Empresa de diagnóstico Cepheid cobra quatro vezes mais do que deveria pelos testes de COVID-19

Pesquisa de MSF mostra que preço de cada teste pode ser 5 dólares ao invés dos quase 20 dólares cobrados hoje

Empresa de diagnóstico Cepheid cobra quatro vezes mais do que deveria pelos testes de COVID-19

Por conta da necessidade global urgente por testes de diagnósticos rápidos e para lidar com a disseminação contínua da pandemia de COVID-19, Médicos Sem Fronteiras (MSF) apelou à corporação de diagnóstico dos EUA Cepheid para alocar seus testes de COVID-19 (Xpert Xpress SARS-COV2) de forma equitativa e acessível em todos os países.

MSF pediu à Cepheid que se abstenha de lucrar com a pandemia, reduzindo o preço de cada teste para 5 dólares, ao invés dos quase 20 dólares cobrados nos países mais pobres do mundo, a fim de garantir um acesso muito mais amplo ao teste. Pesquisas de MSF mostram que os testes podem ser vendidos com lucro por 5 dólares cada.

“Como os países estão lutando para lidar com casos suspeitos de COVID-19, é essencial ter um teste rápido e preciso para o gerenciamento em tempo real das pessoas afetadas pelo vírus, a fim de combater essa pandemia”, disse Greg Elder, coordenador médico da Campanha de Acesso de MSF. “Muitas vidas poderiam ser salvas se empresas como a Cepheid disponibilizassem seu teste com urgência e baixo custo em todos os países”.

No Brasil, o Ministério da Saúde anunciou, em março, um processo de negociação com a Cepheid para a compra de 600 mil cartuchos de testes, mas até o momento os cartuchos ainda não estão disponíveis nas unidades do sistema público de saúde. A necessidade de testes no Brasil permanece alta e a disponibilidade de uma opção de diagnóstico confiável, rápido e no local de atendimento é crucial, inclusive para atender às necessidades de populações difíceis de alcançar. Portanto, mais transparência sobre a capacidade de produção e entrega da Cepheid e os preços mais baixos são etapas importantes para garantir o acesso sustentável a essa ferramenta para a população brasileira.

A Cepheid estabeleceu o preço de cada teste em 19,80 dólares em 145 países em desenvolvimento, incluindo os países mais pobres do mundo, onde as pessoas vivem com menos de 2 dólares por dia. A Cepheid desenvolveu o cartucho Xpert Xpress SARS-CoV-2 com 3,7 milhões de dólares em financiamento público da Autoridade Biomédica Avançada de Pesquisa e Desenvolvimento (BARDA) do governo dos EUA. Além disso, MSF foi uma das organizações que analisou que a fabricação do teste de tuberculose (TB) da Cepheid – que é semelhante ao cartucho de COVID-19 – mostra que o custo dos produtos, incluindo materiais, fabricação, despesas gerais e outras despesas indiretas para cada cartucho é tão baixo quanto 3 dólares em volumes altos e com royalties relevantes e, portanto, cada teste pode ser vendido com lucro por 5 dólares.

A análise também demonstra que não houve diferença significativa entre cartuchos virais e bacterianos que justificariam variações substanciais de preços entre cartuchos para diferentes doenças. MSF pediu à Cepheid uma redução significativa de preço de seus cartuchos para não mais que 5 dólares, incluindo o teste de COVID-19.

“É indefensável para a Cepheid lucrar com esta pandemia”, disse Sharonann Lynch, consultora sênior de HIV e TB da campanha de acesso de MSF. “Não é hora de definir o preço com base no que o mercado pode suportar. Este teste crítico deve ser acessível a todas as pessoas e custar 5 dólares para enfrentarmos esta emergência de saúde global.”

Em março de 2020, a Cepheid recebeu uma autorização de emergência da Administração de Medicamentos e Alimentos dos EUA para o teste para detectar coronavírus, fornecendo resultados em menos de uma hora. O teste foi desenvolvido para uso nas plataformas de testes GeneXpert, que já estão sendo usadas em todo o mundo para o diagnóstico de tuberculose e outras doenças infecciosas. Existem cerca de 11 mil instrumentos GeneXpert em países de baixa e média renda.

A Organização Mundial da Saúde (OMS), juntamente com vários de seus parceiros, criou o ‘Consórcio de Diagnóstico’ em março de 2020 para apoiar o acesso rápido e equitativo aos produtos de saúde de COVID-19 e diagnósticos para países de baixa e média renda. O Consórcio garantiu compromissos de volume dos principais fabricantes de testes de diagnóstico (Abbott, Cepheid, Roche e Thermo Fisher) por um período de quatro meses. Segundo o Consórcio, os valores comprometidos pela Cepheid representavam apenas um terço de sua capacidade de fabricação de cartuchos COVID-19. Como resultado, menos da metade dos pedidos dos países para o Consórcio foram cumpridos. O consórcio e as empresas, incluindo a Cepheid, devem se reunir novamente para negociar volumes e preços de suprimentos para o próximo período de quatro meses (setembro-dezembro).

“Nesta pandemia violenta, os países mais ricos têm uma enorme vantagem sobre os outros na compra de ferramentas médicas de COVID-19 para usar primeiro”, disse Lynch. “Estamos profundamente preocupados que as pessoas em muitos países com recursos limitados sejam privadas desse teste de diagnóstico crítico. Precisamos ver a Cepheid tomar as medidas certas e garantir uma alocação justa e um suprimento acessível de seu teste COVID-19 ao Consórcio de Diagnóstico para ajudar países que, de outra forma, seriam deixados para trás ou deixados de fora de acordos bilaterais. Ninguém deve ter acesso negado com base em sua origem ou no que ganham.”

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As equipes de MSF estão atuando para responder à pandemia de COVID-19 em mais de 70 países, adaptando as atividades existentes ou abrindo projetos em novos países à medida que se tornam focos da doença. A resposta à COVID-19 de MSF concentra-se em três pilares principais: apoiar as autoridades de saúde na prestação de cuidados aos pacientes com COVID-19; proteger pessoas vulneráveis e em risco; e manter os serviços médicos essenciais funcionando.

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