitários para saber sobre suas necessidades durante a seca

Etiópia: sensibilização comunitária durante chá com leite de camelo

Chá preto com leite de camelo é o centro de qualquer reunião social somali. É por isso que Médicos Sem Fronteiras (MSF) estruturou recentemente as chamadas “equipes de chá”, geralmente compostas por um ou dois supervisores de educação em saúde e um agente de saúde pública. Eles se falam regularmente pelo telefone e se encontram para conversar durante uma xícara de chá com membros influentes da comunidade, a fim de avaliar suas necessidades de saúde. Em três meses, eles desenvolveram uma extensa rede de 50 contatos locais em 16 locais remotos.

Os dois supervisores de educação em saúde de MSF, Mubarak e Ridwan, são de Wardher. Eles se juntam ao enfermeiro ruandês Olivier e estão indo ao encontro de líderes comunitários em Kurtunle, um vilarejo a cerca de duas horas de carro da base em Wardher. Eles reuniram 15 anciãos da comunidade, que estão sentados em círculo debaixo de uma árvore, enquanto um jovem serve xícaras de chá com leite de camelo. É o final de março, hora da reunião mensal com os anciãos dos vilarejos para discutir a situação atual de saúde e de água, e outras preocupações prementes na comunidade, e coletar dados e informações para o nosso programa de detecção precoce de emergência.

A vida pastoril na Zona de Doolo, região somali, significa mover-se de um lugar para outro, procurando água e pasto para alimentar o gado, principalmente camelos e cabras. As chuvas sazonais se acumulam em lagoas chamadas “berkat”, fornecendo água para humanos e seus animais. As chuvas também trazem pastagens para alimentar o gado, que por sua vez fornece leite e carne, o alimento básico da região.

Engajamento da comunidade para detectar possíveis emergências

“Nossos contatos são líderes comunitários, curandeiros tradicionais ou parteiras, corretores de camelos, donos de casas de chá e barbeiros. Eles são bem informados e respeitados em sua comunidade”, diz Mubarak. “Ajuda muito falarmos a mesma língua e sermos daqui. Nós nos conhecemos. Compartilhamos o mesmo estilo de vida e enfrentamos os mesmos desafios em casa. Todos nós perdemos gado e membros da família em secas anteriores. É sobre diminuir o risco de doenças e melhorar nossas vidas. É por isso que as comunidades rapidamente aceitaram nossas atividades de sensibilização.”

Os anciãos da comunidade em Kurtunle apreciam as sessões. “Conhecemos MSF há muitos anos. Confiamos e aceitamos sua assistência, especialmente durante emergências”, explica Bashir, um líder comunitário. “A única coisa que vemos de outra forma é a chamada ajuda humanitária. Organizações vieram e deixaram algo visível e físico, um edifício ou uma estrutura. Existe um centro de saúde que deveria ter oito profissionais médicos. Só tem cinco. Eles são profissionais de extensão de saúde e não enfermeiros. Eles não são qualificados e treinados.”

“O centro deveria ter equipamentos de água e saneamento e medicamentos, mas não tem. Nem mesmo curativos e soluções para infecções da pele”, continua Bashir. “Quando minha filha ficou doente, a equipe não conseguiu administrar um soro intravenoso. O centro está lá para tratar mais de 20 mil pessoas. Você pode dizer que está quase lá, mas não pode dizer que está funcionando”.

 

Diminuindo o risco de surtos de doenças em comunidades nômades

Uma lição que MSF aprendeu com emergências anteriores foi estabelecer um sistema de vigilância e resposta mais dinâmico e baseado na comunidade para alcançar as comunidades pastoris mais vulneráveis e de difícil acesso, proporcionando-lhes uma rede de segurança em tempos de emergência. As reuniões da equipe de chá, discussões de grupos focais e sessões de promoção de saúde ajudam a melhorar nosso conhecimento sobre as necessidades de saúde das populações, comportamento de busca de saúde e padrões de movimentos pastoris. Isso nos permite adaptar locais de clínicas móveis e responder rapidamente e a tempo a qualquer potencial epidemia, mesmo nos lugares mais remotos.

“Com a escassez de água, infecções de pele e diarreia são comuns nos dias de hoje. Sempre que vemos um aumento nos casos de doença, organizamos discussões em grupos focais para os grupos afetados, como mães com filhos pequenos”, diz Mubarak. “Nós respeitamos sua compreensão e conhecimento e os integramos em nossas mensagens de saúde. Também distribuímos sachês de cloro e demonstramos como elas desinfetam e limpam a água. A maioria de nossas comunidades sofreu com infecções e má qualidade da água nos anos anteriores. A água suja pode causar doenças que podem até causar a morte de nossos filhos ”.

Após a reunião, Sanweyne, de 60 anos, líder comunitário em Kurtunle, guia a equipe de chá para os berkits em volta do vilarejo. Três estão completamente secos e vazios, e o quarto tem apenas algumas poças de água lamacenta sobrando.

“Mais de dez vezes nos últimos anos, nos foi prometido que um poço de água seria perfurado e consertado”, diz Sanweyne. “Não sabemos que crime a nossa comunidade cometeu que nos fez tão negligenciados aqui. Por que nossas necessidades são ignoradas?”

Na ausência de uma fonte confiável de água que não foi afetada pelo clima árido, todos os aspectos da vida em Kurtunle, como na maioria das comunidades na Zona Doolo, continuam a depender das principais chuvas sazonais esperadas em abril. 

“Estamos todos esperando por boas chuvas agora. Se chover, todo o ambiente seco rapidamente se tornará exuberante e verde, as estradas de terra se tornarão lamacentas e os berkits se encherão ”, conclui Mubarak em sua caminhada.

 

 

MSF trabalha na região somali da Etiópia desde os anos 1980, apoiando várias instalações de saúde do governo.

Na Zona de Doolo, MSF trabalhava no hospital Wardher e em centros de saúde em Danod e Lehel-Yucub desde 2007. MSF repassou as atividades nessas instalações para parceiros locais em 2018. Desde então, as atividades concentram-se nos cuidados de saúde primária abrangente por meio de clínicas móveis, envolvimento comunitário, vigilância e atividades de promoção de saúde para populações remotas, além de preparação para emergências e gestão de resposta a surtos de doenças. MSF organiza 17 clínicas móveis, que oferecem serviços médicos ambulatoriais e mantém mais de 30 locais de vigilância em áreas remotas para detecção precoce de surtos de doenças e resposta a tempo a emergências.

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