Etiópia: resposta emergencial ao surto de cólera

Após passar dois meses no país, o médico grego Yannos Orfanos fala sobre a estratégia de Médicos Sem Fronteiras para tentar controlar a doença

Quando o surto de cólera teve início na Etiópia?
Os primeiros casos foram relatados em abril de 2006 e MSF deu início imediatamente ao tratamento. Na região Amhara, a epidemia teve início em meados de setembro.

Como estava a saúde das pessoas que buscavam atendimento médico?
Quando os pacientes chegavam aos centros de saúde, estavam desidratados, totalmente fracos e com olhos fundos. Geralmente eles tinham de ser carregados em macas improvisadas um dia inteiro por seus parentes. Nós sabíamos que se tratava de um caso de cólera apenas pelos sintomas descritos. Diarréias e vômitos tinham desidratado literalmente esses pacientes. Antes de MSF chegar, as condições de saúde eram terríveis. Pessoas ficavam deitadas pelo chão, uma por cima da outra. Pacientes ficavam deitados em um pedaço de plástico no meio do nada, expostos ao sol e à chuva. Nós conseguimos dar a esses pacientes um tratamento de saúde decente.

Como MSF respondeu a essa situação?
Imediatamente após o registro dos primeiros casos em setembro, uma de nossas equipes já estava na Etiópia, realizando uma missão exploratória para analisar as necessidades. Na região de Amhara, em colaboração com as autoridades locais, nós estabelecemos Centro de Tratamento de Cólera. Para controlar e limitar a disseminação da doença, é essencial isolar pacientes, oferecer tratamento imediato para que continuem vivos e treinar a população para que sigam as regras básicas de higiene. Nós oferecemos diferentes tipos de soluções com cloro para limpar as mãos, itens de higiene pessoas, roupas e água.

Essas atividades tiveram resultados?
Nós conseguimos intervir a tempo, de maneira rápida o suficiente para controlar a disseminação da epidemia e reduzir a taxa de mortalidade que estava altíssima sem a presença de MSF. Em três semanas, nós estabelecemos 13 centros de tratamento de cólera na região de Amhara (Fogera, Libokemkem, Dembia, Gondar Zuria) e treinamos equipes locais sobre assuntos técnicos e médicos do tratamento de cólera. Em menos de dois meses, tratamos mais de dois mil pacientes em nossos centros. As pessoas chegavam quase inconscientes e saíam saudáveis dois ou três dias depois.

Quais foram as maiores dificuldades enfrentadas?
Em um país como a Etiópia, longas distâncias e condições metereológicas geralmente trabalham contra nosso esforço de chegar rapidamente aos lugares onde as pessoas mais precisam de nós. Tivemos de lidar com chuvas que inundaram as ruas e nos fizeram ficar presos na lama. Para chegar em Robit, um de nossos centros, tivemos que viajar uma hora de carro, continuar em barco por outra hora e depois andar por mais uma hora e meia levando todos os suprimentos nas mãos. No entanto, quando você finalmente chega ao local, você entende que MSF chega a lugares onde ninguém consegue.

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